segunda-feira, 2 de maio de 2011

Testes de tradução

Aparentemente, a grande ferramenta de selecção de tradutores por parte das editoras são os testes de tradução. Ao profissional que propõe os serviços, enviam em resposta excertos (normalmente os segmentos iniciais) de livros e esperam que o candidato "passe" na prova. Já fiz alguns - não aceno com os romances que já publiquei porque aceito as regras do jogo - e "passei" nuns e terei "chumbado" noutros.
Mas é um sistema ingrato, devo dizer.
O "examinando" tem de traduzir um segmento que na maior parte dos casos não está identificado e cuja verificção (do acerto da escolha das palavras e de numerosas designações) pode depender da leitura do texto de onde foi extirpado o segmento. Não tem, praticamente, tempo para pensar no que traduziu nem para reflectir sobre algumas opções.
E o resultado, às vezes, é estranho. Com mais de trinta livros traduzidos desde Março de 2007, dos quais vinte e cinco já publicados, já me deparei com duas respostas negativas cuja fundamentação nunca consegui compreender.
A experiência mais recente que tive foi, no entanto, radicalmente diferente.
A Porto Editora enviou-me textos para teste mais autónomos que não exigiam, por exemplo, o conhecimento completo de um livro. É uma opção que, não garantindo textos mais acessíveis, antes pelo contrário, é muito mais aduequada à avaliação da qualidade do tradutor.
E, significativamente, "passei".
(O resultado foi a proposta de tradução de uma história de amor de uma autora croata, Nataša Dragnić, na sua versão alemã, "Jeden Tage, Jede Stunde". Comecei agora e o livro é fascinante. E dele falarei na devida altura.) 

4 comentários:

Carmo V. Romão disse...

Depois de ter feito um desses testes para determinada editora,retirado de um livro que muito me agradou,recebi depois de muito tempo e alguma insistência a resposta «está bom, mas é preciso limar umas aresta». Estou a ler um livro da mesma editora cuja tradução nem está boa nem tem as arestas limadas.

Pedro Garcia Rosado disse...

Eu já pensei que pode haver editoras que, à custa de sucessivos testes de tradução, até conseguem ter livros integralmente traduzidos...

SG disse...

Exmo. Sr. Pedro Rosado,

Concordo plenamente com o que aqui disse. Por vezes, dá quase a sensação de que apenas é enviado o teste para "calar" os tradutores que enviam cartas/e-mails com CV a apresentar os seus serviços. Faço traduções e revisões desde 2001 (literatura desde 2005) e faço-o porque adoro a actividade. Mas por vezes fico extremamente triste por ver como a profissão é desvalorizada neste nosso país. Nunca lhe aconteceu dizerem-lhe, em conversa onde referisse ser tradutor, algo semelhante a "Eu até me safo bem no inglês, percebo perfeitamente, mas o problema são os verbos, porque se não fosse isso, até era fluente". Portanto, basta aprender be - was - been e mais uns quantos e... aí está mais um que sabe traduzir.
Relativamente a editoras, entristece-me ir a uma livraria, pegar num livro e, logo nas primeiras páginas, encontrar vários erros, sejam eles gramaticais, ortográficos, entre outros. E depois, por muito gosto que se tenha pela área, até se conseguir realmente iniciar uma parceria com uma editora é tarefa hercúlea (há meio ano que tento pedir testes ao grupo Leya, por exemplo, mas nem isso consigo!).
Os testes de tradução, muitas das vezes, são testes que falham pelas razões que mencionou.
Felizmente, parece, de facto, não ser assim em todo o lado, pois também eu recebi há pouquíssimo tempo testes por parte da Porto Editora (que me encontro agora a traduzir/rever). E foi uma lufada de ar fresco receber testes exigentes e que mostram que ainda há editoras que, de facto, se preocupam em ter gente competente a trabalhar consigo. Independentemente da avaliação que venham a atribuir aos testes, fico satisfeito por, pela primeira vez, me sentir verdadeira e justamente testado...

Pedro Garcia Rosado disse...

Tem razão, SG. Houve testes de tradução de que eu nunca cheguei a saber o "resultado". E depois vi outros "resultados" publicados em livro pelas mesmas editoras... e, pois, eram pobrezinhos. Mas também me deparei com procedimentos honestos. Como a Porto Editora, a que também alude, e, mais recen´temente, a Bertrand.