terça-feira, 3 de abril de 2012

A depreciação do cinema

No primeiro trimestre deste ano, a exibição cinematográfica em Portugal perdeu 18 por cento de espectadores e 13 por cento de receitas de bilheteira. Isto segundo dados publicados no "Correio da Manhã" de hoje (sem link), que foi ouvir o crítico de televisão Eduardo Cintra Torres e o produtor Paulo Branco numa tentativa modestíssima de perceber o descalabro.
Eduardo Cintra Torres refere-se ao predomínio da oferta por televisão (que, nos serviços fechados de "video on demand", está a canibalizar a exibição em sala e os clubes de vídeo) e à pirataria; Paulo Branco aponta a concentração de empresas e a uniformização da oferta em sala, sugerindo que a Autoridade da Concorrência (a ser eficaz, coisa que está longe de se saber se é) se deveria ocupar do assunto e defendendo a sua dama, que é o cinema "independente". É verdade. Mas não é só isso.
Algumas das falhas na compreensão deste problema estão à vista na abordagem do "Correio da Manhã": o modo como a pirataria é objectivamente estimulada pelas empresas fornecedoras de serviços de internet; a inglória morte dos clubes de vídeo; as desastradas orientações das empresas do sector.
E, sobretudo, o modo como o cinema é depreciado pela própria comunicação social (com destaque para o próprio "Correio da Manhã"), numa lógica de esvaziamento de armazéns com tudo em saldo e sem critério. Num país inculto como o nosso, se com um jornal e 1,90 € já se tem um filme e até é "legítimo", de que serve ir gastar mais dinheiro numa ida ao cinema?

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