domingo, 6 de janeiro de 2013

Reflexões sobre a literatura "policial" (10): a ofensiva do "nordic noir"

Talvez haja quem pense que o êxito dos "policiais" nórdicos em Portugal e noutros países tem motivo exclusivamente intrínsecos: as pessoas compram-nos e lêem-nos pelo seu mérito e recusariam os "thrillers" de outras nacionalidades (mesmo a portuguesa).
Penso que a explicação não passa por aqui, independentemente dos muitos méritos da literatura do Norte e do Leste gelado da Europa.
O que existe é um fenómeno - que também converge a ausência de alternativas por deliberada falta de comparência - mais simples, tão simples como uma ofensiva organizada por uma mente militar a partir de ensinamentos básicos: conquista-se o espaço porque está vago e ocupa-se.
Onde isso se pode ver de forma exemplar é no caso da televisão. Acompanhando o vigor da literatura "policial" nos seus países, as televisões nórdicas apressaram-se a adaptá-la ao pequeno ecrã. E fizeram-no não com a exuberância que a maior parte dos produtores americanos julgam ser essencial para o negócio mas com a "gravitas" britânica.
Para as televisões inglesas, onde houve um impressionante decréscimo da ficção de qualidade, foi um presente divino que os seus espectadores acarinharam e os êxitos das várias séries originais ´(e "Forbrydelsen/The Killing" deve ser a melhor de todas) abriram rapidamente o mercado britânico aos produtores do "nordic noir" televisivo.
Quanto ao mercado norte-americano, a conquista assentou nos habituais "remakes" que dispensam legendas, embora com resultados contraditórios (como o mostram a débil adaptação de "Forbrydelsen/The Killing" e o êxito relativo do "remake" "Millennium 1 - Os Homens Que Odeiam as Mulheres", de David Fincher, que não tem continuação assegurada).
Em reumo, a influência televisiva ajudou a solidificar a literatura, numa combinação de esforços objectivamente triunfante.
Os mercados gostaram, os editores e os produtores alargaram a oferta do produto.
A lição está bem à vista para quem a quiser perceber.

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