sábado, 23 de março de 2013

Entrevista ao "Sons, Letras e Imagens": "O realismo e a verosimilhança são absolutamente essenciais para o bom êxito deste género literário"

Entrevista a Carlos Eugénio Augusto no "Sons, Letras e Imagens", que pode ser lida integralmente aqui.

Um extracto:
 
(...) Nota-se que tens um conhecimento profundo das investigações policiais e do mundo que o rodeia. Sente-se que tal é condição essencial para se fazer um bom thriller policial?

O realismo e a verosimilhança são absolutamente essenciais para o bom êxito deste género literário. Por exemplo, em Portugal, é a PJ que tem por competência exclusiva a investigação de homicídios, com uma lógica organizacional específica e seria um disparate imaginar histórias que pudessem pôr os homicídios a serem investigados por outra polícia qualquer, mesmo que ficcionalmente criada para o efeito. Tenho procurado documentar-me em tudo o que escrevo, para não estar a inventar elementos irreais em histórias que devem manter-se solidamente ancoradas na realidade. É isso que me irrita, por exemplo, na série televisiva “CSI”. Não há nenhuma polícia no mundo que tenha os mesmos agentes a fazerem pesquisas forenses e a investigarem na rua, numa sucessão de casos todos eles banais. Isso destrói a base de credibilidade do tecido ficcional, por muito fogo-de-vista que tenha.

A trama de “Morte…” tem como base a corrupção, tráfico de influências e lavagem de dinheiro. Este pode ser o retrato de um “certo Portugal”?

Pode, seja porque a burocracia gera obstáculos irracionais a que muitas coisas racionais se façam, seja porque normas legais racionais impedem que se façam coisas absolutamente irracionais, e ilegais. E também acrescentarei alguma falta de ética, que é essencial para a democracia. Um presidente de um órgão autárquico não deveria ser o representante legal dos investidores num projecto imobiliário que pode gerar conflitos ou outras confusões com os seus próprios eleitores. E é isso que acontece na situação verídica em que me inspirei e também na própria história.

Um dos personagens do livro, o professor Alberto Morgado, tinha um blog que servia de órgão para divulgar suspeitas e alertar para os crimes que se passavam no negócio do futuro empreendimento turístico. Sabemos que o Pedro Garcia Rosado tem também um blog onde é muito interventivo. Terá sido ele o mote inspirador para o “O Novo Bordallo”?

Não, o blogue O das Caldas é que me inspirou. Este blogue anónimo ocupou-se com grandes pormenores de um investimento gigantesco previsto para uma zona de paisagem protegida que foi “desprotegida” por uma deliberação da Assembleia Municipal de Caldas da Rainha, que alterou o Plano Director Municipal, criando o Plano de Pormenor da Estrada Atlântica. Os investidores eram, e continuam a ser, homens sem rosto, o investimento previsto é de centenas de milhões de euros, há situações equívocas… e o bloguista morreu em Maio do ano passado. Foi um excelente, e intrigante, ponto de partida para uma história: a morte de um bloguista depois de denunciar um caso suspeito. Com o devido respeito pela memória do falecido. (...)

 




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