terça-feira, 27 de agosto de 2013

Os reis da estrada




Olhe bem para esta imagem. Olhe bem para ela, em especial, se conduzir um automóvel com frequência.
Comece por se concentrar no jipe da imagem (onde não vai nenhuma vida, pelo que se depreende do que está escrito) e na via à sua frente.
Há um traço descontínuo, que lhe permite utilizar parte da outra faixa (e que ele até parece já estar a pisar). Ao fundo, há vários veículos (desprovidos de vida no interior, também, pelos vistos) que vêm em sentido contrário. Consegue avaliar a distância? É natural que não, mas deverá estar em condições de avaliar se considera seguro fazer uma ultrapassagem em segurança (atendendo aos veículos que vêm na sua direcção) ou se é melhor não arriscar.
Por mim, nestas circunstâncias, eu não arriscaria.
À sua direita tem um ciclista que, pela imagem, pode estar nessa linha muito fina que separa a berma da faixa de rodagem.
O ciclista estende o braço, aumentando em cerca de 60 a 70 centímetros lateralmente o espaço que ocupa na estrada. E indica-lhe, pela imagem, que deve afastar-se metro e meio dele. Contando com o braço, será mais: dois metros e cem a dois metros e vinte.
Se vai no jipe e se considera arriscado fazer a ultrapassagem terá de esperar. Terá de esperar até não haver mais veículos a virem na sua direcção para poder passar à frente, pisando a outra faixa de rodagem se não tiver um traço contínuo. Se tiver um traço contínuo, terá de esperar. Que o ciclista encolha o braço, por exemplo. E, mesmo assim, não é garantido que possa avançar sem pisar o traço contínuo, se ele existir.
Ou seja, o ciclista está a impedir o seu veículo de prosseguir a marcha. Circulando ele o mais à direita possível, está a impor-lhe, a si, a sua própria prioridade.
É ele quem manda, é ele quem determina o movimento da estrada.
Não lhe cabe sequer facilitar a passagem do veículo de quatro rodas. Impede essa passagem, tranquilamente, como se dissesse: "Nem te aproximes, desenrasca-te, quem manda aqui sou eu..."
Aparentemente, isto decorre da nova lei que, na prática, transforma os ciclistas em reis da estrada.
Podem fazer o que quiserem, andar na estrada como muito bem lhes entender, mostrarem todo o desrespeito pelos outros que já mostram quando andam em bandos por aí (sozinhos são sempre mais cuidadosos e mais corteses...).
Quanto aos automobilistas, passam para segundo plano, bloqueados, obrigados na prática a ceder a prioridade em plena faixa de rodagem a veículos mais lentos e sem potência para andarem mais depressa e facilitarem o escoamento do trânsito.
Se a nova lei é isto, é uma lei completamente imbecil. E absolutamente desadequada.
E o que está escrito na imagem está mal escrito. Mas, como se costuma dizer, não é defeito. É feitio.

 
(O que já antes escrevi sobre este assunto suscitou numerosos comentários. Mantive algum diálogo com certos comentadores, com outros registei-lhes as opiniões, muito simplesmente, e as alarvidades de outros não viram a luz do dia. Neste caso, como a lei é a lei e está em vigor, o diálogo é inútil, pelo que não publicarei nenhum comentário. Bom dia, e boa sorte.)
 

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