domingo, 24 de novembro de 2013

O duplo homicídio quase perfeito... ligeiramente imperfeito

A morte de uma mulher em Telheiras, à porta de casa, e de um homem em Oeiras, no estacionamento de um centro comercial, ambos a tiro e com a mesma pistola e na mesma noite de Fevereiro de 2008, podia ter sido o homicídio perfeito - nada havia que ligasse as duas vítimas, nada havia de comum entre elas a não ser as balas, seria quase impossível encontrar o autor... se é que era a mesma pessoa. E a investigação, na prática, deve ter mesmo parado.
Foi quando o homicida agora se entregou, a braços com os remorsos e com a arma utilizada nos dois crimes, que o caso ficou explicado: matou num lado, foi matar no outro e, pelo caminho, ainda andou aos tiros na rua.
As duas vítimas estavam, como se costuma dizer, nos locais errados nos momentos errados. Foram aquelas como podiam ter sido outras.
Estas circunstâncias e a quase impossibilidade de os crimes serem explicados sem suspeito e sem a arma foram suficientemente interessantes para eu utilizar este duplo homicídio na "vida anterior" (às duas histórias) de duas personagens dos meus livros "Morte com Vista para o Mar" e "Morte na Arena". 
Na vida real, os homicídios raramente parecem depender das maquinações muito complexas que ainda fazem as delícias de alguns autores de "thrillers".
Acontecem num momento e os culpados, até então pessoas normalíssimas, acabam muitas vezes por se entregar. É menos aliciante mas... é a vida. E até pode ser um crime perfeito. Este duplo homicídio tê-lo-ia sido se o criminoso, um homem aparentemente normal com algumas perturbações psicológias não fosse, como dizer?, um homicida pouco convicto. 
Este tipo de crime não deixa, no entanto, de ser um dos domínios onde o "thriller" contemporâneo tem avançado: as motivações, a transformação individual, o que leva alguém a infringir o mandamento social, religioso e político que decreta o "não matarás", a passar essa "linha vermelha", porque é mesmo necessário para a sua sobrevivência, porque houve qualquer outra coisa que lhe limitou as inibições, porque é um risco que se justifica quando os fins podem ser tão aliciantes.
É uma vertente da ficção "policial" que hoje se vai afirmando cada vez mais, o que também só demonstra a vitalidade do género, tanto na literatura como na televisão e no cinema.



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