sexta-feira, 21 de março de 2014

Reflexões sobre a literatura "policial" (14): a viagem do leitor com o autor

O "policial" é um género literário conservador por excelência.
Ao contrário dos restantes géneros literários (e mesmo do fantástico onde, como escreveu Stephen King no seu primeiro ensaio, "Danse Macabre", o leitor espera ver restabelecida a ordem do universo no fim de cada história), as variantes são poucas. O tema central é sempre o mesmo e uma das mais velhas histórias da humanidade: A matou B e C descobre que foi A o homicida.
É também por isso que se pode dizer da literatura policial que ela é como uma viagem: o leitor quer ir do ponto de partida para o seu ponto de chegada numa estrada com algumas opções (desvios para descansar ou ver esta ou aquela paisagem, conhecer melhor esta povoação ou aquela, parar para comer, etc) mas sem grandes obstáculos.
Dessa viagem faz parte o diálogo intelectual com o autor e um jogo que, se for perfeito, incluirá pistas para o leitor poder acompanhar a própria viagem de C na busca de A.
A arte do autor consiste em criar variantes suficientemente aliciantes na narrativa e/ou inovar na sua estrutura sem afastar o leitor da estrada e sem o obrigar a seguir por desvios inusitados.
A vertente lúdica do "policial" assusta e enerva muita gente que, talvez por insegurança, se refugia às vezes no formalismo de outros géneros literários aos quais, e de pleno direito, se aplica a apreciação de Stephen King.

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