quarta-feira, 30 de abril de 2014

A notícia que diz tudo mas que está escondida: quem se quer bem sempre se encontra...




O "Jornal das Caldas", de Caldas da Rainha, dá hoje grande destaque na primeira página ao "abraço" ao encerrado Hospital Termal de Caldas da Rainha. Foi uma iniciativa meritória de defesa das termas caldenses, oportuna perante o bloqueio camarário mas de duvidosos efeitos práticos.
A grande notícia está, no entanto, no interior desta edição do "Jornal das Caldas", mais precisamente na página 8.
É aí que se sabe do curioso interesse da Câmara Municipal em matéria de termalismo nas Caldas... mas em 2035 e numa perspectiva pouco independente..
É aí que ficamos a saber que o presidente da câmara de Caldas da Rainha, talvez naquela lógica de mandar fazer estudos ou constituir grupos de trabalhos para nada resolver, encomendou um "estudo de diagnóstico prospectivo" sobre as termas a um economista de nome José Luís Silva.
Por acaso, o economista José Luís Silva assina como José Luís Almeida Silva na sua "persona" de director da "Gazeta das Caldas", jornal que se tem caracterizado por um desvelado apoio ao mesmíssimo presidente de câmara.
Percebem-se, numa terra pequena onde todos se conhecem, os paninhos quentes com que o "Jornal das Caldas" envolve a notícia (com o desinvestimento camarário na matéria a contrastar com o tal "abraço" popular) mas, caramba, é uma notícia bem reveladora e em muitos planos. E o "Jornal das Caldas" bem podia, em prol dos seus próprios interesses, destacar a independência da sua orientação.
 
 

Os bons negócios da Cimalha com a Câmara Municipal de Caldas da Rainha ... e não só


 
 
 
 
 
 
Em Junho e Julho do ano passado, o vereador Hugo Oliveira, por delegação de competências do presidente em exercício da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, Tinta Ferreira, assinou dois contratos decorrentes de concursos públicos com a empresa Cimalha, Construções da Batalha, S.A., empresa com o alvará de obras públicas n.º 1527 e o NIPC 500777462.
 
 
1 038 040,17€ em Caldas da Rainha...
 
 
O primeiro contrato (012/2013) data de 18 de Junho de 2013 e refere-se à "Repavimentação de Vias na Zona Nascente/2013 (Santa Catarina, Carvalhal Benfeito e Salir de Matos)", tendo o valor de 404 804,93 euros. O prazo de execução terminaria, no máximo dos 270 dias previstos, em 31 de Março de 2014.
O segundo (015/2013) data de 24 de Julho de 2013 e refere-se à "Repavimentação de Vias na Zona Poente/2013 (Salir do Porto, Serra do Bouro, Tornada, Nadadouro e Foz do Arelho)", tendo o valor de 439 130,27 euros. O prazo de execução terminaria, no máximo dos 270 dias previstos, em 30 de Abril de 2014. Ou seja: hoje.
Pela Cimalha, empresa adjudicatária, assinaram António Augusto Silva Jordão e César Augusto Pereira da Silva Jordão, ambos de Leiria e administradores da empresa.
No total, com IVA, o valor que a Câmara Municipal de Caldas da Rainha se comprometeu a pagar foi de 1 038 040,17 euros.
As condições de pagamento estipulavam que a verba total seria paga por prestações mensais, com início sessenta (60) dias após a apresentação da primeira factura.
 
 
... mas as não se fazem por "dificuldades financeiras"...
 
 
As condições contratuais não foram cumpridas pela Cimalha, Construções da Batalha, pelo menos na Serra do Bouro.
O trabalho de repavimentação de uma rua com 1100 metros (onde foi iniciada uma obra de substituição de conduta de água com repavimentação... há treze meses) ficou por acabar e a repavimentação de uma rua próxima ficou por fazer.
Não sei se as restantes obrigações contratuais da Cimalha foram cumpridas. Mas, para o caso, é irrelevante porque, como bem sabem os dois dirigentes autárquicos com as suas formações em Direito, bastaria este incumprimento para tornar nulo o contrato 015/2013.
Numa explicação (a única fornecida oficialmente e por pressão de uma carta minha) dada pelo agora presidente da câmara Tinta Ferreira, em Janeiro deste ano, afirmava a câmara de Caldas da Rainha sobre estas obras e a Cimalha: "a empresa não tem desenvolvido trabalho ao ritmo previsto no contrato de empreitada, apresentando dificuldades financeiras, actualmente tão comuns neste sector de actividade".
 
 
 
... embora haja mais um ganho garantido de 643 119,82€ em Pombal
 
 
Isto, no entanto, não impediu a Cimalha (que já é recordista de ajustes directos) a ganhar, no mesmo de Janeiro, seis (6) contratos decorrentes de outros tantos ajustes directos com a Câmara Municipal de Pombal.
Estes seis ajustes directos têm um formato estranho. Foram feitos em apenas duas datas diferentes, separadas por dois dias e só no mesmo mês: os dias 6 e 8 de Janeiro de 2014.
No total, esta meia-dúzia de contratos garante à Cimalha a receita de 522 861, 61 euros. Ou, com IVA: 643 119,82 euros. Os pormenores encontram-se aqui.
Pode acontecer, perante isto, que a Cimalha tenha ido fazer obra para Pombal, ou que faça de conta que por aqui está tudo terminado.
Ou que a câmara de Caldas da Rainha nem saiba o que se passa, porque a fiscalização parece ser inexistente e, além do mais, a Serra do Bouro fica tão longe que a deslocação da cidade de Caldas da Rainha a esta zona exige avião, ou TGV ou mesmo um foguetão lunar.
A situação não é, evidentemente, transparente e a Câmara Municipal de Caldas da Rainha desconhece (é o mínimo que educadamente se deve dizer, por muito que possa haver outras leituras) o conceito e a prática da prestação de contas. Dessas contas e das outras.
A falta de transparência e de prestação de contas suscita normalmente dúvidas, desconfianças, suspeições.
E matéria para queixas e/ou denúncias que, não havendo esclarecimento (por motivos que se desconhecem), até podem ser fundamentadas.
 
 




Tinta Ferreira e Hugo Oliveira: tudo bem...
 

terça-feira, 29 de abril de 2014

As obras serviram para quê, afinal?

Não se percebe para que serviram as obras mandadas fazer pela Câmara Municipal de Caldas da Rainha na Avenida 1. º de Maio, nesta cidade e onde se enterraram, pelo menos, centenas de milhares de euros...

O perfil da avenida ficou na mesma, com menos espaço para os carros...
 

 
... e espaços enormes vazios, por onde não passa ninguém, sem lojas, sem nada que atraia os transeuntes que, nestes passeios desmesurados,
nem têm onde se sentar...



... e onde o lixo se acumula fora dos contentores,
tão bonitos e tão a condizer com a beleza magnífica
destes passeios tão artísticos.


 
Talvez o dinheiro tivesse sido melhor empregue a pintar passadeiras de peões onde elas continuam a não existir, criando situações de perigo mortal para toda a gente. Mas isso, para a câmara da "nova dinâmica", já é demais.
 
 
 

Em Caldas da Rainha não há uma câmara municipal mas um buraco negro



Em Caldas da Rainha não há uma câmara municipal mas um buraco negro, um abismo de esquecimento onde tudo se perde e nada se transforma, onde se  escondeu a "nova dinâmica" da propaganda eleitoral, onde as oposições são desavergonhadamente cúmplices ou se limitam a alguns balbucios para consumo mínimo do único dos dois jornais locais que consegue ser objectivo: o Hospital Termal (assunto que está há um mês a marinar na câmara), as obras intermináveis, as que ficaram interrompidas e as que se faz de conta que acabaram, as empresas de construção que não cumprem prazos mas a que ninguém parece pedir responsabilidades, o Plano de Pormenor da Estrada Atlântica, as promessas tipo "barco do amor", o abandono progressivo das freguesias rurais, o lixo que se vai amontoando, as festas mal amanhadas e as largadas de touros para iludir todos aqueles que são do género "para quem é, bacalhau basta"...
Um dia fecham o concelho ou vendem-no ao melhor preço, e sem passar factura.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Por onde é que andam os nossos números de telemóvel?

Há sete ou oito anos deixei de utilizar um determinado número de telemóvel. Troquei-o por outro, da mesma operadora, já nem sei porquê, ou por outro número de outra operadora. Já lá vão, depois desse número, mais dois ou três ou mesmo quatro.
Agora, e por causa disto, aparece-me a estranha empresa Inter Partner Assistance a usar esse número de telemóvel, para onde enviou mensagens há menos de um mês. E os meus contactos com esta empresa datam só de há três anos (e por obrigação de apólices de seguro que contratei).
Onde é que terão ido buscar esse número? Ou comprar? E quem é que lhes vendeu, ou deu, o número?
Por onde é que andam os nossos números de telemóvel? Alguém sabe?
Quanto à empresa em questão, voltaremos ao assunto.

Para a Inter Partner Assistance, uma perna traseira é o mesmo que uma perna dianteira

A empresa Inter Partners Assistance (que parece trabalhar para as companhias de seguros com o único objectivo de desencorajar os clientes a apresentarem pedidos de reembolso de acordo com os seus seguros) demonstrou-me mais uma vez as suas extraordinárias qualidades.
Já me tinha pedido documentos que estavam em seu poder, já tinha inventado um exame clínico que nunca existiu e de que nunca pedi reembolso para insistir em que eu lhe enviasse pormenores e já me tinha ameaçado de cancelar um seguro um ano depois de eu o ter anulado.
Agora, a propósito de um problema na perna dianteira direita do meu cão J. (perna que é descrita no relatório clínico como "membro torácico direito" (toda a gente sabe onde fica o tórax, não é?), a Inter Partner Assistance pede-me que confirme se esse problema tem a ver com o que aconteceu em Agosto de 2013 e que foi objecto de um relatório clínico sobre o ""MTD". Ou seja, em linguagem veterinária, "membro traseiro direito". Ou seja: a perna traseira direita.
Não há justificação para o pedido e são apenas invocados "os nossos veterinários" que se mantêm convenientemente anónimos.
E talvez até seja bom que sejam anónimos porque os tais "veterinários" que confundem pernas traseiras e dianteiras até podem confundir a cabeça com os pés ou com o rabo e pensarem com os dedos dos pés ou com o olho do cu. É a única explicação que me parece razoável para esta idiotice tão grande.

"The big picture": o santo guerreiro contra o dragão da maldade


A notícia é esta:

Paulo Branco denunciou em conferência de imprensa na quarta-feira a estratégia da Big Picture e as ligações de um antigo administrador da PT e do Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual (FICA) naquela empresa de distribuição.
O produtor, exibidor e distribuidor já se queixou da situação «insustentável» à Autoridade da Concorrência, ao Instituto do Cinema e do Audiovisual e ao secretário de Estado da Cultura, e crê que «o Ministério Público (MP) tem matéria para investigar». Ao SOL diz: «Se o MP não fizer nada, vou avançar com uma queixa na Procuradoria».
O premiado produtor chama a atenção para a empresa Big Picture, que nasceu para produzir animação. O administrador não executivo da Zon Antunes João teve a seu cargo a pasta do FICA, que concedeu 1,5 milhões de euros àquela empresa. «Pouco depois aparece a Big Picture a actuar na distribuição (com o catálogo da Fox), com o senhor Antunes João à cabeça, que tinha sido o principal mentor do financiamento da Big Picture. Curiosamente, pouco depois a ColumbiaTriStarWarner fecha as portas e a Big Picture fica com o sumo, os catálogos da Sony e da Columbia, e a Lusomundo fica com a Warner».

Mas falta-lhe alguma coisa: "background", o pano de fundo, a "the big picture", ou seja, perceber que além da árvore há uma floresta, o que também é o equivalente à expressão inglesa "the big picture", o grande quadro que convém conhecer antes e depois de ver uma pequena parte dele.
E, neste caso, "the big picture" é a situação da distribuição e de cinema em Portugal (e, já agora, a do "home cinema"), com as recentes alterações do tecido empresarial (a separação Zon/Meo, a queda da Castello Lopes, a entrada em cena da empresa Big Picture, as transferências de catálogos de "home cinema" e de direitos de exibição, a propriedade das salas de cinema, por exemplo).
Este sector até movimenta muito milhões de euros, apesar da dimensão do país, e é notícia noutros países (basta ver o que se passa nos EUA, não apenas na "indústria" mas nas publicações que dela se ocupam, como o "Variety" e o "Hollywood Reporter"). 
Em Portugal, no entanto, não é notícia. Mas já foi. 
No início da década de noventa um conjunto alargado de pessoas que escreviam sobre cinema nos jornais (jornalistas e críticos de cinema, e ainda restam alguns no activo, que devem andar um pouco desmemoriados) conseguiram estabelecer um bom diálogo com a maior parte das empresas do sector, por mérito das duas partes, e associar à crítica de cinema o enquadramento noticioso que o cinema devia, e deve, ter. É dessa altura, e foi um dos pioneiros pela parte empresarial, o administrador da Big Picture, José Antunes João, que hoje é visado na "denúncia" de Paulo Branco.
Aliás, e esse é outro aspecto interessante, este conflito (Paulo Branco vs. Antunes João) já vem de longe.
Paulo Branco já era produtor e exibidor, com as suas várias empresas. Antunes João era nessa altura um dos dirigentes da Lusomundo (que foi uma empresa pioneira no sector e que acabou engolida, e mal digerida, pela então Portugal Telecom) e o sucessor do sempre discreto e eficaz tenente-coronel Luís Silva na Lusomundo. No território pequeno da distribuição e da exibição em Portugal, Paulo Branco e a então Lusomundo mantiveram sempre uma "guerra fria" )que foi uma espécie de guerra de fronteiras entre a distribuição e a exibição) que nunca terá chegado a um acordo de paz, decerto que por motivos muito racionais para cada uma das partes em conflito.
É possível, por outro lado, que Antunes João e a sua Big Picture se tenham fechado à imprensa enquanto Paulo Branco parece ter alargado os seus contactos entre os jornalistas mas, nisto tudo, verifica-se um dos males da imprensa nacional: a falta de memória, a falta de arquivos e o desinteresse pelo enquadramento. É claro que também não se lhe pede mais (nem o público que ainda resta lhe pede mais). 
Por isso, a "big picture" deste velho problema, que tem muito a ver com a crise económica, a diminuição de espectadores e a pirataria (e seria interessante saber como agiria a Lusomundo de Luís Silva neste quadro), fica reduzido à sua expressão mais simplista: o "produtor premiado" e independente ergue-se como um santo guerreiro contra os monopólios da distribuição, que têm como dragão da maldade um homem que até era um modelo de diálogo.
Para o novo jornalismo português parece ser suficiente.


Paulo Branco (© EFE)
 
Antunes João (© Gonçalo Villaverde/ Global Imagens) 




Um acrescento cautelar para os leitores menos avisados: a expressão "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" faz parte do título do filme "António das Mortes" (1969), de Glauber Rocha, um dos expoentes do Cinema Novo brasileiro.

domingo, 27 de abril de 2014

A que sabe o vinho?

Aroma de bolo inglês.
Chocolate.
Compotas.
Mentolado.
Tabaco.
Couro.
Resinas.
Drops de morango.
Alfazema.
Rebuçados e drops.
Notas medicinais.
Iogurte de frutos silvestres.
Ervas secas.
Apimentado.
Notas iodadas.
Eucalipto.
Rebuçado de morango.
 
Estes são apenas alguns dos sabores atribuídos a várias dezenas de vinhos tintos nas respectivas "notas de prova" que ocupam doze páginas de uma revista ("Revista de Vinhos", n.º 293, Abril 2014).
É possível que haja algum motivo científico, ou técnico, para atribuir sabores alheios a vinho mas há qualquer coisa de absurdo nisto.
Aliás, conhecendo alguns dois vinhos citados, nunca lhes encontrei tão estranhas afinidades com sabores tão alheios. E repugna-me a ideia de estar a beber vinho que sabe a mentol, rebuçados, remédios, reinas ou ... iogurte de frutos silvestres!
Este tipo de escrita sobre vinhos parece-me tão apropriado como dizer que o filme "Lawrence da Arábia" é classificável como "torture porn" tipo "Hostel" porque há uma sequência de tortura em que a vítima é o próprio Lawrence ou que a série televisiva "Guerra dos Tronos" é como "O Grande Ditador", de Chaplin, porque tanto num caso noutro há engrenagens metálicas.
Mas moda é moda, claro.

sábado, 26 de abril de 2014

Há mais motivos para chorar em Novembro do que em Abril


Haverá alguém capaz de notar (no meio da lamúria colectiva destas comemorações), e falando só em datas, que depois do 25 de Abril houve o 25 de Novembro? 
E que Vasco Lourenço e Mário Soares foram dois dos animadores do golpe militar que, em 25 de Novembro de 1975, sufocou muitas das tais "conquistas" de 25 de Abril de 1974?
Há mais motivos para lágrimas em 25 de Novembro do que em 25 de Abril...

Como teria evoluído Portugal sem o 25 de Abril?

É bom exercício de pensamento que Rui Verde desenvolve no Tomate, com a tese (plausível e bem estruturada) de um protagonismo crescente de Spínola e uma descolonização parcial.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Cunhal ria-se...

Do meu artigo "Cunhal ria-se" no Tomate n.º 14, já on line:
 
(...) Quarenta anos depois [do 25 de Abril], a crítica política perdeu o humor, a sátira e a capacidade de ser mordaz. Neste período em que, desde 2011, aumentaram o debate político (embora enviesado, porque restrito aos comentadores políticos) e a contestação ao governo em funções e à Troika, o humor desapareceu de vez da política. O que vemos são as expressões de fúria alucinada dos sindicalistas, a carranca de Jerónimo de Sousa, o sobrolho carregado de António José Seguro, o ar irritado de João Semedo (que na União dos Estudantes Comunistas era um tipo divertido) e a máscara de coro grego da ex-actriz Catarina Martins.
A inteligência do humor também se perdeu nas audiências televisivas e esgotou-se mesmo entre aqueles que o souberam comercializar. E, no outro extremo, afundou-se na versão rasca da liberdade de expressão do Facebook. Se uma vez por outra aparece uma fotomontagem ou um vídeo inteligentemente divertidos, também temos direito a outras fotomontagens hediondas como a sobreposição do rosto de uma personalidade odiada pela “esquerda” sobre a fotografia de um cagalhão. (...) 
 
 
 
 

As conquistas do 25 de Abril

 
É claro que se não fossem o 25 de Abril e Vasco Lourenço nunca um espectáculo de tão apurado sentido de humor e gosto estético como a "Ti Maria da Peida" poderia abrilhantar umas festas de matriz religiosa em honra de Nossa Senhora dos Mártires. Por exemplo.



O mundo não nasceu em 1974

No meio do delírio que tem feito concentrar todos os males do mundo apenas no Estado Novo e no marcelismo (1926-1974), e que transforma a mudança de poder político ocorrida em 25 de Abril de 1974 numa espécie de aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos com Vasco Lourenço no papel de Nossa Senhora, conviria não esquecer um facto histórico muito simples:
 
- a Inquisição esteve em Portugal durante quase três séculos (1536 - 1821) e
 
- o período entre o seu fim e a República (1910) e o Estado Novo (1926) foi demasiado breve para afastar por completo os condicionalismos impostos às mentes e aos costumes durante esses três séculos e em todas as vertentes da vida nacional.
 
 
 
 
 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Longe da vista, longe do coração

A estúpida agregação de freguesias feita à força no concelho de Caldas da Rainha, com a "transferência" das juntas de freguesia rurais para a cidade, deu nisto: as zonas mais recônditas (que distam a enormidade de 10 ou 12 quilómetros da capital do concelho!...) estão completamente votadas ao abandono e ao desprezo.
Na mesma povoação da freguesia da Serra do Bouro (anexada por uma junta de freguesia da cidade e geograficamente por sobre outra freguesia) onde estão por repavimentar há um ano 1100 metros de rua, as placas toponímicas são engolidas pela vegetação incontrolada e um sofá, o objecto que parecer o símbolo da incúria caldense, está há semanas a fazer companhia aos contentores do lixo.






Sempre, sempre ao lado... do poder

 
A "Gazeta das Caldas" assinalou o 25 de Abril com a reprodução de notícias, títulos e primeiras páginas de edições suas dessa época (1973 e 1974).
Foi uma ironia involuntária, no entanto, porque dá para ver como este jornal esteve sempre de bem com o poder - com o marcelismo em 1974, com o novo poder saído do 25 de Abril e, agora, com a Câmara Municipal do PSD.

Quebra de segurança bancária por "anomalia informática"

Uma empresa que presta serviços de segurança aproveita, contra a interdição comunicada pelo seu cliente, uma autorização de débito directo do início do contrato (sete anos antes) para a meter à má-fila no banco onde o cliente tem conta e garantir uma cobrança, apesar de, também nesse banco, estar cancelada essa autorização de débito directo.
Descoberta a coisa, a empresa de segurança assobia para o lado e o banco fica mudo.
Forçado a explicar-se por uma queixa apresentada pelo cliente ao Banco de Portugal, o banco verte finalmente numa extensa carta a desculpa de uma "anomalia informática" para a óbvia quebra no circuito de segurança (ou penetração externa nele?) que garante aos seus clientes.
A empresa de segurança é a Securitas Direct e o banco é o BES.

Calaram-se, foi?


Uma semana depois da "Fatura da Sorte", o coro dos críticos deste jogo de azar remeteu-se ao silêncio. Terá sido por causa disto?

A mitificação do 25 de Abril só ajuda à confusão

A onda tonta de mitificação do 25 de Abril está, infelizmente, a iludir muita coisa e a gerar uma confusão evitável sobre esta data histórica, iludindo aspectos que só ganhariam em ficar um pouco mais claros como:

 
- o facto de o 25 de Abril não ter sido uma revolução nem um golpe de Estado mas um fenómeno político (e social) relativamente novo no contexto histórico;
 
- o papel da imprensa até 16 de Março de 1974, até 25 de Abril desse ano e depois;
 
- o PCP como partido "de regime" (o apoio à recuperação económica, o dia de salário para a nação), como partido revolucionário (entre 27 de Setembro de 1974 e 25 de Novembro de 1975) e depois como partido sobrevivente;
 
- a ligação entre a extrema-esquerda política e os sectores militares em 1975 e os SUV;
 
- o 25 de Novembro (que, esse sim, foi um golpe militar);
 
- a fragmentação das Forças Armadas (especialmente em 1975);
 
- a intervenção militar nos vários cenários da guerra colonial;
 
- o papel dos militares que em África cumpriram o dever imposto pelo governo vigente e pelo Estado e que também foram vítimas da guerra colonial;
 
- a apropriação de aspectos míticos do 25 de Abril por algumas personalidades com objectivos políticos pessoais (Vasco Lourenço "pertence" mais ao 25 de Novembro do que ao 25 de Abril);
 
- o papel do idealista Vasco Gonçalves;
 
- o terrorismo "contra-revolucionário" no PREC e a aliança entre o PS e os sectores politicamente mais conservadores;
 
- as perseguições aos banqueiros e à extrema-esquerda do MRPP;
 
- as diferenças reais entre a sociedade do Estado Novo e do marcelismo e o pós-25 de Abril (tem havido peças alucinantes na televisão...).
 
E haveria mais...

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Idiotas com cão (5): dêem-lhes um conselho...

As associação de defesa e de protecção dos animais, nomeadamente cães e gatos, desenvolvem um trabalho a todos os títulos meritório que devia ser apoiado por toda a gente, cidadãos individuais, podres públicos e entidades privadas.
A sua actividade exige meios, disponibilidade e militância.
Mas na sua intervenção pública podiam ir um pouco mais longe, quase sem custos porque não precisam mais do que as redes sociais, e insistir também num conselho de simples pedagogia a muita gente, que é desatenta, que tem dificuldades objectivas de raciocínio dedutivo ou que é apenas idiota: não deixem andar os cães soltos; não se limitem a pô-los na rua para as "necessidades" sem os acompanharem (e não é só para apanharem o que largam); dêem-lhes treino de obediência.
É deplorável ver a quantidade de cães do tipo "perdeu-se" ou "fugiu" de gente que, muitas vezes fisicamente incapaz, solta os cães, abana a bandeira do "não faz mal, não faz" e queixam-se de que... depois desapareceram.
Os cães, se não têm a sorte de derem recolhidos por gente melhor, sofrem. E essa gente, às vezes, parece que também...

O silêncio dos culpados

A Câmara Municipal de Caldas da Rainha tem consigo há vinte dias, pelo menos, a proposta governamental sobre o Hospital Termal de Caldas da Rainha. O que vai, ou não, fazer? O que pensam os partidos além da facção do PSD que gere a câmara? Silêncio absoluto. O assunto interessa? Não.
 
As obras de paulatina destruição da cidade de Caldas da Rainha continuam praticamente paradas. O que pensam os partidos além da facção do PSD que gere a câmara? Silêncio absoluto. O assunto interessa? Não.
 
Os azougados gestores políticos da Câmara Municipal de Caldas da Rainha autorizaram três dias de touros à solta num parque histórico urbano que já foi um "ex libris" da cidade, em jeito de imperadores romanos. Os partidos balbuciam. A população vai acorrer, a destruição do terreno estará, por definição, assegurada. O assunto interessa? Pouco.
 
A praia da Foz do Arelho tornou-se uma extensão da Lagoa de Óbidos. Esta tem cada vez menos água e cada vez mais areia e terra. A praia ficou mais pequena. O que pensam os partidos? Silêncio absoluto. O assunto interessa? Não. 
 
Há uma empresa que factura mais de um milhão de euros para obras que não faz. O que pensam os partidos? Silêncio absoluto. O assunto interessa? Não.
 
As eleições autárquicas foram há sete meses.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Foi você que pediu uma largada de touros?

Não percebo agora a surpresa, em certos meios de Caldas da Rainha, perante as anunciadas largadas de touros num espaço que já foi nobre e que hoje é pouco mais do que simbólico, quando a Câmara Municipal deste concelho anda há tanto tempo a tratar os caldenses como cabrestos..

domingo, 20 de abril de 2014

378 dias para repavimentar 1100 metros de rua

 
Há um ano e 13 dias (desde 8 de Abril de 2013) que a Câmara Municipal de Caldas da Rainha não consegue concluir as obras lançadas em 1100 metros de rua, numa via estreita onde quase nem cabem dois carros lado a lado, para substituir uma conduta de água e fazer a respectiva repavimentação.






Mas eles riem-se...

E se fossem "abraçar" a Câmara?

Algumas almas bem intencionadas estão a promover um "abraço" em forma de cordão humano no próximo sábado ao Hospital Termal de Caldas da Rainha, que está a "marinar" no caldo da incapacidade camarária. Não seria melhor irem "abraçar" a Câmara Municipal ou a Assembleia Municipal, para as estimular a serem mais rápidas na decisão sobre este processo?
Já houve uma iniciativa do género em Fevereiro de 2012 em redor do hospital (o Centro Hospitalar Oeste Norte) e não parece ter dado muitos frutos...

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sem "dimensão histórica nem científica": junta-se ao silêncio a peixeirada

 
Duvido do futuro do Hospital Termal de Caldas da Rainha, quer como estabelecimento de saúde só por si ou como estabelecimento termal, e já o escrevi.
Mas penso que o tema (estando agora nas mãos de competência duvidosa) da Câmara Municipal só ganharia em ser objecto de um debate sério e esclarecedor, assente em alguns princípios fundamentais e sem ser um desses prazeres solitários de que nada acaba por restar. 
Esse debate tem dois pontos incontornáveis: a proposta feita pelo Governo à câmara (conhecida já há duas semanas) e o relatório da auditoria da Inspecção-Geral das Actividades de Saúde, que levanta alguns problemas pertinentes e que será, além do mais, a posição oficial da entidade (o Governo) com que a câmara deveria negociar. E terá uma exigência, como qualquer debate entre pessoas civilizadas: a boa educação e a cortesia.
Só que não parece que lá cheguemos.
A "Gazeta das Caldas", sempre benevolente para com a gestão camarária da "nova dinâmica", abriu as hostilidades esta semana: "chantagem", "ridículo", "desplante", "funcionários que não têm a dimensão histórica e científica por norma" foram algumas das palavras empregues na sua crítica, onde vai ao ponto de sugerir a entrega do hospital "ao reino de Castela ou ao Império do Meio (China), invocando reis e marqueses com um inesperado pendor monárquico.
Se a esta posição associarmos o silêncio a que se remeteram os partidos da "situação" (ao contrário do MVC, que tem expressado posições cautelosamente inteligentes e com adequado sentido das proporções) e a câmara, podemos considerar que o tema deixou de ser importante... por ter passado de uma situação de indefinição a uma situação a resolver com prazo definido.
Há uma expressão francesa que poderíamos evocar com alguma elegância ("les beaux esprits se recontrent") a propósito desta coincidência de posições mas, sem descer ao mesmo nível, fiquemos por um "estão bem uns para os outros".
Só é pena, claro, que não sejam eles os prejudicados.

*
 
Este texto de Miguel Miguel, no seu blogue Salubridades, é um bom exemplo do que poderia, e deveria, ser um debate sobre o assunto, sem fugir ao combate político mas fazendo-o com a elevação que a "Gazeta" parece ter perdido.

domingo, 13 de abril de 2014

Um "enfeite" à moda do E. Leclerc



No ambiente já de si degradado que é o cartão de visita do Complexo Desportivo de Caldas da Rainha, juntou-se às ruínas exteriores uma fita de plástico, que é sempre uma coisa bonita de se ver, do supermercado E. Leclerc. 
Estão bem uns para os outros.

Termas, câmara, "Gazeta": nuvens, nuvens, nuvens...

Há uma semana, a "Gazeta das Caldas" dava conta da proposta apresentada pelo Governo à Câmara Municipal de Caldas da Rainha sobre o hospital termal e interpretava-a.
Esta semana, no mesmo jornal, a câmara vem dizer que não é assim, em comunicado lacónico. Que nem é bem um desmentido, ou uma rectificação, ou seja lá o que for. Aliás, o comunicado nem sequer aparece no portal camarário.
O jornal publica-o na página das coisas (mais ou menos) oficiais e nada contrapõe. Nem sequer "em defesa da honra", por se ver assim desmentido. Ou só parcialmente confirmado. Ou nem por isso.
Esta questão das termas na sua relação com a imprensa e com os poderes locais é um jogo de sombras ou de equívocos ou as duas coisas ou tudo e mais alguma coisa, talvez um ritual de aventais ou uma simples confraternização de velhos amigos ou aliados, num ambiente demasiado nebuloso e onde o que mais se destaca é a total e absoluta ausência de postura crítica da "Gazeta" perante a câmara da "nova dinâmica" do PSD caldense, do grupo político capitaneado pelo "dr.", que consegue aparecer mais - no aludido jornal - como "deus ex machina" do que personalidade tão real como os seus nocivos efeitos.

sábado, 12 de abril de 2014

A democracia tem de saber defender-se

A polémica sobre a presença no Parlamento dos "capitães de Abril", e com discurso, na sessão solene do 25 de Abril, parece-me tão relevante, ou menos ainda, do que qualquer polémica sobre a existência de extraterrestres.
Os "capitães de Abril" nunca tiveram intervenção oratória na Assembleia da República e, a terem, teria de discutir-se quem é que deveria estar desse modo na sede da democracia: os "capitães" da "esquerda militar", os dos SUV, os "contra-revolucionários", do "grupo dos nove", os da ala conservadora que regressaram depois do 25 de Novembro, os otelistas, os gonçalvistas ou os eanistas?
Os unanimismos não são bons para conhecer a História e para uma visão racionalista das coisas e qualquer apóstolo da actual contestação política que não seja muito básico deveria ter a obrigação intelectual de não insistir no erro.
O 25 de Abril só foi uma data (em termos de acontecimentos) consensual no início. O 25 de Novembro foi-o bastante depois. O 28 de Setembro e o 11 de Março são agora datas simbólicas porque o que mudou foi revertido. E Vasco Lourenço, convém recordar, foi "revolucionário", foi "contra-revolucionário", foi dos "nove", foi do 25 de Novembro e agora... é uma versão pouco abonatória de Mário Soares. O que é uma verdadeira despromoção.
Se os "capitães de Abril" de 2014 querem ter uma intervenção pública formal façam-na na rua.
Reproduzam um dos debates do Conselho da Revolução, recordem os discursos de Vasco Gonçalves, encenem a intervenção dos "nove" na noite de 25 de Novembro e no dia 26 de Novembro de 1975. De certeza que terão maior audiência, até porque a sessão solene parlamentar não costuma primar pela animação.
E já agora: depois dos apelos à revolta de Vasco Lourenço, e de alguns outros "capitães", contra o poder político legitimado pelo voto popular, o mais natural seria que uma intervenção desses militares na Assembleia da República fosse um apelo ao derrube do Governo e isso não pode acontecer na sede de uma democracia parlamentar.
A democracia tem de saber defender-se.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

E viva a Telecão

Tal como aqui me queixei da transportadora Seur e contei que por causa do seu péssimo serviço deixei de utilizar a loja "on line" Tienda Animal, também dedico uma palavra de elogio à nortenha Telecão, que vende "on line" produtos para animais e que garante uma entrega quase... instantânea.
Na terça-feira fiz a encomenda do que me interessava, ontem paguei o valor da encomenda por multibanco (indicação que recebi logo que formalizei a encomenda) e hoje de manhã já cá estava, via CTT Expresso, sem custos adicionais.

E. Leclerc: está cheio de bolor e dentro do prazo de validade mas ao 16.º dia dizem que não é nada com eles..


"Consumir de preferência antes de"... 16 de Junho de 2014,
código de barras n.º 5607274001327. 

No passado dia 25 de Março comprei esta embalagem de queijo Edam (com o dia 16 de Junho de 2014 como limite para o prazo de validade) no supermercado E. Leclerc de Caldas da Rainha, meti-a no frigorífico e poucos dias depois reparei que tinha duas ou três pequenas manchas de bolor.
Sendo cliente habitual deste supermercado, guardei a devida reclamação para p dia em que lá voltasse, o que hoje aconteceu.
Pensei que fosse simples: o supermercado recolheria a embalagem, devolveria o valor (1,64€) e o assunto ficaria encerrado. Mas não foi.
A primeira pessoa que me atendeu perguntou-me se o queijo tinha estado no frigorífico.
A segunda quis explicar-me nem sei bem o quê (não há muito para explicar num caso destes) e foi-me dizendo que as trocas dos produtos frescos só se faziam no prazo de 15 dias.
A terceira (um chefe de qualquer coisa) também tentou dar-me explicações (mas que raio de explicações é que se podem dar num caso destes?!) mas acabou por recusar à devolução. Já estávamos, sublinhou, no 16.º dia, e passou-me a embalagem para as mãos com um sorriso triunfante.
Antes de a embalagem seguir viagem para a ASAE, fica aqui para a posteridade e para servir de aviso aos incautos.
 
*
 
E a propósito: cuidado com a outra secção da cadeia de frio, a dos congelados, porque neste supermercado (como noutros...) há produtos queimados pelo gelo ainda nas respectivas embalagens.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

"What Dies in Summer", de Tom Wright: crimes com castigo



Há histórias habilidosamente bem contadas, que parecem incertas quanto ao terreno que pisam mas que depois revelam as opções deliberadas do autor e que são pequenos triunfos. É o caso de "What Dies in Summer", o romance de estreia de Tom Wright, psicólogo, artista e escritor norte-americano.
"What Dies in Summer" é a história de um verão em que Biscoito, ("Biscuit", a alcunha do jovem narrador), exilado da casa materna e de um proto-padrasto violento na casa da avó materna com uma jovem prima por companhia, descobre os horrores e as belezas da vida humana.
"What Dies in Summer" é, simultaneamente, uma narrativa de transição e de entrada plena na adolescência e um "thriller" muito bem construído, com algumas sequências em ambientes de - literalmente - cortar à faca e picos de tensão e de expectativa que puxam pela atenção do leitor. Quem espera por uma revisitação da adolescência é conduzido a um "thriller" e quem espera por um "thriller" é convidado a conhecer o mundo destes adolescentes com segredos mas a harmonia é completa.
"What Dies in Summer" foi publicado em português no ano passado ("O Que Morre no Verão", Bertrand) e a segunda obra de Tom Wright, "Blackbird", será publicada nos EUA em Julho deste ano.
Mais pormenores sobre o autor e as suas obras podem ser encontrados em Tom Wright Presents.
 

"Condenados a Repetir a História", de Bill Fawcett


"Os 100 Grandes Erros da História", o primeiro livro de Bill Fawcett publicado em Portugal (e a que aqui me referi), tinha um tom quase irónico, justificado pela sucessão de erros, asneiras e más ideias de muitos dirigentes históricos ao longo dos séculos.
"Condenados a Repetir a História", o segundo agora publicado, tem um tom mais sério e não será caso para menos, atendendo aos vários aspectos da História que Bill Fawcett analisa.
Começa no Afeganistão (que nenhum outro país consegue verdadeiramente conquistar), passa pelo terrorismo, pelo combate às epidemias, pelas guerras tribais em África, pela vitalidade das línguas que ninguém consegue erradicar (o caso do gaélico na Irlanda) e detém-se, demoradamente, na história das crises económicas.
E esta é a parte mais substancial e mais interessante de "Condenados a Repetir a História", mostrando como as bolhas especulativas, as crises de crédito, as depressões e as recessões e o desemprego a destruição da classe média podiam ter sido evitadas, e ainda poderão, se o que já aconteceu for tido devidamente em conta. Os leitores menos conhecedores dos meandros económicos lerão com espanto, por exemplo, como a bolha das túlipas na Holanda do século XVI antecipou a crise do "subprime".
"Condenados a Repetir a História" é uma tradução minha para o Clube do Autor.

terça-feira, 8 de abril de 2014

A câmara de Caldas quis ver-se livre do problema que era o hospital termal?

 
Parece que sim, que terá sido essa a ideia que levou à "fuga" da informação sobre a proposta governamental sobre as termas de Caldas da Rainha para a "Gazeta das Caldas".
O "marketing" político ensina estas coisas: entrega-se uma informação a um jornal amigo, que a publica sem comentários, e fica-se à espera do resultado para depois se agir, de acordo com os interesses de quem deixa divulgar essa informação.
Neste caso, com a câmara municipal de Tinta Ferreira em silêncio (o assunto não lhe interessa...), verifica-se que também os partidos do "status quo" optaram pelo silêncio. Não há clamor público que se faça ouvir. O hospital termal não é, obviamente, uma "causa". O assunto fica, deste modo, desvalorizado e é fácil esquecê-lo.
Tal como é fácil, aliás, esquecer o silêncio que o actual presidente camarário manteve sobre as concorrentes Termas das Gaeiras, do concelho de Óbidos...

Um ano

 
Um ano... 365 dias, 52 semanas, 12 meses... 
 
Pois foi há precisamente um ano, em 8 de Abril de 2013, que uma empresa contratada pela Câmara Municipal de Caldas da Rainha começou a rasgar os 1100 metros de uma rua na freguesia rural da Serra do Bouro para substituir a conduta de abastecimento de água, a que devia seguir-se (no final do verão de 2013, segundo promessa da câmara) a repavimentação da dita rua. 
Um ano depois, a conduta foi substituída (e ainda ficaram pedaços da velha, largados ao calhas pela via pública) mas a repavimentação não está terminada. Mas houve tempo para a primeira empresa, a empresa contratada para a repavimentação) e a câmara montarem um cortejo de asneiras.
Nunca pensei que o impressionante grau de incompetência desta câmara municipal se manifestasse desta maneira.
Passado um ano, isto durará até quando? Ano e meio? Dois anos? Uma eternidade?...



 
Os buracos de uma repavimentação da treta...
 
 

... sob a égide de uma câmara municipal...


 
 

... que não se importa com o  lixo deixado na via pública.






 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

"The Newsroom": porque falha a imprensa e porque triunfa


O que primeiro surpreende na série televisiva "The Newsroom" (de que só agora vi a primeira temporada) é a fidelidade com que retrata o ambiente de uma redacção (a "newsroom"), neste caso de uma televisão, com todas as qualidades (o idealismo e o voluntarismo), os defeitos (a mentira) e as limitações (da administração) que caracterizam o jornalismo.
A segunda é o ambiente apoteótico, numa movimento quase perpétuo, com diálogos acelerados (que nem os diálogos ajudam a compreender por inteiro, à primeira) e cenas montadas num cenário de estúdio que faz esquecer o respectivo artificialismo, com um ritmo de comédia que, no entanto, não dissimula a seriedade com que cada tema é abordado.
"The Newsroom", que vive muito da brilhante interpretação de Jeff Daniels (o jornalista "pivot" que se lança numa quase cruzada a favor da transparência política), ilustra tudo o que na televisão pode ser uma história de jornalismo e de jornalistas e mostra porque é que a imprensa falha mas, também, porque triunfa. Quem a conhece por dentro e por fora percebe bem o que desfila diante dos nossos olhos mas para os outros será uma descoberta que, por contraste com a comunicação social de outros países, explica a crise da comunicação social portuguesa.
O criador de "The Newsroom" é Aaron Sorkin, o autor da série "The West Wing" ("Os Homens do Presidente"), que recorre a um toque de suprema malvadez: Will McAvoy (Jeff Daniels) até é republicano e convicto e, desse modo, a sua intervenção ganha uma dimensão que não teria se fosse democrata.
 
 
 
Emily Mortimer (a produtora executiva MacKenzie McHale) e Will McAvoy (Jeff Daniels)
 
 
 
 

Idiotas com cão (4)

Salir do Porto: fato de treino delicadamente berrante, ar descontraído e cão sem trela a uma distância incontrolável.
O cão, ainda novo (a dona nem por isso), quer brincadeira e não parece hostil mas, se encontrar outro cão que lhe rejeite os avanços, haverá conflito? Não se sabe. Mas a dona não estará por perto para (tentar) controlar o próprio cão que, a avaliar pelo que se viu, não teve qualquer tipo de treino de obediência.
Aplica-se, no caso, o "anda cá" ou "vem cá" ou uma dessas expressões que traduzem a idiotice do bicho humana nestas circunstâncias, se destinam mais a impressionar (?) os vizinhos humanos do que os próprios cães que sabem, perfeitamente, que com gente desta quem manda são eles.
Pouco depois, caso idêntico (talvez houvesse uma passagem de modelos de fatos de treino berrantes), com grandes movimentações e o cão, cuja dona não levava água para ele beber, foi tentar matar a sede com a água entornada no chão por outro cão cujo dono, sabedor das necessidades caninos, lhe deu de beber depois do passeio.


"Anda cá, anda cá"...

Toda a gente ganha

Consideremos, por hipótese, que é inocente e perfeitamente bondosa a intenção governamental de favorecer o aumento do salário mínimo, de ensaiar um alívio da carga fiscal em 2015 ou mesmo de ter alterado o esquema do IRS em 2013 para garantir um aumento dos respectivos reembolsos este ano (o que poderá estar a acontecer). E que, portanto, isso nada tem a ver com o ciclo eleitoral que agora começou.
Será inteligente os partidos da "esquerda" começarem a criticar essas opções se, como é previsível, elas forem beneficiar largos sectores da população?
E, no que toca ao PS, o único partido que esteve (prolongadamente...) no Governo, já se esqueceram de como sempre fez exactamente o mesmo? E de como, já a caminho do abismo, baixou o IVA e aumentou os salários da função pública (e dos professores, indirectamente, ainda na década de 90)?
Do governo central (com especial impacto na função pública) às câmaras municipais (as reparações apressadas de vias), todos o fazem. E nem se arrependem os que o fazem nem o rejeitam os que beneficiam...

domingo, 6 de abril de 2014

Termas das Caldas: a proposta governamental põe de joelhos a Câmara Municipal

 
 
 
 
 
 
Já que a questão das termas (ou ex-termas) de Caldas da Rainha, no que se refere à proposta governamental, parece ter despertado poucas atenções, o que não deixa de ser estranho, regressemos ao tema.
A "Gazeta das Caldas" divulgou na sexta-feira passada as linhas gerais da proposta que a Câmara Municipal de Caldas da Rainha já recebeu (sem no entanto indicar o remetente). Essencialmente, são estas, e tudo à conta da câmara:

- construção de um novo hospital termal, reservando as actuais instalações (fechadas) para actividades turísticas e culturais;
- cedência do Parque D. Carlos  I e da Mata Rainha D. Leonor à câmara;
- direitos de exploração de água mineral natural com a designação "Caldas da Rainha";
- um investimento (obras) de 12,7 milhões de euros no prazo de cinco anos.

A proposta é interessante, ao revelar um conceito que é vantajosamente mais abrangente do que apenas a recuperação do hospital termal já existente.   
Não é preciso ter-se uma licenciatura espanhola na área do turismo para perceber que uma estância termal, mais do que um simples hospital termal, ganharia com uma oferta mais global de hotelaria e cultural que passasse pela reabilitação das ruínas do parque e mesmo com uma água de marca como merchandising. O concelho ganha com mais visitantes, e com as compras de bens e de serviços que eles fazem se o actual hospital termal "ressuscitasse", mas ganharia muitíssimo mais se pudesse tornar mais vasta a sua oferta, com as termas por centro e pretexto.
Poderemos pensar que se o Governo achasse que teria dinheiro para este investimento fá-lo-ia. Não o tendo, passa-o para a câmara que, diga-se a verdade, nunca soube posicionar-se pela positiva.
Queria as termas mas não queria gastar dinheiro e disse-o abertamente. E como não está, neste caso, a discutir obras públicas (e eventuais contrapartidas de âmbito privado), teria sido melhor usar de maior discrição.
 
Um presidente impotente
 
Agora, como popularmente se diz, o presidente da câmara, Tinta Ferreira, ficou (mais uma vez) com as calças na mão.
Em vez de fazer contactos discretos com potenciais investidores e de tentar negociar objectivos concretos com o Governo, expôs-se a uma situação destas: ser confrontado na praça pública com a sua própria impotência.
Não vejo que Fernando Costa, por exemplo, a quem se podem (e devem) fazer muitas críticas, tivesse caído numa cilada destas. Mas, como já escrevi, o actual presidente optou por conversar com o porteiro e depois foi tratado de alto. 
Por outro lado, se a atracção por obras de fachada (como o alargamento de passeios) tivesse sido contida, talvez houvesse dinheiro para as termas.
Neste processo, o presidente da câmara não fica bem na "fotografia". Disse que andava a negociar com o Governo mas nunca disse o quê (e pode-se pensar que Tinta Ferreira já sabia o que aí viria). Mas alheou-se do problema. Alheou-se da concorrência que, agora, fica ainda mais forte. Envolveu-se em obras a serem feitas todas ao mesmo tempo e, por este andar, o que caracterizará os seus quatro anos de governo municipal serão as "obras de Santa Engrácia" da cidade (de retorno zero) e situações ainda mais incontroláveis fora da cidade.
Em circunstâncias normais, numa gestão municipal normal, esta situação levaria o presidente da câmara a explicar-se, e com urgência. Cada dia que passa é mais um dia que permite constatar a ineficácia e a falta de dinamismo do que, por estranha ironia, chegou a ser apresentado como "nova dinâmica" de um PSD sem rumo.
Porque, muito simplesmente, sem dinheiro (milhões de euros) não voltará a haver termas na cidade de Caldas da Rainha.
Não vale a pena pensar em peregrinações a Bruxelas (mais valia irem a Fátima...) ou em mais grupos de trabalho. Ou conversações agora maculadas por esta espécie de enxovalho que também atinge todos os sectores políticos do concelho. Qualquer negociação, a haver e seja lá com quem for, partirá sempre de uma posição de fraqueza política.
Depois disto, aliás, talvez nem valha a pena pensar numa plataforma de consenso, que só poderia ter sido útil se o presidente da câmara fosse um intérprete interessado e competente da vontade política, social e empresarial do concelho. Não foi nem muito provavelmente será.
Como era previsível, o hospital termal continuará fechado. Os equipamentos continuarão a degradar-se. Tal como os míticos "pavilhões do parque", tornar-se-á uma casa de fantasmas.
E, ao lado, abrirão as Termas das Gaeiras. O investimento privado voltará a ir para Óbidos e o investimento público aguardará melhores dias, ou anos.
 
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O que já escrevi sobre este assunto pode ser lido aqui.