domingo, 21 de setembro de 2014

O medo (das palavras) também já chegou ao Conselho Nacional de Educação...


Do meu artigo, "Homens com medo", publicado no n.º 19 (15.09.14) do e-magazine "Tomate" (que pode ser lido aqui na íntegra):
"(...) Até é possível que, globalmente, não haja professores a mais. Mas ninguém pode dizer, com veracidade, que não há professores a mais. Em função da diminuição do número de alunos, por força da diminuição da natalidade, num país pequeno onde há câmaras municipais capazes de se endividarem para fazerem obras sumptuárias sem cuidarem de encontrar, em articulação com o Governo, incentivos à fixação no interior, a questão deveria ser analisada e debatida.
(...) Só uma pequena parte dos professores contratados dos nossos dias é que poderá entrar no sistema nos próximos anos, por mais professores do quadro que se reformem ou que peçam a rescisão dos seus contratos. E isso devia obrigar os professores contratados a perceber uma coisa: ninguém, a não ser o Estado gigantesco e falido de que a 'esquerda' gosta mas que não quer suportar, contrata trabalhadores para eles não fazerem nada. Por muitos anos de trabalho que já tenham.
E isso mete medo. Mete medo aos próprios, a quem ninguém dirige um discurso de verdade. Como mete medo aos sindicatos dos professores, que praticamente já só vivem dos professores contratados. Já pouco têm a oferecer aos outros professores. E cada vez temem mais perder esse apoio, ou seja, as suas quotas. É delas que vivem os sindicatos e os seus dirigentes.
O problema também mete medo ao Governo, que foge de levantar uma questão inevitavelmente controversa e onde os sindicalistas berram mais do que o ministro, andando sempre no bolso com casos humanos pungentes e prontos a servir. 
O medo, sabe-se, emperra o raciocínio. Conduz ao desespero. Mário Nogueira e Nuno Crato são homens com medo. Pelas posições que ocupam, esperar-se-ia melhor deles, e das suas cortes."
Da introdução ao documento "Estado da Educação 2013" (19.09.14), do Conselho Nacional de Educação (que pode ser lido aqui na íntegra), com a curiosidade que é a variedade de leituras que pode ter uma formulação estilística redonda como "extremamente favorável": 
"(...) Mantém-se a tendência de diminuição da população escolar com especial incidência no Ensino Básico. Desde 2007 que o número de crianças matriculadas pela primeira vez na escolaridade obrigatória tem vindo a decrescer. Considerando a evolução das taxas de natalidade, não é previsível que essa tendência da população escolar venha a inverter-se de forma sustentada. (...) A população escolar total da educação e do ensino não superior regista uma quebra de 83 mil alunos relativamente a 2001.
(...) O número de professores em exercício no ensino público sofreu uma redução, durante os dois últimos anos letivos, de cerca de 22 mil efetivos. A estes teremos ainda de acrescentar 2,8 mil professores do ensino privado, o que perfaz um total muito próximo dos 25 mil professores a menos no sistema de ensino. As quebras mais acentuadas registaram-se entre os professores do 3º ciclo do Ensino Básico e Ensino Secundário (cerca de menos 13 mil professores) e do 2º ciclo (cerca de menos 7 mil).
Em comparação com os efetivos registados em 2001/2002 identifica-se que o movimento de redução começou por incidir nos professores do 1º ciclo e só mais recentemente se alargou aos restantes ciclos.
Mesmo assim, a relação entre o número de alunos por cada professor no 2º e 3º ciclos e especialmente no Ensino Secundário continua a ser extremamente favorável (...)"



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