sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Três palavras idiotas


Há três palavras com que especialmente embirro.
"Degustação" é uma delas. Não significa mais do que "provar" ou "saborear" e vem do francês "dégoûter".
É uma parolice, usada como se "saborear" ou "provar" fosse algo de pecaminoso.
Ou seja, as pessoas civilizadas não "provam", "degustam". Acho ridículo e fico sem vontade nenhuma de provar os produtos que parece serem apenas para a "degustação".
"Requalificação" é outra.
Não há cão nem gato, dos presidentes de câmaras municipais mais grunhos aos jornalistas snobes, passando pelos políticos, que não use o palavrão para significar uma coisa muito simples: "obras".
E fala-se por isso da "requalificação" de uma rua em vez de falar das "obras" na rua. Suponho que a origem é nacional, com a mudança de qualidade ("requalificação") de qualquer coisa porque nela foram feitas obras, ou qualquer tipo de arranjo.
"Resiliência" é a terceira.
Vem do inglês "resilience" e não significa mais do que "resistência" ou "capacidade de resistência". Não vejo vantagem nenhuma no seu uso e é mais uma manifestação de snobismo. "Resistência" deve ser chão de mais para quem acha fino ficar-se pela "resiliência".
Infelizmente, o uso de todas elas também revela dificuldades de raciocínio ou de vocabulário de quem as pronuncia ou escreve.
 

Orçamento Participativo: apoiar as iniciativas realmente sociais ou "safar" a Câmara?

O conceito inicial do mecanismo do Orçamento Participativo municipal é indiscutivelmente bondoso: deixar uma parte do orçamento municipal para as iniciativas propostas de fora (a sociedade, em geral) para dentro (a Câmara Municipal) e esperar que apareçam as ideias. E elas aparecem, claro.
Em Caldas da Rainha há trinta propostas. Mas vinte delas referem-se a iniciativas da responsabilidade da Câmara Municipal e de outras entidades públicas.
Para uma câmara que esbanja milhões de euros em obras faraónicas inúteis e no mínimo mal geridas, e que parece não ter dinheiro para pintar as passagens de peões, o Orçamento Participativo é uma maneira de se "safar" e de tentar ficar bem vista, numa manobra de pura ilusão. E quem diz câmara, diz também juntas de freguesia, que devem achar o Orçamento Participativo um petisco para os brilharetes que gostam de fazer.
O "Jornal das Caldas" publicou a lista dos trinta projectos esta semana e a análise é interessante.
As pessoas que os propõem querem obras em ruas e estradas, espaços geográficos (urbanos e não urbanos), um muro numa rua, canalização pública, pavimentações, vias para bicicletas, sinalização vertical, estacionamento, parques de merendas e videovigilância, além da "requalificação" de vários outros locais (palavrão que serve para expressar tudo e nada).
No total, são mais de 300 mil euros que poderão ser gastos nestas obras. Há dois ou três casos em que não aparecem custos indicados. Há outro que tem um "custo estimado entre os 12 mil e os 20 mil euros.
A grande maioria destas iniciativas parece ser importante mas a questão essencial é esta: a responsabilidade pelo que é proposto é da Câmara Municipal e/ou das juntas de freguesia. 
E é a essas entidades, abastecidas pelo Orçamento de Estado, pelos nossos impostos e pelas muitas receitas que vão amealhando (então o que pagamos pela água não dá para a "Remodelação de infraestruturas do Bairro da antiga Quinta dos Pinheiros"?!), que cabe assegurar as obras.
Dos trinta projectos, são os restantes dez os que parecem corresponder ao conceito do Orçamento Participativo: por exemplo, dois são voltados para o apoio profissional e pré-profissional aos jovens (no valor de quase 90 mil euros), um terceiro é uma iniciativa cultural de carácter fotográfico, outro é a instalação de uma estação meteorológica no topo da Câmara Municipal (utilíssima, decerto, para o presidente camarário perceber melhor os fenómenos pluviais...) e duas iniciativas de apoio aos animais abandonadas.
Estas duas propostas são as de maior relevo social, consistindo uma no controlo da proliferação das colónias de gatos errantes na cidade (cerca de 5000 euros) e a outra na construção de abrigos e de vedação do novo espaço de uma das associações de protecção de animais (Rede Leonardo), com o valor previsto de 6000 euros.
No aspecto social, também, são as únicas dignas de relevo e com carácter prático imediato. E deviam merecer o apoio dos cidadãos que, por sua vez, deviam exigir às entidades públicas que gastassem melhor o dinheiro dos impostos que os obrigam a pagar.
Há de ter sido esse, decerto, o conceito original do Orçamento Participativo.
 

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Meia bola e força



Já lá vão quatro meses desde a inauguração, na cidade de Caldas da Rainha, de uma fonte com rãs alusivas a Rafael Bordalo Pinheiro e, apesar do entusiasmo municipal, nem na altura nem até hoje se reconstruiu (ou fosse lá o que fosse) o pavimento circundantes.
O resultado são estas tampas (que se podem ver na fotografia) das condutas da água ou do saneamento que obrigam a fazer manobras que evitem espetar com os pneus dos carros em cima delas. E isto já para não falar da fachada da estação ferroviária, onde mora há meses um pedaço de andaime com restos de plástico que ajuda ao aspecto miserável da coisa.
Agora que já se fala na inauguração da Praça dos Nabos (uma alcunha que é um achado para a emblemática Praça da Fruta), será conveniente recordar esta estranha situação.
Ela é, já aqui o escrevi, um retrato perfeito do desmazelo, da incompetência, do estilo de meia bola e força e da incapacidade dos gestores da Câmara Municipal de Caldas da Rainha em fazerem bem seja o que for.
Não admirará, portanto, que haja qualquer coisa errada, ou por completar, ou qualquer problema que depois fique por resolver na Praça dos Nabos.
Seria bom que todos os críticos da gestão que quis atribuir-se o lema grotesco da "nova dinâmica" se lembrassem disto na reabertura da praça.
E, já agora, que não se esquecessem do muito que ainda falta fazer... a começar pela rua incompleta da Fonte das Rãs.


Verão em Outubro

 
Depois das aranhas e das moscas, os mosquitos. Minúsculos, quase invisíveis, sedentos de sangue. Parecem saídos de um filme de terror/ficção científica dos anos 70. Dá vontade de sair de casa embebido em insecticida.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A limitação castradora dos "thrillers" clericais


Onze anos antes de "O Código Da Vinci" o ser,
 já "O Quinto Evangelho" o era
 
Imaginemos que a sociedade humana, tal como a conhecemos, era composta por seres humanos possuidores de um factor de cura que os tornava imunes a qualquer tipo de agressão física como, por exemplo, a personagem de BD Wolverine, com a possibilidade extra de se regenerarem a partir de uma simples fragmento de ADN. Não haveria bala, lâmina afiada, explosão, veneno, pancada, fosse o que fosse, capaz de matar alguém.
E onde os seres humanos não pudessem ser mortos, morreria outro elemento da vida humana, o "thriller". O homicídio, o tabu supremo, desapareceria e, com ele, a literatura policial.
Porque ela nunca poderia viver de histórias em que uma pessoa fosse morta para depois regressar à vida, inviabilizando tudo, inclusivamente a descoberta do assassino, que o deixaria de ser.
Os "thrillers" históricos de temática clerical têm esse problema: qual é o mistério? Bom, verdadeiramente nenhum.
Os textos bíblicos, oficiais e apócrifos, e os textos sagrados de outras religiões já têm mistérios suficientes para construir histórias enigmáticas mas no domínio da ficção científica.
Esse foi um dos aspectos que mais me irritou quando li (em 2005 ou em 2006) "O Código Da Vinci": qual era o mistério em torno do Santo Graal que deveria esclarecer-se no fim da história? Nenhum. O Santo Graal existe ou não existe. E daqui não se pode sair.
O que pode ser interessante é imaginar uma origem extraterrestre, por exemplo. Mas isso já empurraria a história para o domínio da ficção científica.
O problema dos "thrillers" clericais é este: a sua limitação castradora de ficarem prisioneiros nos limites das convenções religiosas, das interpretações bíblicas (mas mais do Novo Testamento, mais "normalizado") às particularidades do Vaticano em versão Kremlin.
Os seus seguidores, que tiveram desde pequeninos alguma educação cristã, devem delirar com a sugestão de pecado que as especulações do género lhes trazem.
Tendo lido "O Código Da Vinci", traduzi um romance alemão interessante em 2007, intitulado "Das fünfte Evangelium", de Phillipp Vandenberg ("O Quinto Evangelho", ed. Quid Novi).
Publicado em 1993, "Das fünfte Evangelium" era demasiado parecido com "O Código Da Vinci" (que saiu em 1994). A literatura e a cultura alemãs são mal conhecidas fora da Alemanha e é natural que as semelhanças não tenham sido muito notadas.
E se não posso falar em plágio (compreendendo, coitados, que os autores do género também não têm muito por onde escolher), o caso de "Das fünfte Evangelium" só confirmou a péssima opinião que me deixou "O Código Da Vinci". E foi o suficiente para me vacinar contra o género e contra os imitadores de Dan Brown que pela sua vacuidade, verdade seja dita, também não consegue ser imitado senão por quem também nunca teve estilo.



A demanda do Santo Graal é muito mais interessante
quando é conduzida por Indiana Jones





terça-feira, 28 de outubro de 2014

"True Detective": a regra e a excepção

 
O cartaz da primeira temporada com Woody Harrelson (à esquerda)
e Matthew McConaughey (à direita)
 
O "thriller", seja qual a sua forma de expressão, tem regras informais e uma delas é a de que tudo tem de ficar esclarecido ou, pelo menos, os criminosos não podem deixar de ser conhecidos e punidos.
Mas toda a regra tem excepção, como o demonstra a série televisiva "True Detective", cuja primeira temporada vi agora.
"True Detective", criada por Nic Pizzolatto, é a história de dois investigadores criminais na Luisiana, nos EUA, e dos crimes rituais que se vão revelando num período de vinte anos, em oito episódios e 439 minutos de televisão com dois actores excepcionais: Matthew McConaughey e Woody Harrelson. E são as suas interpretações, além de uma realização e de uma cinematografia de génio, que dominam toda a série.
Com representações de estilo quase subliminar assentes em diálogos brilhantes, Matthew McConaughey e Woody Harrelson aguentam a história até ao fim, oferecem-nos como brinde um criminoso que não traz consigo a rede criminosa que servia mas que tem o efeito dramático de garantir o triunfo da lei e da ordem e deixam-nos rendidos a uma história que talvez precisasse de mais tempo para terminar mas que, ao chegar ao fim, nem sequer deixa a impressão de ficar a faltar esse pequeno pormenor.
"True Detective" (que, à semelhança de "American Horror Story", parece vir a ter na segunda temporada outros cenários e outra história, além de outras personagens) é uma das muitas séries de televisão que, de alguma forma, fundem as convenções do cinema e da televisão (e, neste caso, do género em que se insere) e é um dos exercícios mais fascinantes que já vi nas séries de televisão contemporâneas.

 
[Vi "True Detective" numa edição em DVD da HBO Home Entertainment/Warner Home Video para o Reino Unido, de 2014, legitimamente adquirida.]

sábado, 25 de outubro de 2014

A sovietização da política em Caldas da Rainha e o futuro do director da "Gazeta"


A política caldense é como na antiga União Soviética: é preciso tentar ler todos os sinais: quem aparece, quem não aparece; quem está nos jornais, quem não está.
O semanário "Gazeta das Caldas", onde se conjuga um radicalismo populista com um amor desbragado pelo presidente da Câmara, com alguns esforços de jornalismo pelo meio, é um barómetro tão bom como o era a observação da tribuna do Kremlin nos desfiles militares e das fotografias que depois ficavam, retocadas ou não, para a História.
Esta semana, o presidente da Câmara, Tinta Ferreira (ligado por uma relação tão boa ao director do jornal) aparece pela primeira vez, pelo menos desde as eleições de há treze meses, no lado negro da coluna de opinião "A semana do Zé Povinho". Por causa das obras que, por sinal, se arrastam há mais do que treze meses, e sem fim verdadeiramente à vista.
Mas não aparece sozinho.
Aparece com mais duas fotografias e um extenso texto que, em resumo, diz isto: o anterior presidente, Fernando Costa, fez tudo mal feito em matéria de obras (a "Gazeta" parece nunca ter gostado de Costa, que aparece aqui façanhudo e numa fotografia a preto e branco, como se viesse do passado); o seu vereador das obras e hoje "vice" de Tinta Ferreira, Hugo Oliveira (que parece gerar sentimentos contrastantes na "Gazeta" e que é o terceiro do grupo), aceitou a coisa; Tinta Ferreira, como presidente (e ex-"vice" de Costa), foi atrás; a culpa é dos três e, pior do que isso, Fernando Costa até pode regressar.
Ou seja: Tinta Ferreira que se cuide, devido ao pecado que cometeu de ser seguidista.
Lido e relido, o texto parece ser um alerta... ao amigo Tinta Ferreira. Ou um alerta ressentido, como se Tinta Ferreira não estivesse a ser capaz de cumprir alguma promessa feita à "Gazeta", ou ao seu director.
E se havia quem dissesse que o director da "Gazeta" alimentava a expectativa de um futuro político pela mão de Tinta Ferreira nas eleições de 2017, uma coisa é evidente: se Fernando Costa voltar a ser candidato (o que a lei não impede e muita gente desejará, porque as suas obras não eram conduzidas de uma maneira tão visivelmente desastrada), o director da "Gazeta" já não poderá chegar onde consta que talvez desejasse.
Portanto, para se libertar da danação do inferno da "Semana do Zé Povinho" e dar a mão ao director,Tinta Ferreira terá de se libertar do anterior presidente (o que é equivalente a "matar o pai").
Será isso?

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Não querem roubar os autores, pois não?


Um apontamento que publiquei hoje sobre a pirataria num grupo do Facebook (Grupo de Livrólicos Anónimos) com o título "Não querem roubar os autores, pois não?":
 
Quem escreve uma história que depois vos chega às mãos, para lerem (em livro) ou verem (na televisão e no cinema) não o faz por caridade. É o seu trabalho e é a sua profissão e tem de ser remunerado por isso. (O seu investimento não é pagar para ser publicado, de uma forma ou de outra, mas dedicar-se à escrita e escrever.)
Essas pessoas (os autores) só são remuneradas se aquilo que escrevem for vendido. Ou seja, se o público pagar para ler ou ver a história.
É do público que, de uma forma ou de outra, depende também a remuneração de quem publica, de quem vende os livros, de quem revê, edita, pagina e traduz (no caso de obras estrangeiros). O mesmo se passa, na televisão e no cinema, com a remuneração de actores, realizadores, produtores, guionistas e todos os restantes técnicos que trabalharam para concretizar a obra filmada.
Ir "sacar" "à net" livros e filmes e séries de televisão é um acto que retira a remuneração aos que tornaram possível pôr à disposição do público - à vossa disposição - uma história. É por isso que, sem tremendismos, é correcto classificar esse acto como pirataria e como crime. A ninguém passa pela cabeça assaltar um autor para lhe roubar a carteira, pois não?
Choca-me, por isso, e como autor, ver como se considera (mesmo aqui, entre quem gosta de ler uma história e, parece-me, respeita os autores) que não é um roubo ir "sacar" "à net" séries de televisão, filmes ou mesmo livros. E quase sempre, aliás, em deficientes condições técnicas - como um livro sem algumas das suas páginas.
E o argumento, que já tenho visto ser utilizado, de a pessoa não ter dinheiro para comprar o livro, por exemplo, não colhe. Quantos de vós é que, não tendo carro próprio, foram roubar o carro a alguém para se deslocarem? E seriam capazes de o fazer?
Julgo que o Grupo dos Livrólicos Anónimos e os seus membros deviam pensar bem nisto e no modo como, em certos casos, podem estar, directa e indirectamente, a prejudicar os autores.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Ficar na fotografia é que é bom e então com ministro e milhões ainda é melhor...



 
Caldas da Rainha não existe.
Aliás, até se calhar é melhor que não exista, que não se dê definitivamente pelo concelho e pela sua capital.
Das obras intermináveis e sempre atrasadas (porque chove, porque faz sol, porque as empresas não-sei-quê, por causa de tudo e de mais um par de botas) ao estado de degradação absoluta da Lagoa de Óbidos e da sua margem norte, o presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha só quer uma coisa: aparecer no maior número possível de fotografias.
E aqui está ele, na primeira página do "Jornal das Caldas" de hoje, a tentar mostrar, a estender a mão com o copo para o tchim-tchim ministerial, a fazer de conta que tem importância. Não é a Cabovisão, que é onde se está bem, mas ficar no "boneco" ao lado de um ministro até pode ser mais favorável.
E há os milhões, claro.
Mas para quê? E para quem?
A Lagoa de Óbidos, enquanto ainda há esperanças de a salvar, é nominalmente de Óbidos. Os milhões de euros são anunciados em Óbidos. Hão de abrir primeiro as termas das Gaeiras e não as de Caldas da Rainha. Os turistas vão para Óbidos e não para Caldas da Rainha.
E neste lado, da margem norte da Lagoa à Foz do Arelho, da costa atlântica onde o lixo se amontoa à negligenciada Salir do Porto, talvez também ganhássemos todos se pertencêssemos ao concelho de Óbidos.
 
  

"O material realmente valioso era a lista de milhares de agentes e de informadores que trabalhavam para a ditadura de Salazar"


 
Um dos mais bizarros episódios nas operações europeias do KGB durante o meu mandato ocorreu em meados dos anos setenta em Portugal, não muito depois do derrube da ditadura de Salazar.
O Partido Comunista Português era o terceiro maior da Europa (depois do italiano e do francês) e, na segunda metade dos anos setenta, o socialismo e o comunismo beneficiaram de um apoio vasto em Portugal. Aliás, nós tínhamos agentes no serviço de espionagem português e, no caos que se seguiu à revolução socialista que derrubou Salazar, os nossos agentes decidiram-se por um golpe ousado.
Uma noite, com a ajuda de toupeiras e de simpatizantes dentro do sistema de segurança, portugueses ao serviço do KGB levaram um camião até ao Ministério da Segurança e carregaram uma montanha de dados secretos, incluindo listas de agentes da polícia secreta que trabalhavam para o regime de Salazar. O carregamento de documentos foi levado para a nossa embaixada de Lisboa e depois enviado por avião para Moscovo, onde os analistas passaram meses a examinar os papéis. Portugal era membro da NATO e havia material de interesse limitado sobre as operações militares americanas na Europa.
Mas o material realmente valioso era a lista de milhares de agentes e de informadores que trabalhavam para a ditadura de Salazar, informação que os nossos oficiais mais tarde usaram para forçar alguns desses agentes a trabalharem para nós.
Na história dos golpes de espionagem da Guerra Fria, a operação em Portugal não foi um acontecimento extraordinário mas, pela sua simples audácia (levar um carregamento de materiais do próprio Ministério da Segurança), houve poucos que puderam rivalizar com ele.
 
Este excerto é retirado de "The First Directorate" (ed. St. Martin's Press, Nova Iorque, 1994), escrito por Oleg Kalugin, antigo chefe da contra-espionagem e general do KGB (em colaboração com o jornalista americano Fen Montaigne).
"The First Directorate" cobre os trinta e dois anos passados por Oleg Kalugin no KGB e é um relato interessantíssimo de parte das actividades desta força policial e militar da antiga URSS.
Esta obra, que teve depois o título de "Spymaster", terá tido uma edição mais pequena em Portugal com o título de "Memórias de um Espião" (que aparece com a indicação de apenas 127 páginas quando a edição da St. Martin's Press, que é "hard cover" tem quase 400 páginas).
Apareceram algumas referências ao "desvio" do que teriam sido arquivos da PIDE em vários meios, há alguns anos, sendo especialmente interessante as que são feitas pelo jurista José António Barreiros e pelo jornalista José Paulo Fafe (e que podem ser encontradas aqui).
Estranhamente, o episódio descrito por Kalugin parece ter sido, fora isso, silenciado no nosso país.
 
 

Oleg Kalugin e, em cima, a capa da primeira edição
 

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Fox, 3 - AXN, zero

"The Walking Dead" e "American Horror Story" já estão e "Gotham" foi finalmente anunciado. Isto na Fox  (onde continua a faltar "The Good Wife").
No AXN, que parece ter entrado em saldos, não há sinais do regresso de "Arrow" nem de "Boardwalk Empire" e de "The Flash" muito menos.
Porque será?
 
 
"Arrow": que é feito dele?
 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O abandono objectivo de animais: falta a pedagogia

As associações de defesa dos animais têm insistido, e bem, na necessidade de esterilizar animais em risco e fazem-no com pedagogia. Mas essa pedagogia é também necessária num outro domínio: a de prevenir o abandono objectivo, praticado por omissão imbecil por muito boa gente que não cuida como devia dos seus animais.
Pelo que se vai percebendo, de tantos e tantos apelos que vão circulando, e pelo que muitas vezes se vê, há cães que passam num ápice de cães com donos a cães abandonados na versão "perdidos" - como quem perder um par de luvas, um chapéu de chuva ou uma caneta.
O que parece ser mais comum é isto: a pessoa abre a porta e o cão sai, para ir "fazer o serviço". Dá menos trabalho do que ir com ele (ou com ela).
Às vezes, o cão volta; outras vezes, já não. E a partir daí vertem-se as devidas lágrimas públicas porque o cão entra na categoria de "perdido". E, a quilómetros de distância, talvez de "abandonado". Ou de atropelado, também.
Divulgar os apelos (que às vezes parecem tão hipócritas...) dos idiotas que objectivamente abandonam os cães é, enfim, um serviço mínimo que ninguém poderá deixar de fazer, mais para bem do animal "perdido" do que deles. Mas um pouco de pedagogia também não faria mal nenhum: um cão tem de ir, e ser, acompanhado à rua. Por exemplo. É bastante simples.
 
*
 
E, já agora, nunca é demais salientar a importância de um site destes: o Encontra-me (Divulgação de animais desaparecidos), que até faz recomendações úteis, sensíveis e inteligências para evitar este flagelo. Leiam-nas, que só vos  fazem bem.

Verão em Outubro





Hoje, às 7h45.

domingo, 19 de outubro de 2014

"Expresso" diário - uma dúvida

 
Tentei uma vez ir espreitar as notícias do "Expresso" diário, que exige um sistema até compreensível de registo e duplo registo com a senha distribuída na edição semanal, e não me pareceu que valesse o esforço.
Também já não vejo na edição "on line" tantas chamadas para as notícias "diárias" e, com a excepção das crónicas, parece-me que as matérias mais interessantes estão praticamente todas disponíveis na abertura do site.
Por outro lado, a edição desta semana abunda em chamadas de atenção para o "Expresso" diário, como se os frequentadores da edição semanal precisasse mesmo de ser arrastados para lá.
Portanto... estará a dar resultado?
É que, apesar de tudo, esta experiência dirá muito sobre as edições "on line" da imprensa portuguesa, depois do que parece ter sido o fracasso da experiência do "Público" e dos seus conteúdos pagos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

"Lentidão", "abrandamento", "dificuldades", "acidente", "fila"...





 
Mesmo no Outono é agradável, num intervalo do trabalho, poder descer até à Lagoa de Óbidos e apreciar o local, ouvindo apenas um pouco da cacofonia das informações de trânsito e lembrando-me do muito que também sofri quando era obrigado a andar de carro em Lisboa e nos seus arredores, quase todos os dias.
Lisboa deixou de ter qualquer atractivo para mim e agora ainda menos, sobretudo quando a água do céu e do subsolo acabam por ser mais surpreendentemente ameaçadoras do que as do Oceano Atlântico que, daqui, se vêem ao fundo. 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

´"Tomate": o blogue com eles no sítio




O "Tomate", o e-magazine de combate de ideias, passou a blogue e encontra-se aqui.
É um publicação que os tem no sítio... para leitores que também os tenham no sítio.

O Clube dos Livros gostou de "Morte nas Trevas"

Paulo Lima, de O Clube dos Livros, leu agora "Morte nas Trevas" e faz uma análise interessante, e elogiosa, sobre o meu romance mais recente. Eis um excerto (de um texto que pode ser lido aqui na íntegra):

Pedro Garcia Rosado mais uma vez foi cuidadoso e atento nas suas personagens, pois elas ajudam-nos a entrar no livro, a viver isto, a pensar como elas e a sentir. Mais uma vez usa um caso tão real que é o negócio obscuro de trafico de crianças, algo tão presente nos dias de hoje, e faz isto de forma inteligente. É um mestre que usa as suas histórias para mostrar algo de negativo, presente na sociedade, no ser humano. Não vou repetir o que já disse anteriormente mas, se querem bons policiais, este autor irá agradar-vos e merecer o seu devido lugar na vossa estante. 
 
 
 
 

"Vikings": Michael, o Terrível



"Vikings", de Michael Hirst: Travis Fimmel é Ragnar Lothbrok

 
Michael Hirst é um classicista. E gosta de "Ivan, o Terrível", um dos muitos grandes filmes que fez o grande Serguei Eisentein. Mostrou-o nos corredores sombrios percorridos pela rainha Isabel I (a Elizabeth interpretada por Cate Blanchett no filme de Shekhar Kapur, que Hirst escreveu) e agora na recriação da figura semi-lendária do conquistador e rei viking Ragnar Lodbrok, na série televisiva "Vikings"
"Vikings" (duas temporadas por agora, teremos a terceira no próximo ano) é mais um momento  épico de televisão.
Hirst, que também escreveu e produziu o menor "Os Tudors", salvou esta aventura de recorte clássico da banalidade que deu cabo do "Spartacus" televisivo e ergueu uma história de poder e famílias quase fascinante. E conseguiu-o pelos ambientes, pelo enquadramento musical (à excepção da canção do genérico), pelas cores e pela actuação que impôs ao actor australiano Travis Fimmel.
O seu Ragnar Lothbrok é, nas melhores de todas as cenas, uma recriação do Ivan, o Terrível, de Eisenstein, abrigando-se nas sombras, conspirando sozinho ou com os seus aliados de ocasião, perigoso e alucinado, de olhar turvo e enviesado, senhor de grande poder mas com um aspecto por vezes frágil.
É uma interpretação que felizmente faz esquecer algumas sequências domésticas, como aquela a que, talvez num momento de indecisão da história (e da História), se entrega este Ragnar, o Terrível, na paz familiar com um cabritinho ao colo.
"Vikings" já foi comparado, por exemplo, a "A Guerra dos Tronos" pela violência.
Mas é uma violência menos visível do que parece e o melhor de todos os exemplos é a notável cena de tortura da "águia de sangue", em que as costas da vítima são abertas verticalmente, em cada flanco, as costelas lhes são partidas com um machado e os pulmões lhe são arrancados... pelas costas.
Se a vítima não gritar, irá para o Valhalla. Se gritar ficará para sempre condenada. Nós pouco vimos. Mas sabemos, antecipadamente, como vai ser. O tormento do espectador mais sensível é muito pior.
Depois de "Elizabeth" (e esqueçamos o filme que se lhe seguiu), Michael Hirst tem em "Vikings" a sua melhor criação. Já tem direito ao Valhalla dos produtores e argumentistas. Tal como Ragnar Lothbrok.

Travis Fimmel e Michael Hirst já têm direito ao Valhalla

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Para eles está tudo bem...

"Na prática, as instalações das juntas continuam abertas e com funcionários" (PCP), "os autarcas eleitos têm procurado manter a identidade destas juntas, as instalações antigas continuam a estar abertas e a resolver os problemas dos cidadãos" (PSD), "a única coisa que mudou foram os eleitos e as sedes mantêm-se" (MVC), "não se ganhou nada mas também não se perdeu, porque os equipamentos continuam a existir" (CDS) - foi deste modo que representantes das várias forças políticas de Caldas da Rainha se pronunciaram sobre a estapafúrdia fusão de freguesias do concelho, no programa radiofónico "Pontos de Vista" (Mais Oeste Rádio/"Jornal das Caldas"), de acordo com a edição de hoje do "Jornal das Caldas".
A ideia parece ter sido a de fazer um "balanço". Mas talvez os organizadores da coisa o devessem ter ido fazer primeiro às freguesias fundidas e talvez os políticos devessem ter declarado onde moram porque ninguém que more, por exemplo, nas freguesias rurais que foram fundidas com as freguesias da cidade, e por cima de outras freguesias, pode estar de acordo com estes pontos de vista que pouco têm a ver com a realidade.
 
 
Sabem o que isto significa, senhores políticos caldenses?
 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Sempre tudo tão bem feitinho...




A Fonte das Rãs, do tal "roteiro bordaliano" de Caldas da Rainha, foi inaugurada há três meses. Parece que era uma boa ideia.
O pavimento, que continua por arranjar, à espera da conclusão de outra coisa qualquer, e o andaime inútil na estação ferroviária continua lá montado, também à espera não se sabe de quê.
É sempre tudo tão bem feito nesta terra pela "nova dinâmica" da treta do PSD...

Nuno Chaves comenta "Morte com Vista para o Mar" e a literatura policial em Portugal

Nuno Chaves (Página a Página) leu agora "Morte com Vista para o Mar" e diz de sua justiça, numa análise estimulante, cuja leitura na íntegra (aqui) recomendo por inteiro, sobre este livro mas também sobre a literatura policial em Portugal (e sobre uma tentativa de um blogue anónimo de denunciar um caso de corrupção).
Um excerto da sua opinião:
 
Morte e corrupção voltam a ser os ingredientes principais, e sem grandes malabarismos PGR sabe bem para onde quer levar o leitor.
Uma investigação muito credível da Polícia Judiciária (através de Gabriel e Patrícia Ponte) sem falhas a apontar (creio que as habituais descrições técnicas das armas de fogo, eram dispensáveis).
Os sites de encontros sexuais e o vasto mundo da blogosfera estão também presentes e são a meu ver uma mais valia para a história, que a torna ainda mais real e apetecível.
Este caso foi "ficcionalmente real" e qualquer semelhança que possa existir entre o “Novo Bordallo” de Alberto Morgado e "O das Caldas" assinado por um espirituoso “Manguito Ecológico” não é mera coincidência, como já tinha dito PGR.
Atrevi-me a ler vários artigos deste blogue com uma satisfação diabólica e confesso que me diverti muito a ler alguns dos comentários anónimos.
Ainda bem que em Portugal existe tanta variedade e riqueza de casos como este. É uma pena, que não exista mais gente a escrever e a denunciar coisas tóxicas e lixo como este.
 
 
 
 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O Bloco de Esquerda, afinal, gosta do presidente da "nova dinâmica"...


O PS e o PCP dizem que são oposição mas não se manifestaram

Bem podia o BE ter lançado uma espécie de lebre (embora em forma de almôndega) nas eleições autárquicas de 2013 para disfarçar e fazer de conta que era da "oposição" nas Caldas da Rainha quando, afinal, até gosta do presidente da "nova dinâmica" do PSD.
A revelação vem no número desta semana do "Jornal das Caldas", que deu conta de um balanço partidário aos doze meses do herdeiro de Fernando Costa feito no programa "Pontos de Vista" da Mais Oeste Rádio.
"Até ver, dou-lhe o benefício da dúvida", disse Fernando Rocha, (do BE). Não se sabe se é por andar a ver mal, ou pouco, ou por ser "muito bem" recebido na Câmara Municipal, este dirigente histórico do BE desfaz as ilusões de que está na "oposição", considerando que o presidente camarário "é uma pessoa de trato afável e que sabe ouvir" a quem só dá, talvez em jeito de quem pede desculpa e para mostrar (como diz) que o BE "também vai fazendo oposição", uma "nota de 5+".
Mais convictos na oposição e no discurso foram Emanuel Pontes (do Movimento Viver o Concelho) e Rui Gonçalves (CSD).
O primeiro disse, e bem, que o actual presidente "é o presidente dos atrasos na regeneração urbana", dando-lhe "nota 4" e lamentando, sobre os restantes partidos, que "como vivemos num meio pequenino, há coisas que não são ditas ou denunciadas, porque as pessoas são amigas ou trabalham na mesma área e confundem as actividades com o relacionamento". Talvez isto explique, já agora, a ausência do PS e do PCP, que não parecem sequer ter opinião sobre os primeiros doze meses da "nova dinâmica".
Se o MVC e o CDS se mostraram críticos, o PSD, como não podia deixar de ser, deu ao seu próprio presidente "nota 9" e até empregou, sem embaraço nenhum e talvez até com convicção, a expressão "nova dinâmica" que, em termos práticos, anda bem à vista pelas ruas da amargura... e pelo interminável calcetamento da "Praça dos Nabos" de Tinta Ferreira.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Securitas Direct: insegurança (até bancária), assédio e, pelos vistos, iliteracia

 
O que é que se espera de uma empresa de segurança? Segurança, não é? Bom, a Securitas Direct Unipessoal Lda. fornece várias coisas mas segurança... nem por isso.
Eis a história, para ilustração pública.

Há cerca de ano e meio avariou-se um dos dispositivos do sistema de alarme, montado por esta empresa, na porta principal de minha casa. Com isto, a segurança da casa ficou, em grande medida, posta em causa. A reparação demorou duas semanas a fazer-se e foi preciso uma grande insistência da minha parte.
A Securitas Direct (SD) achou que devia compensar-me do seguinte modo: com um desconto de 0,50€ (sim: cinquenta cêntimos) relativamente a esta falha de segurança que não reparara em tempo. Seria, ao que parece, o custo do aparelho.
Não gostei da esmola e, para evitar mal-entendidos e surpresas, cancelei o débito directo que vigorava desde 2007. Com isto, a SD ficou sujeita ao envio da factura para eu a pagar.
Quase um ano depois, o débito directo que eu anulara foi estranhamente reactivado, no banco onde tenho conta e pela mesma SD.
Anulei-o, outra vez, de imediato. E, no banco, garantiram-me que estava anulado.
Mas, passado um mês, o débito directo a favor da SD ressuscitou.
Contra as minhas indicações e, aparentemente, tendo sido "furado" o controlo do próprio banco. Ou, dito de outro modo, tendo sido aparentemente "furados" os mecanismos de segurança do banco.
E o certo é que foi mesmo cobrado por débito directo o valor da factura desse mês, antes de eu me poder aperceber desta insólita falha de segurança.
O banco, no início, não soube explicar o que se passava. E eu tive de reclamar junto do Banco de Portugal para ter a resposta, habitual, de que tinha havido "problemas técnicos". O que não impede uma pergunta: como é que uma empresa de segurança consegue furar o controlo bancário da conta de um cliente?
A partir daí, (re)anulado o débito directo, e parece que de vez, a SD passou a ficar limitada ao envio das facturas.
Mas não lhe era suficiente. E começou então uma ofensiva de telefonemas e de SMS a exigir-me o pagamento... e, várias vezes, antes mesmo de a factura me chegar à caixa do correio.
Os telefonemas chegaram a ser sete e oito por dia e eu acabei por me aborrecer de vez e de mudar de empresa fornecedora. E este mês deixei de ser cliente da SD. Que, já de posse da minha carta a anular o contrato, se lembrou de avisar a GNR de que havia uma "intrusão" (quando o sistema de alarme foi desligado) e de voltar a telefonar-me, mesmo de madrugada.

*

Nisto tudo há uma coisa que me faz alguma confusão: é o facto de nunca a SD me ter dirigido correspondência por escrito, preferindo sempre os telefonemas; nem mesmo quando os seus zelosos funcionários argumentaram que me tinha sido devolvido o valor do débito directo irregular, que na realidade nunca foi devolvido.
Só há duas explicações: ou a SD nem quer abordar esse episódio do débito directo ou, então, não há na empresa quem saiba escrever. É uma estranha iliteracia: sabem fazer "ressuscitar" um débito directo  anulado pelo cliente e pelo banco em que o cliente confia mas depois não me sabem escrever uma carta.
Uma empresa de segurança destas transmite alguma segurança? Claro que não.

 
Nota 1: Informa-me a Securitas - Serviços e Tecnologia de Segurança, S.A., através de e-mail, que as duas empresas (esta e a Securitas Direct Unipessoal, a que o texto inteiramente se refere)  "são empresas totalmente distintas juridicamente, não existindo qualquer relação societária, operacional, legal ou empresarial, entre ambas", informação que agradeço e que, dizendo respeito a esta nota, aqui reproduzo.

Nota 2: Não há mesmo outra conclusão a tirar - trata-se de gente que não dá mostras de saber ler nem de saber escrever. Só surpreende que ainda haja quem vá na conversa e lhes entregue a segurança dos seus bens. Um dia pode haver surpresas...

domingo, 5 de outubro de 2014

Desafiam e inspiram...!

"São séries originais que desafiam, inspiram e, em muitos casos, criam expectativas durante meses. Eis algumas das promessas da ficção norte-americana que se estreiam ou regressam aos ecrãs portugueses em Outubro."
 
Estaremos, com isto, a falar de quê?
De "Boardwalk Empire" (patrocinada e produzida por Martin Scorsese e que já começou há um mês nos EUA)?
De "The Good Wife" (por vezes convencional, por vezes "great television", estreada há três semanas nos EUA)?
De "Gotham" (Batman ainda sem Batman, mas já muito elogiada)?
De "Arrow" e de "The Flash" (inovadoras, interessantes)?
Ou, por exemplo, da iconoclástica e nova coqueluche que é "Orange is the New Black"?
Não. A citação inicial, retirada do "Público", refere-se, no que é realmente interessante, a "The Walking Dead" e a "American Horror Story" e depois a mais 17 séries onde cabe tudo, do mais lamentavelmente banal ao que tem mais fama do que proveito (como é o caso da sobrevalorizada "Segurança Nacional"), e até o tristonho "remake" de "The Killing/Forbrydelsen".
Mas a imprensa da "cultura" é assim - verdadeiramente inculta.
 
Steve Buscemi em "Boardwalk Empire": o "Público" não sabe quem é
 
 
 

Onze meses depois da morte




Foi em Novembro do ano passado que uma pessoa morreu neste local, uma estrada tipo via rápida da Zona Industrial de Caldas da Rainha onde a sinalização horizontal estava praticamente apagada e, num ponto, desaparecida depois de um remendo posto no pavimento.
 

"Jornal das Caldas", 6.11.13

Há poucos dias (onze meses depois...) foi pintada a sinalização horizontal, que está agora bem visível, como sempre devia ter estado.
Onze meses depois, sublinhe-se.
 




Quando, nessa altura, nos referimos aqui a esta situação, o vereador Hugo Oliveira encrespou-se no Facebook dizendo que o meu comentário demonstrava "falta de sensibilidade e de respeito", referindo-se à "falta de chá e de verdade do senhor em causa..." que, talvez por medo, não quis identificar directamente.
Com a pintura da sinalização horizontal, a Câmara Municipal de Caldas da Rainha dá-me razão e ao que escrevi.
E fica bem provado que a tal falta de sensibilidade, de respeito, de chá e de verdade (e de coragem, já agora) não era minha.
 

Cortam-se as canas, fica o lixo




A mando da remotíssima junta de freguesia local andaram a cortar a vegetação junto à bermas das estradas e das ruas nesta zona rural de Caldas da Rainha. E feito o serviço... ficaram as canas na berma, a secar. Mesmo que se argumente que não há risco de incêndio, a burrice (que se repete sempre) é mais um sinal de desleixo. Há quem goste muito de lixo, nesta terra!

A arte no interior: azulejo degradado, tubos da EDP a enfeitar




O pequeno painel de azulejos alusivo às vindimas tem um tom "naif" mas, recuperado, será pelo menos interessante. Os tubos, monstruosos, aí instalados (pela EDP, supõe-se) para a electricidade estragam tudo e adensam o aspecto desolador de uma casa que não parece habitada.
É mais uma imagem típica do interior rural de Caldas da Rainha, cuja elite urbana se está nas tintas para o resto do concelho.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Gente malcriada

Um carroceiro bloqueia uma rua do interior rural com o carro. Está sentado no banco de trás, faz ouvidos de mercador à minha buzina, sai contrariado, manda-me passar ao lado pela valeta, ainda me pergunta estupidamente se eu quero chamar a Polícia (saberá que é a GNR que tem a jurisdição da zona?), manda uma mulher mais velha do que ele sair do banco do condutor, mete-se lá e desce contrariado metro e meio.
 
O motorista de um minibus de um centro social podia parar mais dentro do passeio, que por acaso é a saída de um estacionamento, para conversar, mas pára quase no meio da rua, impedindo a passagem. Depois mostra-se cheio de pressa, erguendo a pata dianteira direita a fazer de conta que pede desculpa e vai-se embora.
 
No supermercado, uma mulher na casa dos trinta para os quarenta e de calça muito justa azul-eléctrica, cujo aspecto sugeriria uma melhor educação, quis passar com o cesto das compras pela caixa. Teve de voltar atrás. Recuei com o carrinho de compras, sem ela me pedir (fiz mal). Sempre de olhos no chão, como uma alimária, a criatura larga o cesto com os outros e, sem um agradecimento, volta à caixa.
Será do calor? Estatisticamente é um pouco preocupante...
 

"Degustação"

Não gosto da palavra "degustação".
É como se "gostar", "provar", "saborear" e, claro, comer e beber fossem alguma coisa de que nos devêssemos sentir envergonhados. Não podemos gostar... só podemos "degustar".
Há, infelizmente, muitas mentes demasiado policiadas ou condicionadas pela perspectiva de que o prazer, qualquer que ele seja, é pecaminoso. E, para elas, "degustar" é que deve ser.
Como se "viver a vida", por exemplo, só pudesse ser aceitável na versão "degustar a vida"...

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Lá chegará o dia...

... em que todos os escritores (e garanto-vos que há muitos, mas mesmo muitos, em Portugal) ganharão em indicar nos seus currículos, ou listas pessoais do que escreveram, as obras publicados por editoras "normais", as que fazem contratos relativos aos direitos de autor e não cobram aos autores, ou por aquelas editoras que, tendo mesmo designações simpáticas, cobram aos autores pela publicação das suas obras.
É que, no primeiro caso, há uma espécie de certificação externa: a editora gostou da obra proposta pelo autor, achou que teria potencial comercial e investiu o tempo de um dos seus profissionais no trabalho sempre imprescindível de "editing"; e, no segundo, a editora serviu de intermediária entre a pessoa que escreveu e a empresa que a imprime, recebendo da primeira uma determinada quantia (quase sempre transformada na compra de um número determinado de exemplares) para suportar esse processo, sem atender à qualidade (muita, pouca, assim-assim) do texto ou à falta dela.
E, infelizmente, o leitor e/ou comprador não se apercebe, em muitos casos, da diferença que até é importante.