domingo, 30 de novembro de 2014

O "prato de Petri" dos salvadores da Pátria



 
A sucessão de " casos" que terminaram (as condenações de Armando Vara e de Duarte Lima) e de outros que começaram (as suspeitas sobre Ricardo Salgado e José Sócrates), que corresponde ao funcionamento normal de um dos pilares do Estado de Direito (por coincidência depois de substituído um procurador-geral que ficará para sempre associado ao primeiro primeiro-ministro português detido por suspeitas de vários crimes económicos) abre um vazio quase "espiritual" na relação da população com os partidos políticos.
Enquanto os partidos das "franjas" (o CDS e o PCP) vão passando por entre os pingos, os mais afectados são os do "centrão", o PSD e o PS do "bloco central" de onde saem os governos.
E esse vazio, que precisa de ser corrigido em cada um dos partidos, transforma-se num "prato de Petri" onde medram todos os salvadores: o advogado que anda a saltitar à procura do poiso mais lucrativo, o ex-autarca que se transforma em pregador televisivo, o reitor que disse mal da austeridade, o presidente de câmara que de certeza quer vir a ser mais alguma coisa. E até às eleições legislativas de 2015, para já não falar nas presidenciais, ainda há de aparecer mais alguém.
Só que destes salvadores da Pátria verdadeiramente nada se sabe. O que se propõem realmente fazer não passa de "slogans" nem sempre bem escritos. E talvez seja por isso que conseguem arrastar seguidores, iludindo mesmo pessoas que não se pode dizer que sofram de iliteracia política.
O Estado de Direito, que até precisaria de uma constituição mais pragmática e menos doutrinária, sobreviverá e o sistema político parece suficientemente estabilizado para não favorecer os aventureiros. Mas há riscos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Porque não gosto dos CTT (87): serviço "Siga" não, vá bardamerda e volte amanhã

 
A empresa CTT apregoa o maravilhoso serviço "Siga", de reencaminhamento; tem os pormenores (nem todos, claro) nos avisos de recepção; tem uma linha telefónica paga por quem telefona onde é hábito esperar e esperar e esperar. Para depois não haver "Siga" para ninguém porque a informação dada (no caso de um registo) é a de que só se pode pedir o reencaminhamento no dia indicado para o levantamento do registo.
É um "bardamerda" em jeito de "volte amanhã", "vá de volta", "não chateie". Porque podia haver uma indicação bem clara logo a começar.
E não há por incompetência, pura e simples, ou porque os números telefónicos "707" também darão dinheiro a quem recebe as chamadas?

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Um primeiro-ministro feroz

... foi uma das personagens (um dos "bad guys", como se costuma dizer) do meu livro "Triângulo", o terceiro andamento da colecção Não Matarás (Asa/Leya) que saiu em 2012.
O caso deste primeiro-ministro ligava-se a uma rede onde se cruzavam negócios vários (lícitos e ilícitos). Depois de "Triângulo", a Leya decidiu cancelar esta série. O seu herói, o inspector Joel Franco, da Brigada de Homicídios da Polícia Judiciária, reapareceu este ano no meu "Morte nas Trevas".



terça-feira, 25 de novembro de 2014

25 de Novembro


 
A minha evocação do 25 de Novembro, com uma história que começa com um homicídio praticado por militares revolucionários, nesse dia tão especial de 1975: "Vermelho da Cor do Sangue", o número dois da série Não Matarás, Asa/Leya, 2011.




A propósito do "caso Sócrates"...

 
Não percebo o porquê de tantas preocupações sobre o que "lá fora" se pensará de Portugal quando um ex-primeiro-ministro é feito arguido e fica preso a aguardar julgamento por suspeitas de branqueamento de capitais, fraude fiscal agravada e corrupção. O certo é que, a confirmarem-se as suspeitas, Portugal demonstrou que podia pedir responsabilidades por atos que terão sido criminais a uma das principais figuras do Estado. Não é que toda a gente tem andado a exigir?
 
É vergonhoso ouvir algumas criaturas do PS, que decerto sabiam mais sobre o ex-primeiro-ministro ora preventivamente detido do que muita gente, a bramar contra a quebra do segredo de justiça. Não faltaram casos de violação grosseira do segredo de justiça nos muitos anos da governação do PS e essas criaturas mantiveram-se sempre indiferentes.
 
Suponho que ninguém acredita que o ex-primeiro-ministro queira ler manuais de filosofia em francês durante a sua estadia prisional em Évora (não é uma leitura nada entusiasmante) mas o pedido de alguns livros desse tipo, relatado pela sua ex-mulher, não deixa de ter graça.
 
Com o ex-procurador-geral da República debaixo de fogo por causa do seu encontro com o ex-primeiro-ministro (e segundo as suspeitas suscitadas por uma escuta telefónica, segundo o "Correio da Manhã"), seria altura, finalmente, de escrutinar o que fez e não fez a Procuradoria-Geral da República sobre as muitas suspeitas que se foram avolumando ao longo dos anos, nomeadamente sobre o "caso Freeport", a licenciatura que nunca existiu e o mais recente "caso 'Face Oculta'". E, claro, sobre o grotesco episódio das tesouradas nas escutas do "Face Oculta". A simpatia que Pinto Monteiro tributa agora a José Sócrates não deve ter nascido ontem.
 
Seria interessante saber o que teriam a dizer Manuela Moura Guedes e António José Seguro sobre tudo isto mas... alguém lhes terá ido perguntar alguma coisa?
 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A irrelevância

 

Nas eleições autárquicas de Setembro de 2013, o Berloque de Esquerda extinguiu-se, eleitoralmente, em Caldas da Rainha, ao perder votos e presença na Assembleia Municipal.
O seu candidato esfumou-se, depois de vários "números", que incluíram um ataque reles ao autor deste blogue.
Hoje, em Caldas da Rainha, o BE é conhecido pelos elogios do seu novo/velho representante ao presidente da Câmara (PSD) e por uma pouco edificante cena de batatada.
É oportuno recordar isto (e que o então berloque-chefe prometeu tirar desforço da minha reação à sua pequena canalhice em Outubro... do ano passado) quando se vê o estado de degradação do BE e a agonia em que entrou.
De uma liderança bicéfala passou a uma coisa partida ao meio e já não parece conseguir impedir que os seus votos sejam absorvidos por alguns abutres políticos.
Não é uma surpresa. É só a confirmação da sua irrelevância.



domingo, 23 de novembro de 2014

O triunfo de Costa: xeque ao rei, com possibilidades de ser xeque-mate


Mais eficaz do que o seu antecessor
a libertar-se de um passado incómodo? 

Reparem bem: o grande triunfador deste fim-de-semana de facas longas, dominado pela detenção do antigo secretário-geral, é o novo secretário-geral do PS. António Costa, entronizado ontem, é um dos grandes beneficiados pela prisão de José Sócrates e pelas acusações que caem finalmente em cima da cabeça do ex-primeiro-ministro.
O PS ainda pode vir a ser prejudicado eleitoralmente por este caso, se a responsabilidade do ex-primeiro-ministro escorrer para outros camaradas seus, mas António Costa já não.
O novo secretário-geral do PS livrou-se da sombra do anterior rei e da sua corte. Com Sócrates isolado, os apoiantes do ex-primeiro-ministro ficam isolados, perdem uma bandeira agregadora, têm de abandonar (pelo menos durante muito tempo) a esperança de um regresso do paladino deles. Candidato a Presidente da República? Não, Sócrates só se levantará (por "feroz" que seja) no caso de uma absolvição absoluta... e daqui a quanto tempo é que isso poderia acontecer? As acusações são pesadas e o que já se vai sabendo é arrasador.
António Costa é advogado de profissão, foi estudante na Faculdade de Direito de Lisboa e, como tal, colega de muitos magistrados e de muitos profissionais ligados ao Direito. Foi quase sempre um estratega cauteloso no seu percurso político. Foi ministro da Justiça, com a tutela do sistema judiciário.
O xeque ao rei que atirou José Sócrates para os calabouços (como a imprensa gosta de dizer) da PSP foi uma jogada perfeita. É natural que se transforme num xeque-mate.
No seu discurso de ontem à noite, no PS onde agora reina em estado de monarquia absoluta, António Costa foi claro.
Não se mostrou contristado mas afirmativo. Não deixou uma palavra ao rei caído em desgraça. Nem estendeu a mãos aos "socratistas". Foi um dia perfeito. O xeque-mate, depois disto, também será dele.
 
 
 
 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

"Happy Valley": se Ken Loach refizesse "The Wire"...



Sarah Lancashire nas ruas de um vale onde a felicidade é poder sair de lá
 
Uma cidade do interior num vale de Yorkshire, no Reino Unido, onde a única alegria é a certeza de sair de lá (segundo a canção de Jake Bugg) é o cenário da mini-série inglesa "Happy Valley", um exemplo grande do "thriller" que, respeitando todos os cânones do género, dá a maior das atenções às questões sociais.
Criada por Sally Wainwright, argumentista, produtora e realizadora, esta mini-série televisiva de seis episódios e 351 minutos tem como grande intérprete a actriz Sarah Lancashire, sargento da Polícia local que, como mandam as regras britânicas, não usa arma de fogo. Começa com um contabilista a precisar de mais dinheiro, o regresso do violador da filha morta da polícia Catherine Cawood, um rapto e tudo começa a correr mal. A toda a gente.
Sarah Lancashire (Catherine Cawood) é uma polícia inesquecível e, pela sua mão, o "thriller" combina-se com o melodrama e com um retrato seco e frio de um ambiente urbano desolado. Há três sequências de grande violência (a morte de outra mulher-polícia e dois embates físicos entre Catherine e o violador da filha, e raptor e homicida, também) e nem um único momento de tranquilidade. A violência não precisa de tiros (os dois únicos tiros são no fim e um pouco à margem do essencial da história) e os rostos, os diálogos e os ambientes mais sórdidos fornecem os elementos fundamentais.
"Happy Valley" pode ser caracterizado por um simples cruzamento de dois factos: se o realizador britânico Ken Loach fizesse um "remake" da grande série "The Wire" em Inglaterra, seria algo muito parecido com "Happy Valley".
 

[Vi "Happy Valley" numa edição em DVD da BBC para o Reino Unido de 2014, legitimamente adquirida.]

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

"Fraturado", de Karin Slaughter: Will Trent parte 2

 E aí está o segundo andamento da história de Will Trent, o dinâmico mas complexado (e agora perceber-se-á um pouco melhor) agente federal das histórias de Karin Slaughter, uma das grandes autoras de "thrillers" dos nossos dias.
"Fraturado" (ed. Topseller, tradução minha) segue-se a "Tríptico" e cria uma nova, e estranha, cena de crime para Will Trent investigar: uma mulher chega a casa, encontra-a arrombada, vê a filha morta e o homem que deve ser o assassino atira-se a ela.
Mas a autora, que desta vez é menos exuberante em matéria de revelações espectaculares, baralha a história, os acontecimentos e as personagens e a intriga desenrola-se talvez mais calmamente, em passos seguros, construindo uma teia sugestiva entre as várias personagens e, não menos importante, a ligação entre Will Trent, a sua nova colega Faith e a terrível Amanda... e a mãe de Faith (relação que será mais desenvolvida nas próximas histórias de Will Trent.
Com a tendência de muitas editoras para só apostarem em autores (e autoras) mais recentes, perdem-se outros nomes, às vezes. Karin Slaughter, que já anda nisto há bastante tempo, merece toda a nossa atenção, graças à dinâmica Topseller.

As vítimas esquecidas do Holocausto



O Holocausto, a hedionda tentativa nazi de exterminar um povo inteiro, não foi apenas feito de campos de concentração, de câmaras de gás, de acções deliberadas de brigadas de assassinos uniformizados e de guetos que não passavam de estações intermédias entre a vida e a morte certa.
Houve uma outra faceta desses tempos que se traduziu numa perda de vidas igualmente grave e também de perda de identidades.
Foram as crianças esquecidas, as crianças judaicas que sobreviveram à ocupação nazi na Europa por passarem por crianças cristãs, acolhidas por famílias cristãs ou apenas escondidas do mundo.
Esta é a realidade retratada pela obra "Memórias do Silêncio" (ed. Vogais, tradução minha), do americano Robert D. Rosen, que a descobriu quase por acaso à mesa de um jantar da Páscoa judaica. Tomando como ponto de partida os relatos autobiográficos de três mulheres que, em crianças, mudaram, de certa forma, de identidade (pessoal e religiosa), o autor abre a porta à revelação de um mundo pouco conhecido mas trágico: estas pessoas não sobreviveram apenas à guerra e ao extermínio (e muitas outras não sobreviveram) como carregam consigo a cruz de, sem terem sofrido os horrores dos campos de concentração, serem tão vítimas do Holocausto como todos os outros sobreviventes. São duas vezes vítimas.
"Memórias do Silêncio" expõe um aspecto menos conhecido da Segunda Guerra Mundial e fá-lo de uma forma hábil: o efeito do mal enraíza-se duranta a leitura e só depois é que se faz sentir com mais força, deixando as recordações bem vivas.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

As melhores bebidas para acompanhar géneros literários


As minhas propostas...


“Thrillers” e histórias de grande intensidade dramática – vinho tinto (Dão)
Romances de menor intensidade dramática – vinho branco (de preferência de uvas da casta Encruzado)
Ensaios e obras teóricas – chá ou café
Biografias – whisky ou aguardente

Ficção científica – vinho verde (branco)
Terror – vinho tinto (Douro)

“Science fantasy” e “Sword & sorcery” – vinho tinto (Alentejo, mas sem a casta Cabernet-Sauvignon)
Pornografia para mamãs – vinho rosé

Pornografia normal – espumante (meio-seco)
Histórias para “jovens adultos” (com ou sem vampiros) – cerveja

“Thrillers” “light” tipo Agatha Christie – espumante (doce)
“Thrillers” históricos de temática clerical – vinho branco leve gaseificado

Histórias de amor – chá de camomila

domingo, 16 de novembro de 2014

Idiotas com cão (9): uma forma de abandono que a GNR não quer ver


Na fechada Fábrica de Rações Avenal, perto do Intermarché de Gaeiras nas traseiras da Auto Júlio e do ginásio Balance Caldas da Rainha, está aprisionado um cão numa casota improvisada que dá a ideia de já pouco se mexer.
O terreno da fábrica, sem sinais de actividade, é enorme. Mas, talvez para funcionar como cão de guarda, alguém resolveu montar uma espécie de casota junto ao portão e prender aí um cão com uma corrente que não lhe permite afastar-se muito.
Qualquer pessoa se pode aproximar, no entanto, que o cão nem dá sinais de vida. Da pouca vida que se calhar ainda vai tendo, porque nem se percebe se o alimentam, ou não.
Há uma semana contactei o Serviço da Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR que me recomendou que falasse para a GNR de Caldas da Rainha. Acedeu, no entanto, a reencaminhar as informações e as fotografias para esses seus colegas.
Enviei-lhes tudo mas, para já, de pouco serviu. Esperava melhor do SEPNA, apesar de tudo.


O portão

A casota improvisada

O cão está lá dentro e já pouco parece mexer-se


"Boss": o coração das trevas





Francis Underwood (o "herói" de "House of Cards") é um anjo, um paladino da verdade e da justiça. O seu único defeito será comer tiras de entrecosto grelhado à mão mas quem é que lhe poder atirar a primeira pedra?
Isto se o compararmos com Tom Kane, o presidente da Câmara Municipal de Chicago da malograda série televisiva "Boss".
Interpretada por Kalsey Grammer, "Boss" (que por acaso é anterior a "House of Cards") é uma incursão do realizador e produtor independente Gus Van Sant na televisão e uma história de política, crime, traição e manipulação de pessoas e da comunicação social.
Durou dois anos (2011-2012) e podia ter durado muito mais no relato das muitas maldades de Kane, que vive ameaçado por uma forma de demência que não é a explicação das suas acções. Não se compreende o fim prematuro que levou e que talvez seja explicado por uma quebra de audiências e pelo desinteresse com a produtora Starz encara os projectos que não são uma fonte imediata de receitas.
Se lhe desculparmos o excesso das sequências de sexo (a certa altura já nem sabemos quem é que anda a "comer" quem...) e alguma falta de subtileza no modo como Kane aparece de repente com soluções surpreendentes para situações em que parece estar à beira do abismo, "Boss" é a mais negra das séries televisivas "políticas", com "House of Cards" quase a pedir desculpa pelos excessos do seu protagonista e "Os Homens do Presidente" no canto oposto do espectro dos sentimentos de cariz político.


[Vi "Boss" numa edição em DVD (temporadas 1 e 2), da Lionsgate Home Entertainment UK, legitimamente adquirida.]

"Gotham": uma boa estreia




"Gotham" (terças-feiras à noite no canal Fox) começou bem. É uma série policial construída com solidez, por enquanto sem surpresas mas com elementos intrigantes.
E é, por outro lado, uma interessante história de origens, que são sempre o calcanhar-de-Aquiles de muitas adaptações para cinema e televisão das bandas desenhadas de super-heróis, que em certos casos acabam por saturar, no cinema, de repetidas que são nos filmes que se vão sucedendo.
De Batman, o grande super-herói da cidade de Gotham, já conhecemos de ginjeira as suas origens (do Bob Kane original à actualização de Christopher Nolan, passando por Frank Miller). E os outros? Tim Burton deu-nos a sua versão de como apareceram o Pinguim e a Mulher-Gato. Mas ainda falta saber muita coisa.
E é aí que entra "Gotham": James Gordon, o polícia perfeito e homem imperfeito e parceiro de Batman (e agora, sabemo-lo, o homem que quer proteger o órfão Bruce Wayne, numa boa interpretação de Bem McKenzie, a estrela da subestimada "Southland"), a Mulher-Gato e o Pinguim, Enygma e a Hera Venenosa e em breve Harvey Dent e talvez mesmo o Joker (seria ele o comediante que vimos neste primeiro episódio?). E vai ser uma história de super-heróis? Se tiver êxito, penso que sim e que veremos como Bruce Wayne enverga a capa do morcego na última de todas as temporadas.
Para já, "Gotham" é bem interessante e os cenários acompanham as representações da cidade ao longo da banda desenhada, da primeira à última cena. Temos ainda 21 episódios, até ao fim desta primeira temporada, para nos deliciarmos com muitos outros elementos. 
Ao mesmo tempo, e este aspecto é fundamental, "Gotham" enquadra-se na estratégia da DC (mais "casa das ideias" do que a Marvel...) de aproveitar a televisão para criar uma base sólida para os seus vários super-heróis: "Arrow" é mais directa do que "Gotham" e "The Flash" (que parece ter sido posta de lado em Portugal pelo canal AXN) acompanha-a. No conjunto são uma boa introdução ao universo dos super-heróis da DC.    

Princípios morais de banda estreita

Se o Doutor Aldegundo de Farias, que eu francamente não sei quem é, passasse a vida a clamar contra o "carjacking", repetindo sempre a mesma coisa com alguns milhares de variações, esquecendo o homicídio, o lenocínio, a corrupção, a violência doméstica e a pedofilia, criando mesmo a Associação dos Carros à Prova de "Carjacking", e o "carjacking" deixasse de ser relevante, em termos criminais e estatísticos, de que se ocuparia ele a partir daí? A ler variantes de "carjacking" nos sistemas de "rent-a-car", em que alguém leva a chave e o carro?
 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Obrar com o dinheiro dos outros

A minha tia costumava, periodicamente, mudar a disposição dos móveis. Por vezes desfazia-se de um móvel e comprava outro. Nunca lhe perguntei porque é que o fazia mas suponho que, de algum modo, se satisfazia com as mudanças que via nas divisões-alvo. Ninguém se queixava, acho eu. E o dinheiro que gastava era o dela. 
O pai de um amigo meu dedica-se a obras na sua propriedade no campo. As suas peripécias arquitectónicas suscitam interrogações entre alguns dos seus familiares mas há alguma lógica funcional no que vai fazendo, mesmo que depois haja algumas soluções inúteis. De qualquer modo, o dinheiro que gasta é o dele.
Um meu vizinho, também na sua propriedade, dedica-se quase todos os verões a construir, ou a refazer qualquer coisa. Uma espécie de anexo, um telheiro, o piso exterior (em calçada portuguesa), a remodelação interior de um dos seus vários anexos... Não vejo que algumas das suas obras tenham utilidade (embora tenham impacto na via pública, ocupada com materiais e lixo) mas suponho que, também, o dinheiro que gasta é o dele.
Olhando para as obras inúteis (o alargamento de passeios, uma praça onde tudo acabou por ficar na mesma, um parque de estacionamento subterrâneo numa vasta área urbana onde não há dificuldades de estacionamento, uma rotunda inútil) que se vão fazendo há ano e meio na cidade de Caldas da Rainha, fico com a mesma sensação: quem detém o poder (e as chaves do cofre) lança-se às obras. Para quê? Por uma questão de ego, provavelmente.
No fundo, é também o que motiva muitos ministros a lançar leis novas. Num país que, como Portugal, tem o aflitivo culto da legislação (que, em excesso, é a mãe de todas burocracias), são poucos os que resistem a deixar o nome associado a uma lei parlamentar, a um decreto-lei ou, se mais longe não conseguirem ir, a um despacho ou a uma portaria.
 



Os presidentes das câmaras municipais têm maiores restrições em matéria de legislação. Porque há sempre leis nacionais mais importantes que os travam, porque as assembleias municipais podem ser um problema, porque há os "lobbies" locais, porque... talvez lhes falte a imaginação.
Por isso, obram. Com a vantagem de o dinheiro não ser deles.
Nas obras (que eu suspeito que vamos ter de pagar mais tarde ou mais cedo) que decorrem na capital do concelho há ano e meio não se vê o que de positivo foi alterado relativamente à situação anterior.
E não só não se vê como a Câmara Municipal também não o mostra, não o diz, não o explica. É certo que isso pode ser atribuído ao desprezo que vota à população, a quem espreme os votos de quatro em quatro anos. 
Mas quando nestas coisas está investida uma tão grande massagem ao ego, inevitável a suspeita de que nem tudo foi claro, de que os atrasos são demasiado estranhos e de que os contratos e as opções deixam muito por explicar.
Obrar com o dinheiro dos outros é o que dá.  

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O feudo dele

Visitante ocasional de Lisboa, não consigo perceber o que fez a gestão municipal do PS e do "candidato do PS a primeiro-ministro" e ainda presidente da Câmara que mereça algum elogio.
A frente ribeirinha pode ser muito gira mas nem me atrevo passar de carro pela Avenida da Ribeira das Naus.
A Avenida da Liberdade é uma confusão.
Vejo agora mais estacionamento em segunda e até em terceira fila do que alguma vez vi.
E, numa zona onde crescem ervas no passeios sem que alguém as extermine, já me sinto tentado a estacionar em passagens de peões porque toda a gente o faz e sem qualquer tipo de problema. Quanto a dias de chuva... bom, nem pensar. Quem lá está que se deixe afundar no Tejo. Ou nos buracos.
É por essas e por outras que não percebo a relativa complacência com que parecem estar a ser recebidas as taxas de dormida e de entrada em Lisboa e que são, aliás, um péssimo indicativo para o que pode vir a fazer o actual presidente da Câmara de Lisboa se, para mal de todos os que não são obrigados a suportá-lo em Lisboa, chegar a primeiro-ministro.
Essas taxas correspondem exactamente à lógica do actual Governo, lançando impostos sobre tudo o que se mexe (e mesmo o que não se mexe), e numa perspectiva que nem é a do tiro ao alvo. É de descarga de metralhadora.
Vejamos: segundo se sabe, a taxa de entrada vai aplicar-se a quem chegue de avião e de barco.
Ou seja, a colecta vai "varrer" todos os que entram por aí, sejam os ricos dos cruzeiros ou os passageiros dos "low cost". Mas quem chegar a Lisboa de carro, de autocarro ou de comboio... não paga? A resposta parece óbvia: não há como cobrar a taxa. Por isso, vai-se pelo facilitismo: quem entra por mar ou por ar não poderá safar-se.
O mesmo se passará, noutra dimensão, com os alojamentos: e os campistas, os que vêm para casas particulares (com aluguer de alojamento clandestino ou alojamento totalmente particular) e... quem quiser, por absurdo, dormir ao relente. Ou, chegando de autocaravana, arranje um local sossegado para passar a noite.
A não ser que isto (que não parece ser mais do que uma medida desesperada de angariação de fundos para o município) seja a antecâmara de uma decisão que tem andado sempre na sombra: a instalação de portagens na capital e, mais do que simples portagens, um controlo apertado de quem entra e de quem sai. A pé, de carro, seja lá como for.
António Costa, que a "esquerda" recebe como uma espécie de César que depois do Rubicão das "primárias" quer conquistar São Bento, tem feito de Lisboa uma espécie de feudo pessoal. 
E de uma forma exemplar como no caso das cheias: de longe, mais interessado no PS do que em Lisboa, atirou aos lisboetas que andavam praticamente com as calças na mão no meio da água, a versão urbana do "não têm pão, comam brioches". Ou seja: aguentem-se à bronca com a água, que não há nada a fazer.
Se é esta a sua lógica como presidente camarário em Lisboa, será natural que a transporte para o eventual cargo de primeiro-ministro. E que traga consigo a ideia das taxas tipo metralhadora.
E se a Lisboa só lhe vou sofrer os efeitos por obrigações pessoais ou profissionais, não gostaria de nada de ver esse feudo alargado ao resto do País. 

domingo, 9 de novembro de 2014

"Woof" - sobre cães, para "o melhor amigo do cão"




Finalmente, há uma revista portuguesa a sério sobre cães. E sobre a relação dos cães com as pessoas e das pessoas com os cães, com crónicas, fotografias, artigos úteis da psicologia canina ao que comprar e numa perspectiva correctíssima que privilegia o treino do cão... e, não menos importante, a formação dos donos. Aliás, é interessante que esta revista (a "Woof") se apresente com o lema "A revista para o melhor amigo do cão".
A "Woof" está distante, muito distante, das revistas até agora existentes em Portugal e que pouco mais eram do que boletins de publicidade jornalisticamente nulos.
Tem algumas parecenças, e bem, com a norte-americana "The Bark" (de que aqui falei) e só precisa, além de ganhar mais público e de poder passar a revista mensal, de corrigir um pouco a exuberância do seu grafismo. Porque, quanto ao resto, está no rumo certo.
Fica a recomendação: é bimestral, vai no número 3, existirá em www.woof.pt (que, por enquanto, só remete para o Facebook), tem 98 páginas, distribuição nacional, custa 3,90€ (com 0,10€ do preço de capa de cada revista a serem doados à comunidade Mov4Patas) e comprá-la é também dar força a um projecto que pode ajudar as pessoas a conhecerem melhor os cães... e os cães a serem melhor tratados.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

As obras do umbigo da "nova dinâmica" do PSD caldense

Uma das coisas mais idiotas relacionadas com as obras de milhões de euros que se arrastam há quase ano e meio na cidade de Caldas da Rainha é a impressão que vai ficando de que elas são pensadas, em primeiro lugar, apenas em função de uma minoria que vive no centro da cidade.
Por exemplo, por muito que a Câmara Municipal de Caldas da Rainha ache que as rãs de cerâmica postas há cinco meses numa espécie de chafariz (no meio de uma mini-rotunda pejada de tampas de esgotos bem salientes) vão ser um "must" para atrair visitantes, o certo é que nada existe que conduza às figuras "bordalianas".
E, além do mais, pensarão os dirigentes daquilo a que chegaram a chamar "nova dinâmica" que alguém quer ir participar num rally por entre as tampas do saneamento?!
As estruturas existentes no exterior do "complexo desportivo", com o seu sórdido aspecto de degradação infinita, serão talvez o melhor exemplo dessa perspectiva umbiguista relativa às obras.
As instalações desportivas, que incluem desde piscinas a pistas de atletismo, recebem muitos participantes vindos de fora da cidade e do concelho. E, se repararem no aspecto miserável do exterior, que impressão levam de Caldas da Rainha? Esta, muito simplesmente: que há por aqui zonas de Terceiro Mundo que nada convida a visitar.




Na imagem de baixo vêem-se, no outro lado da estrada, as máquinas amarelas de prática de "cárdio" postas à disposição de quem as queira aproveitar.



É uma ideia bondosa, claro, mas é deprimente que a União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro se vanglorie da coisa.
Esta mistura de duas freguesias pelo topo (uma citadina e a outra do interior, com uma terceira freguesia pelo meio) só favoreceu os seus residentes da cidade porque a Serra do Bouro (ex-freguesia que fica à astronómica distância de dez quilómetros da cidade) é cada vez mais desprezada pelo poder autárquico como, aliás, todo o interior do concelho. Pelos que se extasiam com as obras pensadas para satisfazerem o seu próprio umbigo.
 

Obras domésticas tipo DDT...



... Ou seja: dono-disto-tudo. Mesmo quando não lhe falta espaço no terreno.
A rua é dele, portanto. E o lixo da obra é de quem?

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O que pode correr mal vai mesmo correr mal?

 
Não há nas obras que só por ironia se podem dizer serem de "regeneração" urbana, na cidade de Caldas da Rainha, uma única coisa bem feita.
Dos passeios áridos e desmesurados da Avenida 1.º de Maio ao pavimento por terminar que rodeia a inóspita fonte das rãs, não há obra que tenha corrido bem. E não acredito que, no meio desta confusão, possa ainda haver alguma que corra bem.
Na Câmara Municipal de Caldas da Rainha vigora a chamada "lei de Murphy": o que pode correr vai mesmo correr mal. Nada fica bem feito, a tempo e horas ou completo.
A novela tristonha da Praça da Fruta/Praça dos Nabos parece que termina na próxima segunda-feira com o regresso dos vendedores ao local.
As obras atrasaram-se, atrasaram-se, atrasaram-se.
Houve percalços inaceitáveis.
Assistiu-se à cena do ex-presidente da Câmara a substituir-se ao actual no terreno e como interlocutor dos calceteiros.
Veremos se o que pode correr mal vai mesmo correr mal. Parece, aliás, que já começou a correr mal.
 


"Jornal das Caldas", 1.ª página, edição de 5.11.14

Os ministros e a Catherine Deneuve do "Allgarve" mas talvez não a do Parque Eduardo VII

 
Catherine Deneuve meteu-se na banheira com Manuel Pinho? Não. A actriz, que até parece ser uma senhora distinta, estava na campanha do extinto "Allgarve", do antigo ministro da Economia Manuel Pinho, quando este (e foi ele) se atirou para a mesma água da piscina onde estava o campeão de natação Michael Phelps.
 

No banho com ele

Aparentemente terá sido esta mistura (de quem vai para o banho com quem) que baralhou o actual ministro da Economia na sua hilariante prestação parlamentar de hoje.
A SIC, que deu destaque ao episódio, recordou a história do "Allgarve" e achou que chegava.
Vamos a ver o que fará o "lobby" antigovernamental da imprensa nos próximos dias e se deixa passar a oportunidade de recordar a célebre reportagem da revista "Le Point" de 2003 sobre o dirigente partidário e governamental que ia aos rapazinhos para o Parque Eduardo VII, em Lisboa, mascarado de Catherine Deneuve.
A oportunidade é de ouro mas há aquele provérbio dos telhados de vidro que é capaz de lixar tudo. 


O diabo está nos pormenores


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Varrer o lixo para debaixo da carpete


É uma prática comum por estas bandas: corta-se a vegetação e atira-se o que fica para trás das canas ou da restante vegetação; deixa-se ficar à beira da estrada ou do caminho, de preferência tudo bem acamado para não se notar muito.
Acontece aqui pela Serra do Bouro (Caldas da Rainha), acontece na zona da Lagoa de Óbidos, desta vez executada por um sujeito com um colete a identifica-lo como pertencente à Junta de Freguesia da Foz do Arelho, com uma espécie de ajudante.
Não se percebe se é desleixo se é pouca vontade de trabalhar. Mas é como varrer o lixo para debaixo da carpete, na esperança de que ninguém veja. Eu por acaso vi, desta vez.


Idiotas com cão (8)


A fazer de conta que não é nada com ele
 
Na margem da Lagoa de Óbidos, a caminho da Foz do Arelho: de um lado uma mulher que leva (ou o cão a leva a ela) um cão maior do que ela mas pela trela; do outro lado um homem que, de trela na mão, deixa o cão andar à solta. É preto e grande.
Não reparei no encontro mas os gritos da mulher ouviram-se bem para perceber que não queria que o cão preto se aproximasse do seu. O homem apressa o passo, prende o cão e lá vai ele, sem dizer nada (não lhe saiu o "ele só quer é brincar" imbecil que é comum nestas coisas) e anda ainda mais depressa, ou por arrogância ou por perceber a asneira que fez.
Mas uns metros mais à frente solta outra vez o cão que, entretanto, se distancia dele e num horizonte visual em que o homem já não o vê. É habitual, claro está, que estes idiotas pensem que o mundo é deles, que os cães voltam sempre e que os controlam à distância tipo telecomando. Mas enganam-se em tudo.

O fim do actual governo e a antecipação (ou não) das eleições

Um excerto do meu artigo no "Tomate", que pode ser lido na íntegra aqui:
 
"A antecipação das eleições seria um novo horror, atenuado por algum bodo orçamental aos pobres para começar mas depois… com mais do mesmo, segundo se pode supor.
Sem alternativas credíveis, e com tudo a jogar contra o actual governo e contra as consequências do que poderá ser o próximo, a impressão de fim de regime traz consigo uma nuvem negra de indefinição política.
Ninguém a quererá mas o arrastamento desta crise subliminar ameaça transformar tudo, e abertamente, num pântano. 
De certa forma, o actual fim de regime traz consigo a possibilidade do fim do regime."
 
O "Tomate": agora em blogue
e sempre com eles no sítio
 

sábado, 1 de novembro de 2014

Os bombardeiros russos...

... não me impressionam tanto como os mosquitos que andam ao ataque há vários dias.
Parece que também atacam em Lisboa (onde podiam concentrar-se, visto que dizem que lá é que se vive bem) mas daqui não saem e, ontem à noite, o cenário deles pousados no tecto alto de um restaurante de São Martinho do Porto, fazia lembrar as aves de Hitchcock.
Não se arranja um F-16 para aqui, para a Serra do Bouro, por acaso? 

EDP - A Crónica das Trevas (65): nuvens

Com algumas nuvens no céu e uma ligeiríssima descida da temperatura, a EDP descontrolou-se: às 6 horas não havia iluminação pública e às 6h50 a luz vai-se por completo abaixo durante dois pequenos "apagões". Gostava de saber porquê.