sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O pobre das Caldas que foi comprar um Ferrari

Foi de fato e gravata, barbeado, apresentando-se bem falante e, talvez por um primo ser do mesmo partido do dono da empresa, comprou um Ferrari.
Com crédito, claro, que umas vezes é fácil e outras não. Vai andar de Ferrari por aí mas pagá-lo é que não. A família, que pode até dar umas voltinhas, que se desenrasque com o custo.
Foi um negócio assim que o presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha fez com as Termas das Caldas, com a ajuda do "primo" Governo (que parece ter ficado surpreendido) e uma complacência estranha da Assembleia Municipal. O custo da brincadeira será um milhão de euros por ano. Nós pagamos, claro.
É um negócio de loucos, de quem parece ter muito dinheiro sem no entanto passar de um pelintra. É uma espécie de "de boas intenções está o inferno cheio" e nós que ardamos nele.
O Governo quis livrar-se do hospital termal e do conjunto arquitectónico e paisagístico adjacentes, que não conseguia, ou não queria, gerir e sustentar e fez uma proposta de cedência à Câmara. E esta... foi na conversa. Dá-lhe jeito, internamente. Junta-se a fome à vontade de comer. Mas a refeição é cara.
O presidente da Câmara, que nem sequer terá encontrado parceiro externo para o empreendimento (nem sequer a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa), está vagamente ciente dos custos e, talvez num deslize de sinceridade, confessou-se "preocupado às boas almas da Assembleia Municipal que acharam que o essencial seria o património das termas estar "do lado de cá": a brincadeira vai custar um milhão de euros por ano, pelo menos, e durante 50 anos.
Só que os benefícios para o presidente e para o PSD local, que tão bem quer servir, sobrepõem-se, como se sobrepuseram, a outras "preocupações".
Veja-se só: a Câmara conseguiu finalmente ficar com as termas; haverá projectos, concursos, declarações de boas intenções e, com estas e outras (que as oposições não percebem), ganham-se outra vez as eleições autárquicas daqui a cerca de dois anos e meio; com sorte pode haver fundos comunitários, ou um governo outra vez mãos-rotas ou mais projectos, estudos e concursos; ou um qualquer fundo internacional a chegar-se à frente, se tiver investidores...
E haverá hospital termal a funcionar quando? E os decrépitos pavilhões? E o parque? Num horizonte tão longínquo não há problema porque cairão sempre umas chuvadas que justificarão todos os atrasos.
Neste processo, que de certa forma chegou ao fim na reunião da Assembleia Municipal do passado dia 20, as oposições fizeram figura triste.
Talvez intimidadas pelo mal que poderia parecer dizer "não" à aventura, dividiram-se entre o disparate (o CDS/PP e o MVC votaram... a favor!), a versão "cautela e caldos de galinha" (o PS absteve-se, na posição apesar de tudo mais inteligente) e a cassete (o PCP votou contra... porque defende o SNS).
E agora... é esperar pela conta. Um milhão de euros a dividir pelos residentes no concelho dá quanto, por dia?
 
 

 
... E gastar 1 000 000 € por ano com a brincadeira. Pelo menos.
 
 
 


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