sábado, 28 de novembro de 2015

Feira de vaidades



 
À noite, a coisa pode ter bom aspecto e garantir, depois do anoitecer, algumas horas de vigoroso prazer solitário aos políticos caldenses (com os da Câmara Municipal a poderem vê-la mesmo à frente dos seus vaidosos narizes) e algumas ilusões de grandeza aos habitantes dos prédios vizinhos mas de dia, que é quando há mais gente nas ruas da capital do concelho de Caldas da Rainha, não passa de uma estrutura metálica sisuda e desinteressante.
Porém, num raio de quinze quilómetros, nas freguesias rurais cada vez mais votadas ao abandono, o que existe são candeeiros públicos que iluminam mal, buracos nas estradas, lixo pendurado nas árvores e idosos isolados.
A Câmara Municipal de Caldas da Rainha, a "nova dinâmica" que dela se apossou (e os seus aliados que às vezes se enfeitam como oposição) bem podiam trocar esta feira de vaidades por um gesto realmente natalício dirigido aos desprezados munícipes do interior.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O País não lhes interessa

Uma das coisas que torna mais incompreensível este governo do PS (assente na tríade que o partido de Soares, Sócrates e Costa constituiu com o BE e o PCP) é o seu carácter circunscrito: não há uma orientação nacional para combater a "direita".
Se o PS primasse por um mínimo de coerência estaria já a estabelecer contactos e a preparar as eleições autárquicas de 2017 com os representantes locais do BE, do PCP e todos os adversários locais do PSD, pelo menos em todos os concelhos onde o PSD (e por vezes sem o CDS) mantém maiorias  absolutas que os seus opositores nunca conseguirão vencer se continuarem fragmentados.
Mas não é o que acontece. E o que se vê é que à "esquerda" basta sustentar um político e um grupo sectário ambiciosos, interesseiros e oportunistas em Lisboa porque o resto do País já não interessa rigorosamente para nada.
 

Os aliados do terrorismo

Em Janeiro foi o ataque cirúrgico ao "Charlie Hebdo". As autoridades francesas (ah, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade...) devem ter pensado que lamentarem-se era suficiente. Os atentados deste mês em Paris mostraram que não era.
O terrorismo é difícil de combater porque não tem um alvo. Tem centenas, milhares ou mesmo milhões de alvos: todos nós, todos os países, todos os locais. E os terroristas podem estar em qualquer sítio, ser qualquer pessoa. E, se não há melhor solução, uma das armas de combate ao terrorismo é essa mesma: o terror.
Há quem não goste, claro. Como é o caso do "Público" que hoje, numa afirmação quase programática, se queixa da "deriva securitária" em França, que é esta: "A polícia francesa arromba portas de norte a sul do país à procura de radicais islâmicos" (primeira página).
Politicamente, e como ensinaram os velhos mestres, este posicionamento do "Público" faz deste jornal um aliado (objectivo) do terrorismo.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

25 de Novembro: do contragolpe de 1975 ao golpe de 2015


O PS chegou a pegar em armas (e a distribuí-las, ao que consta) no dia 25 de Novembro de 1975 para, numa lógica de contragolpe, combater o que foi visto como uma tentativa de golpe militar estimulado e participado, entre outros, pelo PCP (que cedo tirou o cavalinho da chuva, se é que verdadeiramente o tentou lá pôr) e pela UDP e pela LCI.
Quarenta anos depois, e apesar de derrotado nas eleições, o PS salta da cama em que se foi meter com o PCP, a UDP e a LCI e os seus herdeiros e herdeiras para o Governo da Nação. O PCP e a extrema-esquerda não mudaram. O PS mudou e a lógica de golpe que quis combater é aquela que põe em prática.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Asilo político para rolas com alimentação incluída


Desde há algum tempo que resolvi alimentar com regularidade as aves que me passam pelo jardim, nomeadamente rolas, passarinhos diversos e melros (e, de passagem, ratos oportunistas de que não tem sido fácil livrar-me).
Este ano comecei por um prato de barro com comida apropriada para as rolas (e as outras aves não se fazem rogadas) em cima de um pote. A proximidade do chão (e a ameaça dos ratos) e a aproximação do mau tempo levou-me a procurar um abrigo apropriado.
Numa pequena empresa de Lisboa (a Natur Eco) encontrei abrigos mas os modelos disponíveis eram pequenos para as rolas. Mas não houve problema: fizeram-me prontamente um abrigo de maior dimensão.
A pequena casa começou por estar em cima do pote. As rolas aceitaram-na. Depois passou para o alto de um poste. Com alguma relutância, as rolas também começaram a ir lá e agora, embora estejam aqui mais desconfiadas do que na posição anterior, já aceitaram o abrigo. E ei-las, captadas ainda à distância para não se assustarem.
É uma visão que mais especialmente me agrada sobretudo quando, às quintas-feiras e domingos, ouço o tiroteio assassino dos caçadores que andam por aqui.












E se baixassem o IVA dos médicos veterinários em vez do IVA da restauração?

 
Cuidar de um animal de companhia doente (cão ou gato ou mesmo outros) pode ser caro. Os medicamentos e todos os procedimentos médicos são mais caros do que os seus equivalentes na medicina humana.
Os veterinários (e a minha experiência de vários diz-me que a maioria é de uma dedicação e de uma atenção que podem ser superiores aos outros médicos que nos tratam da saúde) estão sujeitos a um IVA de 23 por cento. Como acontece no regime deste imposto, cobram e têm de entregar o seu valor ao Estado.
Não há, na saúde animal, nada que alivie a despesa. Um seguro pode cobrir situações muito graves mas, como faz parte da lógica destas coisas, é mais o que as seguradoras cobram do que pagam. É, infelizmente, natural que muitos animais domésticos fiquem privados dos cuidados médicos que deviam ter.
O PS, o BE e o PCP fizeram finca-pé na diminuição do IVA da restauração, actualmente em 23 por cento, sem que dessa medida puramente demagógica se possa esperar (como os próprios já avisaram) qualquer baixa no preço das refeições. O sector da restauração é como os outros: existe numa lógica de comércio. Como acontece no regime do IVA, cobram e têm de entregar o seu valor ao Estado.
Não faz sentido baixar o IVA na restauração quando, por exemplo, há actividades de muito maior relevância social que não beneficia dessa intenção. E cujos volumes de negócios (e de IVA arrecadado, portanto) deve ser bastante menor.
É o caso dos médicos veterinários. Baixar o IVA dos médicos veterinários (e note-se que os seus colegas que tratam dos seres humanos estão isentos do IVA) seria muito mais correcto e muito mais justo e, nesse sector, estou certo de que muitos baixariam os preços das consultas e, se fosse o caso, dos seus serviços exclusivamente clínicos. E a saúde dos animais ficaria melhor defendida.
 
 
*
 
 
Na Assembleia da República há um partido (o PAN) que se arvorou em defensor da "causa animal". Os três projectos legislativos com que se estreou foram, para citar um título de jornal, "benefícios fiscais para associações ambientais e zoófilas, Procriação Medicamente Assistida e adoção gay". Não se vê onde é que, nisto, a "causa animal" seja defendida.


Contar com o ovo no cu da galinha

Não são necessárias reuniões com banqueiros, elucubrações teóricas em pose de estadista, proclamações académicas ou telefonemas internacionais do técnico que já parece babar-se de expectativa perante a possibilidade de ser ministro das Finanças. 
O segredo da política económica e financeira que a componente PS da tríade PS/BE/PCP quer levar para o Governo é este: 
“Não só não reduzimos o IRC, a coligação reduz o IRC e vamos ter um aumento do conjunto de prestações e rendimentos, que permitirão aumentar o consumo – por essa via um impacto na procura e também no crescimento económico. Temos aqui este duplo efeito: um ajustamento mais moderado nos primeiros anos, e por outro lado um conjunto de medidas que tem um impacto na nossa economia diferente. Permite que a economia cresça, como permite ao Estado arrecadar mais receitas, seja por via do IRS, seja do IVA. No modelo com o qual trabalhamos, conseguimos cumprir o défice orçamental, mesmo com o aumento das despesas.”
Quem disse isto, talvez com a inocência das crianças a que São Mateus se refere, foi o fogoso deputado, e um dos “alter egos” de António Costa, Pedro Nuno Santos, em entrevista ao “Observador”. Talvez por vir no fim da entrevista, ou por ter sido no meio da confusão noticiosa decorrente dos atentados terroristas em Paris, ninguém parece ter reparado.
O raciocínio, teoricamente, é bondoso. Mas apenas em teoria. Porque a prática pode ser outra coisa.
Recordemo-nos de que em 2009 o governo de Sócrates e Teixeira dos Santos aumentou os salários da função pública e baixou o IVA. E que em 2010 anunciou as primeiras medidas de austeridade (sim, foi o PS que a inaugurou, também desta vez), travando o consumo. E que em 2011 pediu a intervenção externa porque já não havia dinheiro. E o consumo caiu mesmo.
O que acontecerá, perante a recordação dos últimos anos de austeridade e perante a incerteza em que já vivemos e voltámos a viver? Os que vão voltar a receber mais (por via dos aumentos na função pública e da TSU e dos escalões do IRS) vão começar logo a gastar? Ou vão esperar para ver? E se o consumo baixar, entre o Natal deste ano e o período de férias de 2016, onde é que estão as receitas fiscais que permitirão a um governo despesista como o do PS/BE/PCP fazer flores? 
Àquilo que o PS está a querer fazer nesta sua aventura chama o nosso povo (para citar Jerónimo de Sousa) “contar com o ovo no cu da galinha”. 
 

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

"Winter is coming"





O medo que o Syriza não teve

Não há jogos de palavras que iludam o facto fundamental: o eleitorado, em 4 de Outubro, escolheu para governar a coligação PSD/CDS e não a mistura PS/BE/PCP. Podia tê-lo feito, se a mistura tivesse sido coligação. Podia, até, ter dado a maioria absoluta ao MRPP. 
Daqui decorre um outro facto que também não pode ser iludido: a legitimidade do PS, do BE e do PCP para governarem (dentro, fora ou encostados ao poder) é constitucionalmente límpida. Politicamente não o é. O golpe de Estado, a reviravolta imposta, neste caso, não é constitucional mas político. Embora possa ter efeitos na esfera constitucional.
A ilegitimidade de uma opção política, de regime, que não corresponde à vontade do eleitorado, só se resolve de uma maneira: novas eleições legislativas, para o eleitorado poder confirmar a opção pela coligação PSD/CDS ou por uma eventual coligação PS/BE/PCP.
A realização de novo acto eleitoral exige uma alteração da Constituição e foi isso que Pedro Passos Coelho propôs, para permitir esse tira-teimas. Mostrando que o PSD e o CDS não têm medo de enfrentar novas eleições.
O PS, o BE e o PCP recusaram a proposta. Mostraram, desse modo, que não querem sequer legitimar politicamente a sua união. Ou seja: tiveram, e têm medo, de que o eleitorado rejeitasse a sua aventura.
Na Grécia, depois de ter engolido o orgulho e uma nova fase de austeridade, o Syriza (o bem amado Syriza do PS e do BE) não teve medo de fazer novas eleições que, apesar dessa capitulação, lhe deram nova maioria.
É significativo que António Costa e o PS não tenham a coragem que Alex Tsipras e o Syriza mostraram ter. A isto chama-se cobardia.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

O PS não gosta das opiniões alheias

 
O meu comentário, posto no blogue dos Vereadores do Partido Socialista de Caldas da Rainha 2013/2017 a propósito disto, não foi publicado.
Também parecem fazer o que criticam ao PSD local. 

domingo, 15 de novembro de 2015

La même chose

 
Em 7 de Janeiro deste ano, quando foi lançado o ataque terrorista ao jornal francês "Charlie Hebdo", o presidente da República francesa era François Hollande.
Agora, dez meses depois, quando foram lançados novos ataques terrorista e numa escala nunca antes vista em Paris, o presidente da República francesa continua a ser François Hollande.
O terrorismo só pode ser combatido eficazmente quando as lideranças políticas (e militares) forem fortes, determinadas e corajosas. O resto é conversa. Com mortos e feridos.

Lixo




O espectáculo, que há de ter sido decerto muito interessante, foi há dois meses e meio mas os respectivos cartazes de plástico continuam pendurados, uns inteiros e outros rasgados, nas árvores e nos postes à beira da estrada.
Quem os pôs não os tira. As autoridades municipais (e de uma junta de freguesia que se mudou para a capital do concelho, que é o que está a dar...) fazem vista grossa.
Mas os seus representantes devem ter passado por aqui quando, há duas ou três semanas, vieram de autocarro à noite fazer uma reunião da Assembleia Municipal em formato de "show", mas ou não repararam ou já estão habituadas à porcaria. Que, note-se, não é só a dos nojentos contentores verdes que a Câmara Municipal de Caldas da Rainha adora espalhar pelo concelho.
 
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É assim que se promove o vinho num restaurante

 
Uma carta de vinhos com todas as regiões vinícolas do continente representadas (de Trás-os-Montes ao Algarve) com notas gerais sobre cada uma delas e as castas e anos de colheita de cada vinho, com um vasto leque de digestivos (incluindo uma boa representação de aguardentes bagaceiras), espumantes e champanhes); um armário com praticamente todas as garrafas bem à vista e um outro armário com os digestivos e copos adequados. E a carta está disponível na internet, no site do restaurante, aqui.
É assim que se promove o vinho num restaurante, a fazer lembrar (numa versão adaptada aos novos tempos) a mítica carta de vinhos do lisboeta Isaura. 
E o restaurante é o Naco na Pedra, em Salir do Porto (Caldas da Rainha), um dos meus restaurantes preferidos deste concelho, que tenho elogiado pelas suas muitas qualidades, pela simpatia e profissionalismo do serviço e pela capacidade de resistência que os seus responsáveis têm demonstrado.
O esforço feito na composição da carta é de assinalar.
Fugindo ao facilitismo (muito Alentejo, algum Douro, vinhos industriais do Dão), preenche todas as regiões, sobretudo nos tintos mas também nos brancos: Trás-os-Montes (com 9 tintos), Douro (22), Dão (17), Bairrada (8), Beira (3), Tejo (9), Colares (6), lisboa (9), Alentejo (20), Setúbal (11) e Algarve (4). A região dos vinhos verdes talvez seja, comparativamente, a menos representada e, para os apreciadores, até tem uma lista de rosés. E o "vinho da casa", de Figueira de Castelo Rodrigo, pode ser vendido tanto à garrafa como em jarro de meio litro.
No caso do Dão (que conheço muito bem), se há vinhos para descobrir, há também uma presença que é de festejar: os tintos e o branco da Quinta da Fata (Vilar Seco, Nelas, para mim talvez o melhor produtor de vinhos do Dão) estão na lista e quem quiser pode ir confirmar a minha opinião. Só tem a ganhar com isso, se gosta de vinho.



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

As portas do Paraíso

Não sei o que é mais chocante nisto tudo: se a expressão de alegria de “chico-esperto” do secretário-geral do PS (vai ser primeiro-ministro, que bom) ou a crença do “povo de esquerda” de que se abriram as portas do Paraíso e o tom vingativo e raivoso com que vitupera a “direita”.
E, em parte, compreende-se. Os apoiantes, eleitores, simpatizantes e até clientes do PS, do BE e do PCP viveram durante quatro anos na ilusão de que o Governo PSD/CDS cairia. Com manifestações, greves gerais, cantigas, insultos e até mesmo com moções na Assembleia da República e de certeza que nas eleições legislativas deste ano. E depois... o Governo não cau. Pior do que isso, o PSD e o CDS não só ganharam as eleições como ficaram à beira da maioria absoluta. Que azar.
Durante estes quatro anos, o PS (como se não lhe coubesse a responsabilidade da bancarrota de 2011), o BE e o PCP estimularam a contestação e foram garantindo sempre que haveria dinheiro para tudo, ou pelo menos para os sectores onde esperam pescar mais votos. Reformar o Estado? Não. Manter o Estado de quem sempre esperaram (e receberam) tudo é que sim. Porque, como sempre, este Estado é o que dá mais empregos ao PS e mais dinheiro à aristocracia operária do BE, do PCP e da CGTP.
Este encontro da fome com a vontade de comer, tendo como pano de fundo a promessa dos “amanhãs que cantam”, deu nisto: uma estranha mistura de acordos assinados à escondida e só com fotografia oficial entre o PS, o BE e o PCP (esqueça-se o PEV, que é ridículo demais mencionar o apêndice), o derrube do governo da coligação que ganhou as eleições numa atmosfera de vingança e... milhões de euros a voarem para os bolsos dos vingadores.
O Paraíso que o PS, o BE e o PCP prometem ao “povo de esquerda” é só isto: mais dinheiro. O curioso é que o prometem com o “já” do costume: 2016. Só.
Mas os tais acordos têm mais buracos do que um queijo Emmental. Não dizem nada quanto aos quatro anos que deveria durar esta legislatura. Ou seja: o Paraíso fica-se apenas pelas portas.
O Estado, no entanto, não tem dinheiro para manter este clima de festa durante muito tempo. A economia não cresce a esse ponto. O desemprego também não diminui por magia. A instabilidade pode fazer aumentar os juros do dinheiro que o País terá de continuar a pedir emprestado. A alternativa é o regresso dos aumentos de impostos. Ou, para as mentes mais assanhadas, eventuais operações de confisco domiciliário dos bens dos “ricos”.
Até pode ser que a perspectiva radiosa e estatizante do PS, do BE e do PCP seja uma solução de futuro e que Portugal consiga enriquecer a ponto de poder sustentar o seu Estado. Mas alguém acredita que isso é mesmo possível? Ou não esconderão as portas entreabertas do Paraíso um novo inferno a breve prazo?
Há quem diga que seria bom que este governo do PS (do “PS sozinho”, como um jornal do PCP dizia em tempos de outra aventura do PS) caísse rapidamente. Não me parece. Até porque em 2016 ainda haverá dinheiro. E muitas ilusões.
 
 

Esperteza saloia


A "Gazeta das Caldas" embandeirou em arco esta semana com a aliança poliamorosa PS/BE/PCP e decidiu, na sua coluna de amores e ódios, arrancar um grande elogio à tríade Costa/Martins/Sousa e derramar a sua felicidade por o governo da aliança vencedora das eleições de 4 de Outubro ter sido derrubado na Assembleia da República.
E se um dia lhe estalasse a castanha na boca e o PS de Caldas da Rainha mostrasse que os tem no sítio e fizesse o mesmo com a restante oposição para derrubar o PSD caldense que domina a Câmara Municipal e o seu presidente, de quem a "Gazeta" tanto gosta?


E se acontecesse o mesmo ao presidente da câmara amigo, o que diriam?


PREC II: vingança e dinheiro

O IVA da restauração vai descer, de 23 por cento para 13 por cento. É uma das bandeiras da “santa aliança” PS/BE/PCP e, em todo o seu esplendoroso e monstruoso erro, o que melhor caracteriza este segundo PREC: o País interessa pouco, o que conta é o poder e, com ele, a vingança manhosa sobre os que não conseguiram vencer, nem em quatro anos de legislatura nem nas eleições legislativas de há um mês.
O IVA é um imposto que, para o consumidor está metido no produto ou serviço que adquire. Mas para o fornecedor desse produto ou serviço, o IVA que “ganha” no que vende tem de ser entregue ao Estado. Na sua cabeça e na sua contabilidade, o IVA tem de estar separado do custo do que vende. Do IVA que o cliente lhe dá, o fornecedor pode, ou não, deduzir outro IVA que ele próprio pagou. Mas o destino do IVA é o Estado.
A restauração (restaurantes, cafés, etc.) não é uma excepção a esta regra contabilística e fiscal. Quando o IVA subiu, há dois anos, os empresários do sector, por sinal pouco controlados no domínio fiscal, protestaram. Aumentaram preços, anunciaram encerramentos de empresas e despedimentos aos milhares. Não se deu por nada. Mas a “esquerda” pegou nessa bandeira porque era mais um factor de descontentamento. E agora oferece aos empresários do sector (não aos clientes) uma “borla” de 10 por cento.
Se o eixo PS/BE/PCP olhasse realmente para os interesses do País faria outra coisa: acabaria com o Pagamento Especial por Conta (PEC) para as micro e pequenas empresas. O PEC (que obviamente abrange restauração) é uma entrega mínima de 1000€ que todas as empresas têm de fazer ao Estado e que poderão, se tiverem êxito nos negócios, recuperar em sede de IRC no ano seguinte. Para uma micro-empresa, os 1000€ que tem de adiantar como imposto por conta pode criar sérias dificuldades de tesouraria. O IVA não, porque o IVA que tem de ser entregue ao Estado, repete-se, é o IVA que os clientes pagam.
A lógica da aliança PS/BE/PCP foi esta: satisfazer sectores, além do puro gesto de vingança que consiste em afastar do poder quem ganhou as eleições porque, durante quatro anos, não o conseguiram fazer nem na rua nem na Assembleia da República. 
E a satisfação dos sectores consegue-se com dinheiro. As dezenas de medidas desta tríade baseiam-se na distribuição de dinheiro, da função pública aos grevistas das empresas de transportes públicos de Lisboa e Porto. Leiam-se as 51 medidas, ou 70, segundo também se disse, e o que delas escorre é despesa. Despesa, despesa, despesa. E sobretudo do Estado. 
E onde é que estão as receitas para suportar as despesas? Não se sabe. Mais impostos? É o costume. Mas cobrados a quem? Aos que se terão apressado a pôr o seu dinheiro no estrangeiro? Ou aos outros, a nós todos? No entanto, como dizem que não querem lançar mais impostos, vão fazer o quê? Vão às casas das pessoas confiscar o dinheiro ou os bens que elas tenham?
Não deixa de ser uma estranha ironia que este novo PREC de Novembro de 2015 comece quarenta anos depois do golpe político-militar conservador que, de 24 para 25 de Novembro de 1975, afastou a esquerda e a extrema-esquerda do poder, entregando-o ao PS.
E não será uma ironia menor se, quando o dinheiro acabar, o PREC II não venha a ter como epílogo um novo pedido de assistência económica ao estrangeiro (que, convém recordar, tem sido uma imagem de marca da governação do PS).
Até lá, talvez seja melhor ir pondo em bom recato o dinheiro que aí vem...
 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Têm bom remédio



Lamenta-se, e com razão, o PS de Caldas da Rainha, sobre a situação de maioria absoluta do PSD caldense e um caso que também demonstra a gritante incompetência da Câmara Municipal: "Ter a maioria absoluta não significa ter a maioria absoluta de razão."
Mas o PS, como eu aqui sugeri (e à imagem do que fez o seu secretário-geral e com maior legitimidade porque em eleições), tem bom remédio: fomente uma aliança de boas vontades para derrotar o PSD caldense nas eleições autárquicas de 2017.
Não é decerto impossível.




PS de Caldas da Rainha: querem mesmo "começar o futuro"?







Nota: Pus esta minha nota como comentário no citado blogue (e "post") do PS mas o PS não o publicou. Uma versão digna, porque pré-eleitoral, do que andou a fazer o secretário-geral do PS não parece ser do agrado do PS caldense.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

"Crime Scene": Sherlock Cumberbatch, novos livros, séries de TV e... James Ellroy





A empresa inglesa Future, que edita a revista de cinema "Total Film", acaba de lançar uma revista inteiramente dedicada ao "thriller", sobretudo na ficção literária, na não ficção e na televisão.
O número inaugural da "Crime Scene", no habitual formato grande da "Total Film", é dedicado ao Sherlock Holmes do actor Benedict Cumberbatch (que é uma glória britânica) mas há mais: livros novos, séries de televisão, "true crime", entrevistas e, entre estas, uma entrevista breve ao autor norte-americano James Ellroy.
E, com a devida vénia, vale a pena registar duas frases do grande Ellroy dessa entrevista, em tradução do original inglês:
 
- "Não gosto da literatura 'mainstream', estou-me a cagar. Se quiserem torturar-me até à morte, ponham-me um livro do Faulkner à frente. Ponham-me um livro do Jonathan Franzen à frente. Ou um livro do Raymond Carver. Não me interessa. Gosto das merdas com crimes e gosto da merda histórica."
 
- "Bem, mas eu sou mesmo um grande escritor policial americano, Jack, e isso não é treta. Ouça, para dizer a verdade, foi Deus quem me emprestou o talento. Deus tem sido muito bom para mim. Tenho um coração vigoroso, tenho uma forte vontade de sobreviver e adoro escrever." 

Rádio Popular: muito mau; Electrorainha: muito bom

 
O micro-ondas que, há três anos, tinha comprado na Rádio Popular (Caldas da Rainha), avariou-se. Uma parte funcionava, a outra não. Teria arranjo?
A minha primeira ideia foi levá-lo a uma loja também caldense (a Electrorainha, que já me tem, e muito bem, resolvido alguns problemas de electrodomésticos) mas depois fiquei a pensar: o aparelho era de marca própria da Rádio Popular e, já fora da garantia, talvez o reparassem (ou diagnosticassem) mais depressa.
Telefonei para a linha telefónica nacional da Rádio Popular e perguntei se faziam reparações.
Foi necessário dizer três vezes que não estava na garantia mas lá me sugeriram que levasse o "doente" a uma loja e logo veriam se a reparação se justificava.
Assim fiz. Mas na loja da Rádio Popular disseram-me que devia deixar uma caução de 15€ a acompanhar o aparelho (o que não me fora dito antes). Se tivesse arranjo, a caução ficava por conta da reparação. Se não, perdia-a. E a reparação... era uma loja numa localidade próxima.
Não gostei. Peguei no aparelho e levei-o... à Electrorainha. Foi por volta das 15 horas.
No dia seguinte às 11 horas telefonaram-me: estava pronto. Tão depressa? A resposta também foi rápida: "São coisas pequenas, sabemos que fazem falta às pessoas e têm prioridade." 
 
 
 
 
 

Conversa da treta

 
 
 
"(...) O presidente da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro, Abílio Camacho, começou por justificar que propôs a realização da Assembleia nesta localidade como forma de agradecimento às pessoas que o têm 'apoiado tanto' e destacou que a reunião irá ficar na 'história da Serra [do Bouro]'.  O autarca elencou as obras que estão em curso e referiu que esta reunião permite também dar resposta a alguns deputados que na Assembleia têm perguntado como é que os autarcas estão a viver a realidade da agregação das freguesias. 'Penso que a freguesia da Serra do Bouro ganhou com a integração de Santo Onofre porque são realidades diferentes', disse Abílio Camacho (...)" ("Gazeta das Caldas", 6.11.15).
 

domingo, 8 de novembro de 2015

Não é muito diferente disto

 
O arranjinho poliamoroso do PS com o BE, o PCP e até com essa extraordinária agremiação que se intitula PEV, com acordo, desacordo ou assim-assim e eventualmente governo ou talvez melhor desgoverno, não tem uma ilustração que mais lhe convenha senão o controverso filme "The Human Centipede" ("A Centopeia Humana", que em Portugal só passou no Fantasporto) e, por exemplo, esta sequência que aqui se reproduz.
No palco político português não se sabe bem quem é o criador mas a primeira figura é a do derrotado nas eleições de 4 de Outubro. Quanto às duas outras, fica à imaginação do leitor.
 





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30 dias

 
As eleições legislativas realizaram-se há precisamente um mês. O mecanismo, tantas vezes cumprido desde 1976, é este: o partido que vence as eleições forma governo. Mas hoje o que é que temos?
O PSD e o CDS, que venceram as eleições, formaram o seu governo. É um governo débil, de serviços mínimos, condicionado pela ameaça feita há um mês pelos derrotados nas eleições de há 30 dias de que cairia vítima de moções de rejeição. 
Quanto a esses derrotados (PS, BE e PCP), andam há um mês a tentar fazer qualquer coisa que tanto pode ser um acordo de governo de curto prazo, um governo do PS com generosas cedências ao BE e ao PCP para lhes pagar o apoio, um governo PS/BE/PCP ou seja lá o que for que resulte desta deprimente confusão. E, com esse objetivo em mente, já conseguiram impor a paralisação do parlamento, numa situação em tudo semelhante ao cerco dos metalúrgicos de 1975. (E num contexto pouco prestigiante em que o PS que não quis Jaime Gama como candidato à Presidência da República empurrou Ferro Rodrigues para a presidência da Assembleia da República...)
E há o tal acordo, ou algo parecido, entre o PS, o BE e o PCP? 
Dia sim, dia não, o BE afirma que há. Dia sem, dia não, o PCP sugere que não há nem vai haver e que venderá bem caro o seu apoio. E o PS, o mesmo PS que combateu os comunistas e os trotzkistas e maoístas de cuja cama saiu o BE, fica calado, de joelhos e mão estendida. Compreende-se: desse acordo depende a sobrevivência do actual secretário-geral do PS, embora não do PS. 
E nesta mistura o que prolifera é a versão contemporânea do “bacalhau a pataco” (o fim da sobretaxa do IRS, o descongelamento de todas as pensões, o aumento da função pública, a baixa do IVA apenas para um sector comercial). E, como pano de fundo, sempre o silêncio do PS, responsável pela bancarrota de 2011 e pelo terceiro resgate da democracia portuguesa.
O seu secretário-geral (que sofreu uma tripla derrota em 4 de Outubro: política, pessoal e ética) parece ter desaparecido de cena para deixar à frente da sua facção o émulo açoriano de Alberto João Jardim. Talvez queira que nem reparem muito nele quando parece ter começado a alastrar dentro do seu próprio partido a crítica ao que anda a fazer. Ou então algum motivo mais profundo há de existir para este césar ilhéu andar assim tão à solta pela capital.
Trinta dias depois das eleições e do seu resultado claro, o país político institucional está a ficar bloqueado. Talvez seja o primeiro de vários passos que provavelmente nos levarão ao próximo desastre económico e financeiro. Ou a um outro PREC que nunca poderá deixar de ser uma guerra civil de novo tipo.


(Texto publicado no Tomate em 4.11.15)

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

"Gotham": a ideia até era boa...





"Gotham" foi, pelo menos no princípio, uma boa ideia: não podendo, ou não querendo, usar a figura e a imagem do Batman, os produtores da série optaram por ir explorar outros cenários: a estreia do futuro comissário Gordon na Polícia de Gotham, Bruce Wayne (Batman) ainda miúdo, o começo de carreira do Pinguim e talvez de outros inimigos do Batman.
Só que, com o tempo, instalou-se uma rotina que não entusiasma: "Gotham" transforma-se numa série de polícias e ladrões (a tal unidade especial), os novos criminosos roçam o risível (Galavan), as figuras emblemáticas não saem das meias-tintas (Bruce Wayne e Selina Kyle, por exemplo), há figuras que são desastradamente alteradas relativamente ao cânone (Barbara Gordon, Edward Nygma) e não se progride.
"Arrow" (com o Arqueiro Verde) e "The Flash" (e parece que também a recentíssima "Supergirl")mostram como é que deve ser feita a transposição inteligente dos super-heróis para a televisão. "Gotham" parece de certa forma condenada à irrelevância.