terça-feira, 22 de dezembro de 2015

De como a "jóia da coroa" da Câmara caldense se transformou (mesmo) num "buraco"... cheio







Durante mais de um ano, a Câmara Municipal de Caldas da Rainha andou a apresentar o futuro parque de estacionamento subterrâneo (cuja construção contribuiu para esventrar a cidade... durante um tempo infindável) como uma verdadeira "jóia da coroa" da gestão municipal. Seria uma maravilha, capaz de trazer à capital do concelho milhares, senão mesmo milhões, de turistas e clientes para o comércio local.
Só que não é.
Como o parque, de dois pisos, nunca ficava cheio, o piso de baixo passou a ser reservado para a Câmara, para o tribunal, para residentes e para quem quisesse pagar uma assinatura mensal. Para o público ficou só o piso de cima.
O resultado está à vista, todos os dias: o piso de cima revelou-se insuficiente nesta época onde há mais gente a deslocar-se de carro e a procurar lojas e supermercados para as compras de Natal. E o glorioso parque do PSD local passou a ficar assim: "completo".
Como se costuma dizer, o que torto nasce nunca na vida se endireita. O parque subterrâneo e as obras que durante dois anos transformaram a cidade de Caldas da Rainha num zona de guerra é um exemplo perfeito deste ditado que tão bem caracteriza a presidência de Tinta Ferreira/Hugo Oliveira.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Cenas do E. Leclerc





 
 
Sábado à tarde, dia 19 de Dezembro: o prazo de validade expirou (há um e dois meses) mas os produtos continuavam à venda. No supermercado E. Leclerc de Caldas da Rainha. Não é caso único.




domingo, 20 de dezembro de 2015

Tipo descoberta da pólvora

 
Volta não volta, a imprensa descobre as séries de televisão. Acontece hoje no "Observador", já tem acontecido noutros jornais.
É importante, claro, porque as séries televisivas estão desde o final do século passado a ganhar um papel de primeira grandeza no audiovisual, que até agora tinha sido dominado pelo cinema. E não são, como alguns ainda poderão pensar, um cinema em miniatura. São um novo universo audiovisual para onde se voltam realizadores, argumentistas e actores de renome, aproveitando a possibilidade de estender uma história por várias horas e o fim dos limites moralistas na televisão por cabo.
Só que esta descoberta jornalística recorrente se fica pelo que é superficial, fruto de impressões subjectivas (falhando muitas vezes o conhecimento, e a memória já nem conta), de propostas de comunicação das empresas produtoras e dos canais de televisão, de comunicados de imprensas e talvez mesmo de pacotes promocionais.
O resultado é uma lamentável exposição de debilidades e momentos-eureca do género "Descobri a pólvora!".
Há assuntos sobre os quais muitos jornalistas acham que podem escrever à vontade por motivos que é mais delicado não escrutinar. E as séries televisivas, que ainda por cima se vêem em casa, são naturalmente apetitosas. O resultado, depois, está no extremo oposto da qualidade e da relevância das séries.
 
 
 
"Borgen": em Junho de 2013 já estava comentada e elogiada aqui no blogue
 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

À noite é que é bom





Depois de vários dias e de muitos litros de água perdidos, de alguns avisos aos serviços e da deslocação de funcionários ao local (que não viram o que estava mesmo à frente do nariz de quem passava), os Serviços Municipalizados de Caldas da Rainha vieram arranjar uma ruptura numa rua próxima da minha.
Mas à noite, por volta das 19 horas, numa jornada de trabalho que se prolongou até perto das 23 horas e com intervalo para jantar.
Já tinha acontecido uma coisa parecida há algum tempo, com uma reparação que também só se fez à noite.
Será que isto acontece porque o trabalho nocturno ou/e extraordinário é melhor remunerado do que o trabalho diurno e "normal"?
Há quem diga que sim, acrescentando uma explicação: é a melhor maneira de a Câmara da "nova dinâmica" manter o pessoal satisfeito, sobretudo quando há eleições daqui a menos de dois anos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

À borla

 
 
O pai de um amigo meu esteve há pouco tempo internado num hospital público durante mais de duas semanas e grande parte desse tempo foi passado numa maca num corredor. Morreu no hospital.
Um amigo meu esteve dez dias internado num hospital público e também passou algum tempo numa maca num corredor. A condição clínica era grave. Uma pneumonia contraída no hospital matou-o.
Estes dois hospitais, em zonas de grande densidade populacional dos subúrbios de Lisboa, fazem parte do Sistema Nacional de Saúde e o custo da sua frequência por cada doente dificilmente corresponderá ao valor gasto no tratamento de cada doente em matéria de salários do pessoal envolvido, medicamentos, exames, equipamentos adequados e a funcionar e energia eléctrica. E, já agora, em instalações para acolhimento condigno dos doentes. (E, quanto a salários, também, todos se queixam e, a acreditar nos sindicatos, na imprensa e no Facebook, os enfermeiros já emigraram todos.)
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é defendido, como está, por muito boa gente. O “estar” é, neste caso, a sua situação financeira. Os defensores do SNS argumentam que ele faz parte do “Estado social” e que até deveria ser gratuito. A todos os níveis: dos hospitais aos centros de saúde onde uma consulta de clínica geral custa 5€ independentemente do que ganha quem lá vai: quem tem um salário de 600€ paga os 5€, quem tem um salário de 6000€ para os 5€.
Só que o pessoal, o equipamento, as infraestruturas e tudo o resto não vivem do que dá o céu. Vivem do dinheiro do Estado e do nosso. Por um lado, do IRS (e metade da população activa não paga IRS por não ter rendimentos para tal) e, por outro, das taxas moderadoras. 
Segundo as estatísticas da Pordata de Fevereiro deste ano, que havia nessa altura 10 386 593 pessoas a residirem em Portugal. 
Segundo um extenso trabalho do “Expresso” da mesma data, há 5,8 milhões de utentes do Serviço Nacional de Saúde isentos de taxas moderadores, número que é superior em 1,5 milhões ao de isenções concedidas em 2014. 
Isto significa que só 4 586 593 utentes do SNS (por referência ao número da Pordata) pagam as taxas moderadoras. Ou seja, menos de metade dos utentes do SNS pagam directamente os serviços médicos que eles próprios procuram e que os restantes 5,8 milhões também procuram.
Ou seja, o Serviço Nacional de Saúde está claramente subfinanciado. Pensemos agora na questão de outra maneira e com base no exemplo dado: a assistência prestada pelo SNS devia ser paga em função dos rendimentos e, naturalmente, tomando como base a sua situação fiscal. E isto significaria que quem ganha 600€ poderia continuar a pagar os mesmos 5€ da consulta de clínica geral mas quem ganha 6000€ poderia pagar 50€. Ou menos, ou mais. Mas nunca os 5€.
Uma alteração deste tipo daria seguramente mais verbas directas ao SNS e poderia haver mais  médicos, mais enfermeiros, mais equipamento, mais e melhores instalações.
O problema é político mas também é de mentalidades. 
 
*
 
Quando as propinas do ensino superior custavam 1200 escudos por ano (5,99€), a bandeira da “qualidade de ensino” não ia além das campanhas eleitorais das associações de estudantes. Mas quando o preço único das propinas passou para os 52 mil escudos (259.37€), os estudantes começaram a reivindicar a “qualidade de ensino”. À borla, o ensino podia ser mau. Mas pago é que já não.
Há algum tempo perguntei a uma pessoa convictamente de esquerda, militante do PCP e leitora evangélica do “Avante!”, que sempre se queixa das taxas moderadoras e cujos rendimentos não são muitos baixos, se estaria disposta a pagar taxas moderadoras mais elevadas, para ajudar a melhorar o SNS e servir melhor os que não têm dinheiro para frequentar consultas e outros serviços no sector privado (que essa pessoa pode fazer). Disse-me que não.
O governo anterior não quis, ou faltou-lhe a coragem para tanto, mexer nas taxas moderadoras e alterar a sua fundamentação (o que até se poderia compreender porque seria mais uma acha para a fogueira pré-insurrecional em que o País viveu em 2012 e em 2013). O mais longe que conseguiu ir foi na imposição de taxas moderadoras às mulheres que abortam (que o vão fazer porque assim o decidem) e no alargamento de algumas isenções, correcto  numa perspectiva genérica.
Há uma semana, o PS propôs na Assembleia da República (indo decerto ao encontro do que pensam o governo do mesmo partido e o BE e o PCP que o apoiam) que as famílias dos funcionários ferroviários passassem a viajar nos comboios à borla. Ou seja, em transportes públicos que, no seu conjunto, servem o País, e insuficientemente, e que todos nós pagamos. 
Politicamente, é isto: uma perspectiva utilitária do Estado em função de interesses sectoriais que se movem pelo dinheiro e pela acumulação de “regalias”.
É o que se passa na saúde e no SNS. Aliás, basta ver de onde emanam, politicamente, no caso do SNS, os grandes defensores da perversidade do sistema: a função pública, que (toda ela) dispõe de um serviço de saúde próprio com preços muito vantajosos (a ADSE). E como já se viu são esse eleitorado e mais o que pode ser considerado uma verdadeira aristocracia operária à escala portuguesa que estão nas boas graças do PS, do BE e do PCP e bem representados nas suas direcções e nos seus sindicatos. 
Por isso, que lhes interessam, verdadeiramente, os desaires dos outros quando se pode arvorar a borla como ideologia e pagá-la com o dinheiro alheio?
 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Lata




O ex-primeiro-ministro arguido só tem razão numa coisa: o Ministério Público habituou-se, desde há muitos anos, a atirar os seus suspeitos para a praça pública enquanto os investiga, com o segredo de justiça a valer zero nas sempre iguais e sempre diferentes combinações com a Imprensa.
Mas nem este ex-primeiro-ministro nem o ex-ministro da Justiça que lhe sucedeu alguma vez se preocuparam, enquanto governantes, em resolver o problema.
O resto, tudo o resto, é descaramento. Aproveitando esse outro pecado do Ministério Público que é a falta de pressa em certas circunstâncias, o ex-primeiro-ministro tentou destruir os fundamentos de uma acusação que tarda mas cujos fundamentos ele obviamente conhece.
O que dirá, no entanto, se aparecer uma acusação neste processo e outras acusações nos outros (que não podem deixar de aparecer) que, levando a uma ou várias condenações, vire do avesso tudo o que agora disse nesta orgia televisiva?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Caça à asneira

Foi por um simples acaso que fui ter há poucos anos ao blogue Linguagista. Num dos meus livros usava uma palavra de uma maneira menos feliz e o seu autor fez-lhe uma referência. Não conhecendo substantivo em português para a máquina citada, optara por aquela solução, que podia realmente ter sido diferente. A chamada de atenção tinha sido correcta.
A partir daí comecei a visitar regularmente o Linguagista. Não conhecia, julgo eu, o seu autor, Hélder Guégués. É revisor de profissão mas dele também se poderá dizer, pelos seus comentários e críticas, que é caçador e de pontaria certeira e vagamente irónica. E não só de "gralhas" mas de asneiras, em livros e no fértil terreno da comunicação social portuguesa, que é uma verdadeira "reserva de caça".
Lendo-o, sei que estou a aprender a escrever melhor mas também a compreender o triste estado da língua portuguesa, que "só um mal tem, e é pelo pouco que lhe querem os seus naturais, a trazem mais remendada do que capa de pedinte". Esta frase de Francisco Rodrigues Lobo serve a Hélder Guégués de mote para o livro que agora publicou, "Em Português, Se Faz Favor", e cuja leitura é capaz de ser tão ilustrativa e também tão útil como o seu Linguagista.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Porque não gosto dos CTT (94): o feriado cansa

 
Hoje não houve distribuição de correio. E, no entanto, à quarta-feira há sempre distribuição de correio, talvez à pala da entrega de um dor jornais regionais que assino.
Mas ontem foi feriado e é de admitir que isso tenha sido cansativo, até porque já estamos na época das compras de Natal. E hoje, obviamente, foi dia de descanso.
 
*
 
No dia 11 do mês passado, a livraria "on line" The Book Depository (Reino Unido) enviou-me por correio um livro que lhes comprei. Não chegou. Pode dar-se o caso de ter servido para entreter alguém no dia de descanso de hoje. 

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

"Sons of Anarchy": Shakespeare sobre rodas



 
 
As referências que tinha lido (eventualmente de passagem no IMDB), talvez numa das revistas de cinema que compro ou qualquer imagem que me tenha passado pela frente num dos canais da televisão por cabo não me suscitaram grande interesse por uma série com o nome pouco intrigante de "Sons of Anarchy" e passada, pareceu-me, em cima de motas, objecto rolante que pouco me dizia.
Não havia nomes conhecidos (Ron Perlman, quando muito) e o seu criador, ou "showrunner" (na linguagem televisiva) Kurt Sutter não me dizia nada.
Mas depois a série já estava inteiramente disponível em DVD e era época de defeso nos canais de cabo. Portanto... porque não?
Foram sete temporadas, 92 episódios e mais de 80 horas de televisão. E o resultado? Oito conclusões:
 
 
 
 
1 - "Sons of Anarchy" é uma das séries que melhor demonstra o que é a nova televisão dos nossos tempos: há uma história completa que liga pouco à montagem de episódios sequenciais, que segue a estrutura de uma narrativa ficcional tradicional, partindo de uma base realista (encontra-se aqui uma análise sugestiva). É, de certa forma, como um livro.
2 - Todos os elementos se conjugam na perfeição: a temática (um clube de motoqueiros que são "outlaws", com uma estrutura muito específica, empresarial e capaz de equilibrar as actividades legais com as mais do que ilegais), um argumento imparável (onde pode sempre acontecer qualquer coisa de surpreendente e... horrível), a linguagem (diálogos e imagens) claramente adulta, sem qualquer tipo de barreiras.
3 - Tem um conjunto de personagens muito fortes e muito bem estruturadas (compensando outras que são simples "verbos de encher"), numa dinâmica colectiva muito bem construída.
4 - Tem uma banda sonora que é um verdadeiro programa, quase autónomo e que muitas vezes serve de comentário (para os interessados, são quatro CDs, com o título genérico de "Songs of Anarchy").
5 - Revela o controlo praticamente absoluto do seu criador, Kurt Sutter, em todos os domínios (e até na interpretação de uma das figuras centrais da história).
6 - Tem um subtexto shakespeareano bem pensado - seguindo quase a linha narrativa de "Hamlet" (e há aqui um bom texto sobre esse aspecto, onde evidentemente avulta o Hamlet construído por Charlie Hunnam, com o seu Jax Teller), passa por "Macbeth" (e que Lady Macbeth é Katey Sagal, a "mãe" Gemma do clube) e por "Rei Lear" (Ron Perlman, o primeiro presidente do clube) e desenvolve e afirma um estilo de tragédia clássica que é concretizado de forma impecável.
7 - Além do mais, consegue abrir espaço a um tom comedidamente paródico, que é sempre fundamental numa narrativa coerente: a intervenção de Stephen King (o especialista em fazer desaparecer cadáveres), a personagem transgénero Venus Van Dam criada por Walton Goggins (de "Justified") ou a sopa feita com uma cabeça.
8 - E, finalmente, as motas: as Harley-Davidson são realmente fotogénicas...
 
 
[Vi "Sons of Anarchy - The Complete Series 1-7" numa edição em DVD da 20th Century Fox Home Entertainment, de 2015, legitimamente adquirida.]
 

domingo, 6 de dezembro de 2015

Um desastre


O hospital termal de Caldas da Rainha, o respectivo balneário e o parque e mata anexos estão, ao que parece, nas mãos da Câmara Municipal de Caldas da Rainha desde o passado dia 2, tendo sido transferidos da tutela da administração central para a tutela camarária, num período que oscila entre os 70 anos (os dois primeiros) e os 50 anos.
Esta decisão, que foi uma bandeira da desastrada gestão municipal, não foi consensual.
Houve quem, fora da esfera de poder do grupo do PSD que está na câmara, que se entusiasmasse com o significado da ideia. Houve quem se lhe opusesse. 
Poucas, no entanto, foram as vozes que indicaram o óbvio: esta gestão municipal não tem competência nem dinheiro para fazer alguma coisa do património termal.
Esta gestão municipal foi a que deixou arrastar as obras pela capital do conselho meses a fio, transformando a cidade num estaleiro, indiferente ao grau de incumprimento de prazos pelas empresas contratadas.
Esta gestão municipal é a que transforma em "jóia da coroa" um parque de estacionamento subterrâneo.
Esta gestão municipal é a que deixou degradar-se o concelho em todas as suas vertentes.
Esta gestão municipal é a que já apregoa que vai abrir o hospital termal e o balneário em 2017 (ano de eleições) com obras de 600 mil euros (e há dinheiro?...) a lançar "em breve".
Esta gestão municipal é a que, no poder há dois anos, não tem "ideias claras e propostas clarividentes" no domínio termal e turístico. E esta citação, note-se, não é de nenhuma das oposições, mas da voluntarista coluna de opinião  "A Semana do Zé Povinho", do jornal "Gazeta das Caldas", que tem sido de uma extraordinária candura para com o presidente da Câmara, com quem talvez já se tenha dado melhor.
Tudo se conjuga para que a entrega do património termal à Câmara Municipal de Caldas da Rainha, na sua fase mais sombria, se transforme num desastre.
E isso só não acontecerá se a necessidade de ganhar as eleições de 2017 (mesmo contra uma oposição objetivamente cúmplice) corresponder a uma sensação de desespero ou de medo por terem consciência de que não conseguem fazer nada de jeito.


Não gostam deles (e com razão) mas ainda vão ajudar a reelegê-los.
Porque será?

 



Idiotas "clássicos"



Júlio Dinis ("As Apreensões de uma Mãe"): "Representava um velho de nobre fisionomia, vestido com a farda da marinha portuguesa, e em cujo peito se divisava, distintivo de lealdade e valor, uma pequena fita em fivela de prata. Era o retrato do pai de Tomás (...)"
Comentário: "Este retrato é um empata relações. Já passei por isto com um cão de uma namorada. Um bóxer; são os piores para fazer olhar de reprovação."
Júlio Dinis ("As Apreensões de uma Mãe"):"Assim se passaram seis anos."
Comentário: "Ena, estávamos aqui na conversa e nem dei por isso. O problema é que não pus moedas no parquímetro."
 
Camilo Castelo Branco ("O Sr. Ministro"): "E, como era de esperar, não lhe mandou a mesada nem mais respondeu às cartas do filho."
Comentário: "O Tibúrcio vai ficar mais falido do que a Grécia."
Camilo Castelo Branco ("O Sr. Ministro"): "Na taverna do Alho, defronte do cruzeiro, ia grande algazarra."
Comentário: "E depois inventaram a televisão."
 
Eça de Queirós ("As Singularidades de uma Rapariga Loura"): "As revoluções da Grécia principiavam a atrair os espíritos romanescos (...)"
Comentário: "Que diferentes estão os tempos..."
Eça de Queirós ("As Singularidades de uma Rapariga Loura"):" - Eu! - disse Luísa, com  voz baixa, toda escarlate."
Comentário: "Finalmente algo que faça corar a pele de transparente porcelana da Luísa."
 
Os excertos acima reproduzidos são dos autores e dos seus textos devidamente identificados. Os "comentários" não foram tirados de testes de alunos do ensino básico mas pertencem, respectivamente (nos três blocos) a pessoas que estão identificadas como João Quadros, Nilton e Maria Rueff, tendo sido extraídos de edições das obras citadas publicadas pela revista "Sábado" ao longo de três semanas com o lema "Rir com os Clássicos".
Não sei quem são os autores dos comentários, à excepção de Maria Rueff, que é actriz, porque também não nos são apresentados.
Quando folheei a primeira publicação, não consegui rir-me. E o mesmo aconteceu com as duas outras.
Os comentários, semeados pelas várias páginas, não têm graça. São deprimentes. Não conseguem suscitar um sorriso, quanto mais um riso. Pode ser que tenham esse efeito mas decerto que em qualquer conversa de madrugada, quando o que se vai consumindo vai fazendo com que tudo tenha graça.
A revista "Sábado" é uma publicação estimável. Mostra algum grau de bom gosto e de sensibilidade. Há nela alguma massa crítica (como às vezes de diz) que é inteligente e culta. E por isso é que isto é tudo tão deprimente. Duplamente: não tem graça e traz a afirmação implícita de que é necessário enxertar comentários que pretendem fazer "rir" para "vender" textos considerados "clássicos".
Os textos dos três escritores são, parece-me, peças menores das respectivas obras. Mas mereciam algum respeito. E, já agora, o público da "Sábado" também. Quanto aos promotores da ideia e aos "comentadores"... Bem, o retrato do que conseguem fazer e do que se julgam está feito. E também é deprimente. 




quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Anda um espectro à solta... pelas escolas

Anda um espectro pela Europa — o espectro do Comunismo. Todos os poderes da velha Europa se aliaram para uma santa caçada a este espectro… 
Não, não era isto. Não era Marx e Engels que eu queria citar. É mais isto: anda um espectro à solta pelas escolas portuguesas. 
E será um pedófilo impenitente? Um predador sexual incansável? Uma vaga nunca antes vista de “bullying”? Um “serial killer” de crianças? Professores seguidores do Dr. Nogueira em êxtase pró-governativo?
Não, leitor. O espectro são os exames.
Os do 4.º ano de escolaridade, que aterrorizavam as criancinhas de 9 e 10 anos, já foram à vida. A seguir devem ir os outros. E, já agora, os TPC. E talvez também os exames na faculdade. E como já tivemos um primeiro-ministro que obteve o seu curso universitário num domingo, e por fax, também podemos ter as crianças a receberem o seu diploma universitário à nascença. Com a primeira fralda, já agora.
Catarina Martins (que o “Expresso” diz ser tratada, nesta sua animada fase política, por “Czarina Katarina” e “Catarina, a Média) não perdeu tempo a explicar porque é que o BE foi o paladino desta cruzada anti-exames no blogue do BE e no Twitter: “Sobrevivemos ao longo da nossa vida a muitas coisas más. Não as desejamos aos nossos filhos e filhas, ainda que saibamos que não os podemos proteger de tudo. Impor algo que traz sofrimento e não serve para nada é uma estúpida crueldade”, “Impor a pressão dos exames a crianças não é ensinar, promover regras ou método. É incutir medo da escola e o medo está no oposto da cidadania”, “O discurso da suposta exigência dos exames só serve para esconder o falhanço das políticas: tiram-se meios às escolas e depois chumbam-se as crianças que não se conseguirem safar” e… “não veremos as crianças de 9 anos a entrar assustadas para exames de que não precisam”. Extraordinário, não é? 
A eliminação dos exames, como garantia dos “amanhãs que cantam” em versão infantil, foi aprovada no Parlamento pelo BE, pelo PCP e… pelo PS. À mesma hora em que os ministros do PS aprovavam o seu programa de governo. Um dia depois de o novo ministro da Educação ter sido empossado. E sem se saber qual a opinião do novo ministro sobre a matéria. Aliás, sobre tudo o que se refere à política educativa para o ensino não superior visto que o ensino superior foi entregue a uma espécie de sucedâneo de um antigo ministro, que é mais mito do que outra coisa.
Entre 1995 e 2015, o PS esteve durante 14 anos no Governo. Teve 6 ministros da Educação: Eduardo Marçal Grilo, Guilherme d’Oliveira Martins, Augusto Santos Silva, Júlio Pedrosa de Jesus, Maria de Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada. O primeiro esteve em funções durante 4 anos e os outros 5 preencheram, com admirável inconstância, os 10 anos seguintes. 
Todos mudaram alguma coisa, uns numa perspectiva mais abrangente, outros mais de curto prazo. Muitos quiseram, como acontece noutras áreas de governo, marcar o terreno com alguns pingos legislativos e nem todos com fundamento e razoabilidade. Mas todos eles, os 6, mostraram ter opinião própria, mais coerente e mais sábia nuns casos e mais tonta noutros. E todos conheciam o sector.
Do novo ministro, Tiago Brandão Rodrigues, nada se sabe neste domínio. Mas já se pôde perceber que no seu ministério é Catarina Martins quem manda no ensino básico. Por este andar, a seguir, iremos ver Mário Nogueira a mandar no ensino secundário. 
Os espectros são realmente estes.
 
 

De humilhação em humilhação



O secretário-geral do PCP gostará das piadas do chefe do Governo e do PS?

"É como se estivéssemos a deitar abaixo o resto do muro de Berlim", disse António Costa em Outubro, quando andava em negociações com o PCP.
O Muro de Berlim, convém não esquecer, separou a Alemanha de Leste (então República Democrática Alemã) e os restantes países dirigidos por partidos comunistas, da Alemanha Ocidental (República Federal Alemã). Caiu em 1989 e, com ele, o "socialismo real". Foi um trauma óbvio para os comunistas.
A piada de Costa não pareceu incomodar o PCP, que só alterou o que defendia antes da queda do Muro para incluir agora os regimes ditos "desviacionistas" da China e da Coreia do Norte.
 
"É verdade que fui eu que negociei com o PCP, mas pelos vistos foram os senhores que ficaram com a cassete", disse ontem António Costa, no Parlamento, dirigindo-se ao PSD.
A cassete era o que se dizia que o PCP punha correr quando o seu discurso nunca variava, desvalorizando assim as suas intervenções. Esta nova piada de Costa também não incomodou o PCP.
 
Qual será a próxima humilhação que o PCP vai ter de engolir?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A brincar com o fogo... e com o dinheiro

 
"Fazer investimentos de vulto só alavancados por fundos comunitários e assim mantemos um equilíbrio orçamental", acrescentou [o presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha]. Destacou que, tendo em mãos a gestão do hospital termal e património do parque e mata, "será difícil dispersar investimentos para outras áreas".
 
"À exceção da Casa Museu Leopoldo de Almeida, que se promete estar concluída em 2016 (será mesmo?), na área da cultura há todo um grandioso conjunto de obras e eventos a concretizar a partir de 2017 que atingem o montante de quase 5 milhões de euros."
 
 
Estas duas passagens são retiradas da notícia "Assembleia Municipal na freguesia de Carvalhal Benfeito", publicada no "Jornal das Caldas" de hoje. As afirmações entre aspas do primeiro excerto são do presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha. A afirmação entre aspas do segundo excerto é de Edgar Ximenes, membro da Assembleia Municipal.
Estas duas passagens mostram o seguinte:
 
- a Câmara Municipal de Caldas da Rainha sabe que o quadro financeiro em que vai fazer (ou tentar fazer...) a gestão do hospital termal e do património anexo é tudo menos sólido;
- o ano de 2017 vai ser de "festa" para garantir a vitória do grupo do PSD local que venceu as eleições autárquicas de 2013 nessas eleições.
 
A oposição a esse grupo do PSD (que já nem insiste na designação de "nova dinâmica") anda, em versão bipolar, a brincar com o fogo... e a ajudar a "nova dinâmica" a brincar com o dinheiro alheio. Mais vale que nem se apresentem às eleições, por este andar.

O provincianismo parolo do PS caldense

Aflige-se o PS de Caldas da Rainha com a ausência, no Parlamento, de dois políticos caldenses do PSD e do CDS que o resultado das eleições (que deram a vitória à coligação nacional PSD/CDS) não chegou para eleger.
São lágrimas de crocodilo parolas de um partido provinciano que, tendo perdido as eleições, conseguiu ambiciosamente alcandorar-se ao governo do País graças a uma aliança com a extrema-esquerda e que nem parece querer perceber que pode fazer algo parecido, de outra maneira e com plena legitimidade acrescida, no seu próprio concelho.