quarta-feira, 4 de maio de 2016

O palavrão favorito dos regedores autárquicos que obram

"Requalificar" deve ser uma das palavras mais queridas da língua de pau dos micro, pequenos e médios regedores que enxameiam as câmaras municipais e as juntas de freguesia. Um pouco à semelhança de certos ministros em pastas sazonais, querem sempre (des)fazer qualquer coisa para deixar marca, num espécie de versão política da mijadela canina.
"Requalificar" é o novo palavrão da moda. Na sua origem, "requalificar" significa "qualificar" novamente, e "qualificar" (vamos ao acessível Priberam) é:

1. Dar uma qualificação a.
2. Indicar a que qualidade ou classe pertence alguém ou alguma coisa.
3. Apreciar; avaliar; classificar; enobrecer; ilustrar.

Mas para os regedores municipais (e contaminando já a imprensa), "requalificar" é fazer obras. É esventrar ruas, destruir o que os outros tinham construído, impor perspectivas urbanas muito pessoais, agradar (agora é moda) a quem não precisa de se deslocar em carro próprio, tentar erguer uma porcaria qualquer de aparência diferente e sempre, também, com o olho posto nas eleições. E sempre a salvo de sofrer com o caos porque o seu veículo é da câmara e quem guia é o motorista.
Parece haver uma regra que dita que o presidente da câmara que mais estragos faz na sua cidade é o candidato teoricamente mais bem colocado para vencer as próximas eleições.
Mas tudo seria mais fácil se, em vez do palavrão "requalificar", os regedores autárquicos usassem o substantivo "obras" e o verbo "obrar" para as lindas coisas que fazem. Talvez os eleitores percebessem melhor.


Cais do Sodré (Lisboa), © "Observador"


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