quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Ler jornais já não é saber mais (1)


Durante um ano, ou mais, a generalidade da imprensa nacional montou, com um extraordinário grau de coincidência ("les beaux esprits se rencontrent"), um retrato do potencial novo presidente dos EUA.
Em termos práticos, seria uma espécie de apocalipse fascista que iria abater-se sobre os EUA e o mundo todo, uma espécie de Idade das Trevas onde as liberdades e o bom senso se extinguiriam sob o comando de um Führer de novo tipo.
O apogeu orgástico dessa campanha, onde se afirmava a inevitabilidade uma vitória da derrotada Hillary Clinton, foi a primeira página do "Público", associando "Medo" a Donald Trump.




Mas, dois dias depois das eleições, os EUA continuam a ser o mesmo país que, com mais de 200 anos de história, ainda não viveu nenhum regime autoritário como todos os países da Europa já viveram, de uma forma ou de outra. As instituições democráticas funcionam, o voto popular foi expresso e recolheu a casa e é natural que algumas particularidades e exageros de campanha do "President-Elect" fiquem pelo caminho.
O que não fica pelo caminho é o muito que a imprensa portuguesa publicou, quase com estatuto de editoriais e sem um átomo de arrependimento.
E bem que o devia ter porque, por ela, descredibiliza-se ainda mais. Mas, pior do que isso, acaba por ter uma grande responsabilidade no tsunami de disparates que ainda se vão dizendo e escrevendo por aí, no espaço criativo das "redes sociais", onde já vi alertas de golpe de Estado por causa de um qualquer protesto de uma milícia extremista que afirmava que não aceitaria uma derrota de Trump e comparações de Trump com Hitler.
Nunca o simpático lema "Ler jornais é saber mais" esteve tão longe da realidade... 

Sem comentários: