terça-feira, 13 de junho de 2017

Trump: e se nos informassem?

Num dos seus espaços de comentário na SIC, Miguel Sousa Tavares (que dificilmente se poderá considerar um modelo) proclamou que Donald Trump “não podia” ser presidente dos EUA porque — por estas palavras ou outras de sentido idêntico — vestia-se mal. Tanto quanto me recordo, não se referiu ao cabelo nem ao tamanho das gravatas do alvo da sua ira. Mas podia tê-lo feito.
Este tipo de comentário é hoje o paradigma do que a imprensa portuguesa, em geral, publica sobre o presidente dos EUA e sobre tudo aquilo que é americano e que tem a ver com o domínio do poder executivo local (do aparelho de Estado às decisões de governo, passando pela política externa). Mas não só: é porque a mulher não lhe dá a mão, ou porque uma actriz famosa o critica, ou porque — lá chegaremos, se isso se souber — ele deixa o tampo da retrete levantado depois de urinar.
Com Trump na presidência há meio ano, é quase impossível saber pela imprensa portuguesa o que realmente se passa na política interna e na política externa desse país. 
O desvario da imprensa portuguesa chega ao ponto de, babando-se perante qualquer figura internacional que critique Trump, nem perceber que está um curso um processo, inevitavelmente muito lento, que irá levar a uma proposta de “impeachment”. O presidente norte-americano, nas suas extravagâncias, põe-se a jeito, é certo, mas a opinião é uma coisa e a informação é outra.
Em tempos que já lá vão, e foi isso que eu aprendi e pratiquei nas áreas jornalísticas onde ganhei o direito a ter opinião, separava-se a notícia do comentário. O jornalista dava a informação e, se entendesse fazê-lo, no âmbito do seu trabalho, comentava a informação. 
Não é o que acontece hoje. A falta de memória política e histórica, a ignorância, a incompetência profissional, a depreciação do trabalho jornalístico e o desespero económico de um jornalismo que preferiu vender-se a fazer por vender jornais, entre outros factores, deram origem a este miserável quadro.
A figura do presidente dos EUA não me é simpática. Tenho as maiores dúvidas sobre a bondade das suas medidas. Mas sei que ele governa porque foi eleito (não é o caso, cá…) e que a democracia, como aliás está a ver-se, tem meios próprios de se defender de eventuais entorses ou ameaças. E quando quero saber mais à procura de informação na imprensa estrangeira. Posso fazê-lo e sei fazê-lo mas, francamente, preferia encontrar as notícias na imprensa portuguesa que frequento.


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