sábado, 19 de agosto de 2017

Ler jornais já não é saber mais (27): mistura grossa

Ensinava-se (e, em geral, conseguia praticar-se) que o jornalismo não pode misturar a informação com a opinião.
O jornalista pode noticiar uma coisa e comentá-la em separado, nunca no mesmo texto.
E o mesmo se aplica aos jornais: há um espaço para a notícia e outro para o comentário.
Não se trata de esconder. Trata-se de, com o maior respeito pelo leitor, dizer-lhe que uma coisa é aquilo que realmente aconteceu (o que sustenta a legitimidade e a idoneidade do meio de comunicação) e outra é a interpretação, a crítica, o remoque, a ironia que o meio de comunicação ou o jornalista podem fazer, com todo o direito.
Com Donald Trump, a distinção desapareceu. Agora prevalece a mistura e a traço grosso.
Tudo é comentário. Desfavorável, claro, porque o jornalismo agora é só "causas".
A informação sobre os acontecimentos, sobre as políticas, sobre os factos em si, desapareceu. Agora é só a opinião, por escrito ou por imagem.
Jornalismo, isto? Não, neojornalismo. O tal que, um dia, fechará definitivamente todos os jornais e todos os empregos do sector.



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