segunda-feira, 31 de julho de 2017

Notas de prova


Comenda de San Tiago Tinto 2012 Vinho Regional Lisboa
Castelão e Aragonez
Adega Cooperativa de Arruda dos Vinhos
13% vol.
Bebido no restaurante O Melro - Pão Quente e Petiscos
Bom!

Notas de prova


Castelo do Sulco — Tinto Colheita 2015 Vinho Regional Lisboa
Syrah, Touriga Nacional, Petit Verdot
Quinta do Gradil (Cadaval)
13% vol.
Bom!

O vácuo do "Expresso"



O "Expresso" seleciona, destaca, avalia e critica filmes, livros, peças de teatro, pessoas da moda, das suas amizades (ou nem por isso) e do melhor que se puder arranjar, vinhos e chefs, restaurantes e acontecimentos e irrelevantes. Tem opinião sobre tudo e mais alguma coisa. 
Mas depois chegamos à televisão e o que se vê é uma espécie de vácuo: são só promoções. E só a algumas séries, e não necessariamente às melhores. Porque será?



Pedro Passos Coelho: o estadista com azar

É possível que Pedro Passos Coelho não volte a ser primeiro-ministro. E acrescento já: infelizmente. 
As sondagens (mas só de duas empresas) dão o PSD como constantemente em queda. Parte significativa do eleitorado (onde tem peso fundamental a função pública, já beneficiada com acréscimos salariais constantes pelo actual Governo) parece preferir o PS. Uma ala significativa do PSD, que parece não ter beneficiado com Passos Coelho, sente-se mais ambientada no “bloco central” e gostaria de substituir-se ao PCP e ao BE como muleta deste PS).
Passos Coelho foi o rosto da austeridade a que o PS, em 2011, nos condenou. Ganhou bem as eleições desse ano mas talvez tivesse pensado que as coisas pudessem ser mais fáceis. Talvez esperasse que o PS assumisse as responsabilidades que teve na bancarrota. Mas não foi o caso.
Manteve-se, no entanto, firme e determinado, não cedeu a um homem como Ricardo Salgado e é legítimo pensar que também deve ter dito “não” a outros. Não cedeu à pressão “irrevogável” de Paulo Portas. Não fugiu de férias para o estrangeiro quando as coisas corriam mal. Fazia férias no meio de toda a gente, no Algarve, e não deixou de morar (para horror da intelectualidade lisboeta e dos outros políticos da moda) num prédio de apartamentos nos subúrbios da capital.
E, quatro anos depois, ganhou as eleições. A austeridade não o impediu de triunfar em 2015. O pior foi depois. Perante a compra generalizada de apoios que o adversário derrotado soube fazer (do PCP e do BE à função pública, passando por parte da imprensa), o PSD e o seu presidente enfrentam tempos mais difíceis. O fogo de barragem da imprensa e de boa parte dos comentadores e uma gestão sem escrúpulos da comunicação política não deixaram espaço ao primeiro-ministro que ganhou as eleições de 2015. A calma, a distanciação e a determinação de Passos Coelho (que também estará fragilizado pelo seu drama familiar) não se coadunam com o frenesim mediático.
É possível que as eleições autárquicas sejam um desaire para o PSD. É possível que isso anime os adversários internos de Passos Coelho e os estimule. É possível que, sem uma crise política, só haja eleições legislativas em 2019. E que, até lá, ainda haja dinheiro suficiente no Estado para o PS continuar a comprar votos. É possível, finalmente, que tudo isto afaste Passos Coelho do Governo.
Pedro Passos Coelho afirmou-se como estadista. E o País ganhou com a sua liderança. Voltaria a ganhar se Pedro Passos Coelho voltasse a ser primeiro-ministro. É pena que um conjunto de circunstâncias infelizes pareça estar a conjugar-se para o impedir.


António Costa: o filho de Maduro e de Trump

Conheci, pessoalmente, o actual chefe do Governo quando ele era dirigente estudantil e/ou da Juventude Socialista. Trabalhando eu como jornalista (na área da educação), entrevistei-o para “O Jornal da Educação”. 
O jovem António Costa não gostou de qualquer coisa que eu escrevi e dirigiu-me um protesto, já nem sei se directo ou indirecto, fazendo saber que não falaria mais comigo. Não dei grande importância ao incidente, até porque ele não a tinha. E eu não precisava realmente do jovem dirigente como fonte de informação.
Encontrei-o, mais tarde, numa situação diferente e, tanto quanto me recordo, ele nem sequer me cumprimentou. E eu também não fui ao beija-mão.
Nunca fui capaz de ter qualquer admiração pelo seu percurso político e se, para mim, ele procedeu com deslealdade para com o secretário-geral do PS que quis derrubar, o certo é que o problema era lá com eles. Também não gostei nada da atitude do então presidente da Câmara Municipal de Lisboa quando a capital foi alagada pela chuva, há alguns anos, mas já nessa altura era eu residente em concelho bem distante.
Quando, na sequência da derrota eleitoral de 2015, Costa montou um verdadeiro golpe de Estado no Parlamento para, em aliança com os outros perdedores, se apoderar do Governo, só me surpreendeu a desfaçatez. No fundo, era uma questão de coerência.
Costa consegue alcançar os seus objectivos, como se vê. Mas numa postura típica de quem não olha a meios para atingir os fins. E se chega ao poder, o problema é, depois, fazê-lo funcionar.
Tudo o que tem acontecido, e em especial desde o incêndio de Pedrógão Grande (cujas mortes são a melhor prova do vazio efectivo de uma governação como a de Costa), ficou bem claro que este homem não é um estadista.
Arrogante, autoritário, misturando uma espécie de fé vagamente ideológica com a ausência de escrúpulos perante os adversários e, até, perante a imprensa que não o serve, é uma mistura perigosa de um Maduro venezuelano com um Trump americano.
Se a natureza concedesse a estes dois a possibilidade de, em conúbio, terem um filho genético, sairia um António Costa, iluminado pelo deslumbramento de ter a seus pés o PCP reformista e o BE extremista e sabendo que, com jeito, favores e apoios, ainda pode chegar a Presidente da República.
Costa é um ditador em formação. Não o merecíamos, não o merecemos.


quinta-feira, 27 de julho de 2017

Notas de prova



Quinta da Fata — Tinto 2010 Touriga Nacional (Talhão do Alto) DOC Dão
Touriga Nacional
Quinta da Fata (Vilar Seco, Nelas)
Garrafa n.º 1646
13,5% vol.
Magnífico!

Notas de prova


Pacheca— Tinto 2009 Superior DOC Douro
Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz
Quinta da Pacheca (Cambres, Lamego)
14% vol.
Bom!

segunda-feira, 24 de julho de 2017

A propósito de “Guerra de Tronos”: cristãos-novos e parolice snob



A "Guerra dos Tronos" pode ser um fenómeno de entretenimento audiovisual e de televisão em todo o mundo mas em Portugal é um fenómeno muito especifico que cai por inteiro no domínio da parolice: num extremo agitam-se os cristãos-novos do entretenimento televisivo e no outro os snobs botas-de-elástico, orgulhosos por nunca terem visto um episódio.
E, para quem sabe, a "Guerra dos Tronos" não é uma inovação em termos televisivos embora, numa perspectiva global (e só depois de terminada), até possa ser comparável à trilogia "O Senhor dos Anéis".
A produtora norte-americana HBO, que lançou esta série, já tinha feito "Roma" há 12 anos. Durou duas temporadas, escandalizou e assustou. Foi cancelada.
"Duna" (os seis romances de Frank Herbert, que parece estar a caminho da televisão) é mais sugestivo do que Maquiavel em termos políticos.
"The Wire" (2002) abordou, como nenhuma outra série ou filme de longa-metragem, os vários aspectos (droga, política, imprensa, sindicalismo, etc.) das sociedades modernas.
"Prison Break" (2005), delirante na história, foi um marco na definição da narrativa televisiva.
"Big Little Lies" (2015) é uma crónica contemporânea com tempo para respirar, tal como "The Night Of" (2016) se deu ao luxo de filmar silêncios com toda a calma do mundo, o que seria praticamente impossível no cinema.
E há "House of Cards" (2013), delirante mas ilustrativo. Ou o shakespeareano "Sons of Anarchy". E tantas outras séries…
O audiovisual mudou radicalmente. A famosa realizadora Jane Campion, que já se estreou na televisão (com a série “Top of the Lake", a que acrescenta agora uma segunda temporada) disse à “Total Film” (edição de Agosto): “É tão excitante na televisão: pode-se dizer o que raio se quiser. E não há problema. No cinema, insistem e insistem: ‘Oh, meu Deus, disse mesmo isso? É tão agressiva!’”.


O que cá não se vê

A televisão contemporânea, em matéria de ficção, é isto e muito mais, da narrativa às histórias, da liberdade de temas à fantasia mais desbragada, da qualidade absoluta às histórias mais fantásticas.
O cinema em geral está hoje, no que se refere aos conteúdos, numa encruzilhada. O cinema "mainstream" raramente mostra filmes acima da média. O cinema independente procura colmatar-lhe as brechas, mas anda atrás da tendência maioritária. A televisão é hoje o elemento audiovisual mais inovador e de maior futuro.
Claro que não é isso o que cá se vê. O panorama da produção televisiva nacional é deprimente. A imprensa vive à conta das promoções das distribuidoras de cinema e ignora o resto. Os críticos de cinema existentes, que vivem à conta dos "visionamentos", fazem gala em ignorarem a televisão. Enaltecem as virtudes das salas às escuras, dos "dark rooms" do prazer cinéfilo. O resto não vêem, não conhecem. Mas já os houve, profissionais e atentos.
Ver as séries de televisão não tem mal. Não faz mal a nada.
As boas séries correspondem, como “The Wire” bem mostrou, à narrativa dickensiana. A televisão de ficção é uma irmã da literatura de ficção. Dão-se bem, e até se complementam. Há sequências perfeitas, interpretações admiráveis, narrativas enleantes, temas para todos os gostos. E qualidade, muita qualidade, em quase tudo.
Vá, vejam televisão, vejam a “Guerra dos Tronos”, mas também “The Walking Dead”, “Billions” ou “Arrow”. Entretenham-se.
E sem preconceitos, já agora, que é coisa com que muitos "opinion makers" disfarçam a sua parolice.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

3263





O número de alunos tem vindo a diminuir e tem vindo a diminuir pela mais simples das razões: os portugueses e os imigrantes cá radicados em idade de procriar não fazem mais filhos. E também não se supõe que figuras como o "chefe" Costa, a actriz Catarina e o camarada Sousa sejam afrodisíacas. 
As escolas portuguesas não precisam de mais professores. Precisam, sim, de estabilidade, de boas práticas de gestão e de autoridade interna (para com os seus próprios alunos) e externa (para com as famílias dos alunos que largam as crias nas escolas como quem as arruma por umas horas).
Quem precisa de mais professores é a Federação Nacional dos Professores (Fenprof), organização sindical ligada ao PCP, que tem vindo, e desde há muito, a perder associados e, com isso, dinheiro. Já não cativando os professores dos escalões superiores (a quem nada têm a oferecer), olham com ar guloso para os novos, os "contratados", de onde esperam receber a devida paga em quotizações sindicais.
E, já agora, convém não esquecer uma coisa: os encargos do Estado com professores que não são necessários nas escolas desvia recursos financeiros que podiam ser aplicados no descongelamento das carreiras de que já está há muitos anos "nos quadros". Mas com estes a Fenprof já não prospera...

Notas de prova


Cavalo Negro — Tinto 2015 Premium Vinho Regional Tejo
Touriga Nacional, Alicante Bouchet e Aragonez
Parras Wines (Alcobaça)
13,5% vol.
Muito bom.

Notas de prova


Evidência — Tinto 2015 DOC Dão
Alfrocheiro, Tinta Roriz e Touriga Nacional
Parras Wines (Alcobaça)
12,5% vol.
Bom!

Notas de prova


Barão de Vilar — Tinto 2009 Garrafeira DOC Douro
Touriga Nacional, Touriga Franca e "castas de vinhas velhas"
Barão de Vilar (Santa Comba da Vilariça)
14% vol.
Bom!

segunda-feira, 17 de julho de 2017

A porcaria dos BTTs

Não têm emenda: espalham as fitas de plástico por todo o lado, fazem-se de amigos da natureza e do ambiente porque andam de bicicleta e depois deixam ficar o rasto do lixo, talvez cansados demais pelo enorme esforço que fizeram a ajudar a "salvar o planeta".

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Ler jornais já não é saber mais (25): a arte perdida dos títulos (2)

Não se percebe se o canibalismo decorre (parte de, com "parte" do verbo "partir") do ritual ou se "faz parte" do ritual. É no "DN" e, claro, que importa, se ninguém vê?







Ganda... título no abandalhado "DN"!
É tipo: "É porreiro fazer férias mais curtas e várias vezes... O quê? Não acreditam?! HÁ PROVAS CIENTÍFICAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"
E depois querem mesmo que haja gente a comprar jornais com isto?

Foto de Pedro Garcia Rosado.


Ou com charadas deste género:




Ler jornais já não é saber mais (24): "É oficial"...

Não há, pela insistência com que é usada, uma frase mais estúpida na débil imprensa nacional do que o "É oficial".
É como se quem escreve, e quem titula, precisasse de se ancorar numa qualquer declaração formal e pública para garantir que o que divulga é mesmo verdade porque, de outro modo, quem é que poderia realmente acreditar?...
Isto diz muito da falta de convicção e de credibilidade da imprensa em geral (e da falta de imaginação dos jornalistas!) que estão na origem, em grande medida, do seu evidente declínio.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

A propósito das minhas notas de prova

Sou apreciador de vinho e enófilo há muitos anos e consumo vinho regularmente. Já provei e bebi muitos vinhos e, sem perder a recordação dos melhores, ainda não tinha tentado fazer uma tabela que também me permitisse manter uma memória.
Isto e o convite que me fez o meu amigo Alfredo Prado, director do portal de informação económica luso-brasileira Portugal Digital, para escrever regularmente sobre vinhos neste meio de comunicação, levaram-me a abrir neste meu blogue a secção das Notas de Prova.
Nelas figuram os vinhos de qualidade mais destacada que fui bebendo.
Nestas notas também não figuram todos os vinhos que fui provando e, em alguns casos, sem sequer os beber por não gostar deles. A classificação que introduzi é, como todas, subjectiva mas retrata a minha apreciação. Têm, depois disso, o essencial: o nome, a origem, a data, as castas, a região e a graduação. É o mínimo.
E há um pormenor fundamental: todos estes vinhos aqui mencionados são comprados por mim (ou oferecidos no âmbito familiar e das minhas amizades). Não figura aqui uma única oferta de empresas.
Isto circunscreve, naturalmente, os vinhos provados ao limite dos custos que estou disposto a suportar mas dá-me uma rigorosa independência de opinião.

domingo, 9 de julho de 2017

Desolação



Alcobaça, sábado, dez horas da noite.
No Mosteiro de Santa Maria ergue-se (e repercute-se por toda a sua nave central) a música coral de Domingos Bontempo. A fachada do mosteiro está mal iluminada e têm mais luz as suas paredes laterais, o chão de terra em redor do monumento pode ser "típico" mas não ajuda. Apesar disto, assistir a este espectáculo de entrada livre, mesmo que só por instantes, é quase sublime.
Mas, quando se voltam as costas ao mosteiro, o que se vê é deprimente.
Alcobaça pode ser uma cidade animada, talvez cheia de visitantes durante o dia, com pastelarias, restaurantes e lojas talvez a fervilharem de clientes. À noite, porém, é uma cidade quase morta. Mesmo agora, no Verão.
As esplanadas estão vazias, há restaurantes fechados, as lojas (mesmo aquelas que cativariam visitantes ocasionais) estão fechadas, a famosa pastelaria Alcoa está fechada.
Esta imagem de uma cidade desolada não é caso único. Mas o cenário imponente do mosteiro justificaria outra animação.
Poderão dizer, autoridades municipais e comerciantes, que não abrem lojas e outros espaços porque não se justifica. Mas talvez seja necessário fazer ao contrário: abrir, arriscar, insistir, perseverar. O caminho do desenvolvimento é este.

Notas de prova



Castelo do Sulco (Seleção dos Enólogos) — Tinto 2014  Vinho Regional Lisboa
Aragonez, Syrah e Petit Verdot
Quinta do Gradil (Cadaval)
13% vol.
Muito bom.

Notas de prova




Margaça — Tinto (sem data) 
Sem indicação de castas
Sociedade Agrícola de Pias (Pias)
13,5% vol.
Bom!

quinta-feira, 6 de julho de 2017

O Rosé da Tia

  



Um empresário da restauração, bastante criativo e percebendo a certa altura que a venda de vinho a copo no seu restaurante popular não era tão lucrativa como vender garrafas inteiras com os preços inflacionados a 200 por cento, começou a fazer uma experiência: foi aproveitando os restos das garrafas que ficavam por beber para, misturando-os (tintos com tintos e brancos com brancos), servir de novo em copo e em jarro, como se fosse vinho de bag-in-box.
Como os clientes são, por norma, mais curiosos com as origens e os rótulos das garrafas do que com os vinhos servidos a jarro e copo, respondia em termos genéricos com “Palmela”, “Alenquer” ou “Alentejo”, se alguém fazia perguntas sobre o “pedigree” desses vinhos. E toda a gente tomava a resposta como boa.
Quando o calor começou a apertar, e ao ver aumentar as propostas dos fornecedores de ter à venda mais vinhos rosés, lembrou-se de levar mais longe a sua criatividade. Começou por reunir restos de tintos e de brancos, em separado, para depois, numa primeira experiência, os ir despejando para um jarro de vidro transparente, em quantidades iguais. A cor foi evoluindo, consoante o equilíbrio dos vinhos: castanho claro, amarelado, cor de salmão, cor de rosa, bordeaux…
Comparou o resultado final da sua mistura com a cor dos rosés engarrafados (mais a tender para a cor de salmão) e achou-a a satisfatória. Feita a coisa a olho, não mediu as quantidades para ter uma receita única, mas achou que chegava.
Só faltava um pormenor: o gosto. Os rosés têm um sabor adocicado que não aparecia no seu rosé improvisado, nem mesmo se misturasse mais vinhos alentejanos. Acrescentaria açúcar? Não, podia correr o risco de transformar a coisa em sangria. E moscatel? Talvez. Pouco alcoólico, com um tom doce equilibrado, de gosto mais conhecido graças ao limão e por isso, não o tendo, de presença mais discreta.
Deitou fora parte da mistura e acrescentou moscatel. Com cuidado, para não desequilibrar o resultado. E, da cor ao gosto, obteve o rosé perfeito. Bem fresco, sairia bem. Ou não?
Começou a promover o seu rosé «caseirinho» junto de alguns clientes mais assíduos. Vendido a jarro, muito fresco, saiu realmente bem. Quando lhe perguntavam pela origem, remetia, para variar, para a zona de Pegões (Setúbal, de onde, aliás, provinha o moscatel).
Um dos seus clientes, mais cuidadoso na escolha dos vinhos, provou-lhe o rosé quando a sua companhia de jantar quis beber um copo de rosé, até gostou e ficou intrigado. Fez perguntas ao nosso empresário, sobre a origem, a região, a marca. O inventor do rosé esquivou-se até onde pôde e, por fim, viu-se mesmo obrigado a responder.
Alto, rotundo, em geral amável mas de gestos bruscos e bastante liberal na linguagem depois das horas de fecho, o empresário fitou o cliente e atirou-lhe: “É o Rosé da Tia!”
O cliente hesitou. E depois, juntando os seus conhecimentos básicos de vernáculo à boa imagem da única tia que ainda lhe restava e que muito estimava, retirou-se em boa ordem. E nunca mais voltou à casa de pasto.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Em resumo...

Há duas semanas e meia morreram 64 pessoas num incêndio no centro do País, que deixou um rasto de prejuízos, feridos (mais de 200) e devastação como nunca antes se vira. Os responsáveis do Ministério da Administração Interna, do topo à base, andaram descontrolados. O Presidente da República disse que era o melhor que se podia fazer e depois tentou emendar a mão. Foi, praticamente, a última vez que apareceu em público o ainda primeiro-ministro. Os seus parceiros PCP e BE perderam o pio, mais ou menos ao mesmo tempo.
Uma semana depois, o primeiro-ministro mandou fazer um estudo de opinião, achou que toda a gente estava satisfeita com ele e pirou-se para férias, para uma ilha espanhola. Entretanto, os mortos continuaram mortos, o rasto de destruição continua à vista de todos e o Presidente da República começou também a perder o pio. A ministra da Administração Interna fez saber que o incêndio florestal tinha sido grande, verteu umas lágrimas parlamentares e deixou que se generalizasse a guerra civil entre os organismos sob o seu comando.
De um paiol militar desaparece, neste rescaldo, uma impressionante quantidade de material de guerra que dá, entre outras coisas, para guerrilha urbana, atentados terroristas e crimes (mesmo) violentos. O ministro da Defesa disse que já tinha havido roubos piores, o chefe do Estado-Maior do Exército afasta meia dúzia de oficiais intermédios e fica todo contente. Mas o oficialato reage mal ao afastamento dos seus camaradas sem culpa formada. O comandante-chefe das Forças Armadas, que é o Presidente da República, perde de vez o pio.
O primeiro-ministro continua de férias e em silêncio. O PS, formalmente, diz que a culpa de tudo é do Governo anterior, apesar de ter sido o actual Governo que já aprovou dois Orçamentos de Estado (com sortes em toda a máquina do Estado… e nos dispositivos de segurança da Defesa). O PCP e o BE continuam mudos. O Presidente da República suspira que só ele é que não pode ir de férias e diz que trata dos assuntos domésticos com o ministro dos Negócios Estrangeiros, como substituto do veraneante, que fez saber que andava a tentar recuperar o material roubado, talvez através do OLX.
Entretanto, o exame de Português é previamente conhecido por uma parte dos alunos sujeitos a exame, que com isso terão maiores possibilidades de obter melhores notas para entrarem no ensino superior, ao contrário dos seus colegas que de nada souberam. Para o ministro da Educação, que não gosta de exames nem de avaliação de conhecimentos, está tudo bem.
E o primeiro-ministro, não fosse alguém pensar que fugira, até se viu obrigado a confirmar que tinha ido de férias.
Este tipo de descontrolo costuma acontecer no final dos ciclos governamentais e é habitual chamar-se-lhe “fim de regime”. Este governo tem ano e meio de existência. Soube governar pela negativa. Não sabe governar pela afirmativa. Nem tão pouco gerir crises. Há quem considere o primeiro-ministro um sobrevivente. É, sim, um fugitivo, incapaz de dar o peito às balas. E nisso está bem acompanhado.




(Publicado no Tomate.)

segunda-feira, 3 de julho de 2017

3 meses


Tinta Ferreira (PSD, actual presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha), Rui Patacho (PS) e Rui Gonçalves (CDS): a três meses das eleições autárquicas, já se sabe que Tinta Ferreira (infelizmente) ganha. A seguir, o importante será apurar quem fica em segundo lugar e quem é que vai recuperar os votos dos "independentes" de 2013.
São estes os protagonistas das eleições autárquicas em Caldas da Rainha, que se realizam no próximo dia 1 de Outubro. Não há outros.

Mais traduções minhas


Temas e Debates/Círculo de Leitores



("It Seemed Like a Good Idea")
Clube do Autor



("Das Erbe der Welt")
Círculo de Leitores



("Det grovmaskiga nätet")
Topseller



("Grit: The Power of Passion and Perseverance")
Vogais

sábado, 1 de julho de 2017

Tal como previ...


... aqui e segundo a "Gazeta das Caldas", o Ministério Público abriu uma investigação às contas da Junta de Freguesia da Foz do Arelho. O desfecho é óbvio.





E, já agora, uma perguntinha: o MVC (que quis limpar-se, enlameando o "seu" presidente) andou tão de cabeça no ar que nunca percebeu o que se passava, até outros o descobrirem?